Com massacre em Orlando, comunidade gay volta a temer violência

Corine Lesnes

As conquistas dos últimos anos, incluindo o casamento homossexual, haviam trazido um sentimento de segurança

Em novembro de 1978, o conselheiro municipal de San Francisco, Harvey Milk, 48, um dos primeiros políticos americanos a assumir sua homossexualidade, foi assassinado no gabinete do prefeito, George Moscone. No domingo (12), algumas horas após o tiroteio de Orlando, foi na Praça Harvey Milk, no bairro do Castro, o coração gay de San Francisco, que milhares de pessoas se reuniram em luto, com seus smartphones fazendo as vezes de velas e bandeiras arco-íris a meio mastro.

"Achávamos que nosso trabalho estava feito porque havíamos conseguido o direito ao casamento. Mas não é o caso", lamentou David Campos, membro do conselho municipal de San Francisco.

Assim como ele, muitas vítimas da casa noturna Pulse, em Orlando, eram gays e latinos.

"Sejamos claros, esse foi um ataque contra a comunidade LGBT", lamentou Scott Wiener, outro conselheiro municipal que representa o Castro, bairro onde as faixas para pedestres são pintadas nas cores do arco-íris. "Esse ódio contra os gays precisa acabar."

Do assassinato de Harvey Milk até o de Matthew Shepard, um estudante de 21 anos torturado em 1998 em Laramie, no Estado do Wyoming, a longa caminhada dos homossexuais rumo à igualdade tem sido marcada por atos de violência.

Mas a comunidade nunca deveria ter enfrentado um ataque tão brutal e sangrento quanto o de Orlando. Ele erodiu o sentimento de segurança adquirido com as conquistas da última década, como a aceitação plena dos gays no Exército, a legalização do casamento gay pelo Supremo Tribunal em junho de 2015 e neste ano o reconhecimento dos direitos das pessoas transgêneros de escolher sua identidade e os banheiros que querem usar em locais públicos, uma decisão contestada por diversos Estados republicanos do Sul.

Efetivos policiais reforçados

"É a ilustração trágica dos temores sentidos com razão pelos membros de nossa comunidade LGBT em relação à sua segurança", acredita o prefeito de Dallas, Mike Rawlings, ao anunciar o reforço da vigilância da cidade.

Vários festivais gays foram realizados no domingo, algumas horas após o tiroteio de Orlando. Em Boston e em Washington, a polícia aumentou seus efetivos.

Em Los Angeles, a parada teve um clima sombrio: antes do início da 46ª Gay Pride em West Hollywood, o prefeito, Eric Garcetti, afirmou que um homem de 20 anos, James Howell, originário de Indiana, havia sido preso em Santa Monica em posse de um carro contendo três fuzis de assalto e produtos químicos que poderiam ser usados como explosivos.

Sua intenção era "assistir" ao desfile, afirmou a chefe da polícia de Santa Monica, Jacqueline Seabrooks, que primeiramente havia indicado que ele pretendia "causar danos". O prefeito afirmou que o incidente não tinha nenhuma ligação com o ataque de Orlando, e a parada aconteceu, reunindo milhares de pessoas.

A Gay Pride anual de San Francisco, uma das maiores do mundo, está marcada para o dia 26 de junho, com mais de 1 milhão de pessoas esperadas. Já no domingo, os organizadores se encontraram com os responsáveis pela polícia e pelo departamento de segurança interna para reforçar o sistema de vigilância.

Em Nova York, foi outro lugar simbólico para a luta pela igualdade que recebeu centenas de pessoas: o Stonewall Inn, bar de Greenwich Village que se tornou um símbolo dos direitos homossexuais depois que uma intervenção policial, no dia 28 de junho de 1969, desencadeou tumultos espontâneos.

Já no ano seguinte aconteceram as primeiras Gay Prides, em Nova York e em Los Angeles, em comemoração aos tumultos. Dois deputados de Nova York propuseram que o lugar entrasse no registro de parques e monumentos nacionais, ideia à qual o presidente Barack Obama seria favorável.

No domingo, em sinal de solidariedade, os manifestantes usavam flores vermelhas, sinais de paz e cartazes com as inscrições "We are Orlando" ou "NRA=Death", associando a National Rifle Association, que faz o lobby pelas armas de fogo, à morte.

Ao atacar uma casa noturna como a Pulse, de Orlando, Omar Mateen também atacou aquilo que sempre foi um refúgio para os homossexuais, longe dos olhares julgadores da sociedade: os nightclubs, descritos no Facebook pelo cronista Paul Raushenbush como "esses lugares onde podíamos amar e ser amados por quem nós somos e por aquilo que queremos ser."

Tradutor: UOL

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