Egito em estado de alerta cinco anos após a revolução na praça Tahrir

Hélène Sallon

Enviada especial ao Cairo (Egito)

  • Asmaa Waguih/Reuters

    3.jun.2014 - Egípcios erguem bandeiras nacionais após divulgação da vitória do ex-chefe do Exército Abdel Fattah al-Sissi nas eleições presidenciais, na praça Tahrir

    3.jun.2014 - Egípcios erguem bandeiras nacionais após divulgação da vitória do ex-chefe do Exército Abdel Fattah al-Sissi nas eleições presidenciais, na praça Tahrir

Agitação do regime diante das celebrações do 25 de Janeiro mostra seu medo de um descontentamento popular

Tanques foram posicionados em torno da praça Tahrir, símbolo da revolução egípcia, e reforços policiais foram distribuídos pelas ruas do Cairo e perto de instalações vitais do país. Na segunda-feira (25), o Egito estava em estado de alerta máximo. Dos programas de entrevistas na TV até os sermões de sexta-feira nas mesquitas, a ameaça do "caos" foi agitada por ocasião do quinto aniversário da revolução de 2011, que precipitou a queda do presidente Hosni Mubarak após 30 anos no poder.

"Medidas preventivas" foram tomadas para frustrar qualquer manifestação de militantes pró-revolucionários ou de simpatizantes da Irmandade Muçulmana. Por exemplo, foram realizadas revistas em mais de 5.000 apartamentos, principalmente no centro do Cairo, e foram fechados pontos artísticos e culturais, como a Townhouse Gallery e o Teatro Rawabet, no Cairo, considerados focos de contestação.

"É ridículo", comenta o jornalista Khaled Dawoud, ex-porta-voz do partido revolucionário Al-Dustour.

A situação é ridicularizada até mesmo por jovens militantes, para quem uma nova revolução não é uma questão de data. "Essa grande encenação é destinada a reforçar na cabeça das pessoas a ideia de que o 25 de Janeiro é um dia de caos e a manchar mais a imagem daqueles que o seguem."

Desde a experiência infeliz da Irmandade Muçulmana no poder, a memória do 25 de Janeiro tem sido atacada, e seus apoiadores, vilipendiados. Para a maioria da população, a revolução de 2011 agora parece um complô urdido por agentes de outros países para levar os islamitas ao poder e dividir o Egito. No seu lugar está sendo glorificada a "revolução de 30 de junho" de 2013, dia das grandes manifestações que levaram à destituição do presidente islamita Mohamed Mursi e à volta ao poder do Exército e seu líder, Abdel Fattah al-Sissi, eleito presidente em maio de 2014.

"Excesso paranoico"

Em um discurso à nação feito no domingo (24) à noite, o presidente Sissi se colocou como unificador, honrando tanto a revolução de 25 de Janeiro e seus 850 "mártires" quanto a de 30 de junho, que permitiu colocar a revolução de volta nos trilhos, contra aqueles que queriam se apropriar do país.

Para os nostálgicos da praça Tahrir, essas palavras não foram suficientes para reanimar as esperanças há muito tempo esfriadas pela presidência de Sissi. A repressão contra os simpatizantes dos islamitas no verão de 2013 causou mais de 1.400 mortes, e 15 mil simpatizantes foram jogados na prisão, bem como quase toda a direção da confraria, centenas de membros foram condenados à morte e os outros levados a se exilarem ou a se esconderem na clandestinidade. Essa repressão logo se estendeu aos militantes pela democracia e pelos direitos humanos, dos quais centenas foram presos.

Desde 2013, a polícia vem demonstrando tolerância zero com os manifestantes pró-democracia, que arriscam suas vidas saindo às ruas, como a ativista Chaymaa al-Sabbagh, assassinada em janeiro de 2015. Este quinto aniversário foi acompanhado de uma nova onda de prisões entre os militantes revolucionários e islamitas.

Somente o movimento da Irmandade Muçulmana, e mais particularmente uma de suas facções que defendem o confronto com o regime Sissi, convocou manifestações contra o golpe de Estado de 2013. Os observadores, no entanto, não esperam por protestos de grande escala, a não ser em certos bastiões da Irmandade Muçulmana.

Os militantes políticos e dos direitos humanos há muito tempo desistiram de se mobilizar nas ruas diante daquilo que eles descrevem como uma volta do Estado policial. "A contrarrevolução começou pouco tempo depois da saída do presidente Hosni Mubarak. O golpe decisivo foi dado em 2013. Por enquanto, está claro que os atores contrarrevolucionários passaram à frente", analisa H.A. Hellyer, pesquisador associado do Atlantic Council e do Royal United Services Institute, em Londres.

As organizações Human Rights Watch e Anistia Internacional acreditam que a situação dos direitos e das liberdades se deteriorou gravemente durante o governo de Sissi, em 2014 e 2015, citando uma longa lista de abusos como tortura, maus tratos e desaparecimentos forçados, e medidas repressivas justificadas pelo combate ao terrorismo e à ameaça jihadista.

Uma contra-ofensiva midiática foi lançada nas redes sociais no dia 20 de janeiro pelo Ministério das Relações Exteriores, com a hashtag #Egyptisbettertoday ("O Egito está melhor hoje").

A agitação do regime diante das celebrações de 25 de Janeiro, no entanto, revela sua preocupação com o aumento do descontentamento popular. "Existe por parte das autoridades uma falta de confiança, um excesso paranoico pelo qual elas procuram justificar o uso da repressão e a piora da economia", acredita Khaled Dawoud.

No domingo, o presidente Sissi novamente pediu para que a população tivesse paciência, por acreditar que "as experiências democráticas não amadurecem do dia para a noite, mas através de um processo cumulativo e contínuo".

Tradutor: UOL

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