Ambiente

Avanço do uso do carvão ameaça Grande Barreira de Corais

Caroline Taïx, Flavie Holzinger e Véronique Malécot

O maior conjunto de corais do mundo está sendo colocado diretamente em risco pelas escolhas do governo australiano a favor do uso do carvão

O Estado de Queensland, no nordeste da Austrália, parece ter sido privilegiado pela natureza. Ao mar, temos a Grande Barreira de Corais, o maior agrupamento de corais do mundo, classificado desde 1981 como Patrimônio Mundial da Unesco. À terra, esse Estado abriga algumas das maiores reservas do mundo de carvão, o que representa uma dádiva financeira para a Austrália, que é a segunda maior exportadora mundial desse minério.

Mas, com o aquecimento global, essas duas riquezas parecem ter se tornado inconciliáveis, e o governo australiano está sendo acusado de ter tomado partido do carvão, que é uma das fontes de energia mais poluentes que existem.

Em 30 anos, a Grande Barreira de Corais perdeu mais da metade de seus corais. O aquecimento climático é a principal causa, segundo os cientistas, e em especial a acidificação dos oceanos. O oceano absorve quase 30% das emissões de dióxido de carbono oriundas das atividades humanas e o CO2, ao se dissolver no oceano, o torna mais ácido.

Muitos organismos marinhos são muito sensíveis à acidez da água; é o caso do coral, um dos ecossistemas marinhos mais ricos e mais complexos, também fonte de renda para as populações locais e proteção natural contra oscilações climáticas. Ainda que o problema esteja acima da capacidade da Austrália, os ambientalistas acusam o país de agravá-lo com sua política de uso excessivo do carvão.

3 mil navios em 2014

Tony Abbott, liberal que ocupou o cargo de primeiro-ministro até setembro, foi alvo da ira dos defensores ambientais um ano atrás ao proclamar que o carvão era "bom para a humanidade".

Em outubro, Canberra deu autorização para a mina Carmichael, na Bacia de Galilee, um imenso projeto de mais de 16 bilhões de dólares australianos (R$ 42 bilhões) tocado pela indiana Adani.

Esse grupo promete que Carmichael criará 10 mil empregos e gerará bilhões de dólares ao Estado através de uma produção de 60 milhões de toneladas de carvão por ano, números contestados pelos opositores, uma vez que o preço do carvão vem caindo.

Com o tempo, a mina de carvão será uma das maiores do mundo. O projeto prevê quase 200 km de ferrovias entre a mina e o polêmico porto de Abbot Point, situado na Grande Barreira de Corais, que deve se tornar o maior porto do mundo para a exportação de carvão.

Em 2014, quase 3 mil navios percorreram as águas da Grande Barreira, criando riscos de contaminação; e o tráfego deverá dobrar dentro de dez anos caso Abbot Point se desenvolva como o previsto.

Os defensores do meio ambiente denunciam o impacto da exploração do carvão sobre o clima mundial. Segundo o Greenpeace, se a Bacia de Galilee atingir sua capacidade máxima de produção, ela poderá representar até 705 milhões de toneladas de CO2 por ano, ou seja, quase o mesmo tanto que a Alemanha, sexta maior emissora mundial de dióxido de carbono.

No final de outubro, cerca de 60 personalidades australianas pediram às nações que se reunirão durante a conferência mundial sobre o clima (COP21) em dezembro, em Paris, para que negociem uma moratória sobre o carvão, uma proposta logo rejeitada pelo novo premiê, Malcolm Turnbull, líder do Partido Liberal, que acredita que "tal medida não terá nenhum impacto sobre as emissões mundiais".

E acrescenta: "Se a Austrália cessar suas exportações, os países que compram nosso carvão irão simplesmente comprar de outro lugar".

Tradutor: UOL

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