Bilionários do mercado financeiro de Londres financiaram a campanha pelo "Brexit"

Éric Albert

  • Andrew MacAskill/Reuters

    O bilionário Peter Hargreaves contribuiu com 3,2 milhões de libras para a campanha do Brexit, diante de sua casa próxima a Bristol (Inglaterra),

    O bilionário Peter Hargreaves contribuiu com 3,2 milhões de libras para a campanha do Brexit, diante de sua casa próxima a Bristol (Inglaterra),

Metade das doações recebidas pelos partidários do Brexit provém de alguns investidores libertários avessos à ideia de regulação

Eles são a versão aposentada de um faroeste: carecas, barrigudos e de terno e gravata... Mas a visão de economia que eles têm é de fato a do velho oeste: a lei do mais forte.

O xerife, seja na forma de Bruxelas ou da agência reguladora britânica, incomoda esses que são ultraminoritários, mas muito ricos: algumas dezenas de gestores de hedge funds, de economistas, de corretores, cuja maior parte está financiando a campanha do "Brexit".

Entre o dia 1º de fevereiro e 22 de abril (números mais recentes disponíveis), eles contribuíram com metade dos 8 milhões de libras (R$ 40 milhões) em doações recebidas por esse campo.

Peter Hargreaves, que em breve terá 70 anos, é de longe o mais generoso. O bilionário pagou 3,2 milhões de libras à Leave.eu, o organismo oficial que faz campanha pela saída da União Europeia (UE), uma quantia que mal arranha sua fortuna, estimada em 2,2 bilhões de libras.

Em 1981, em seu quarto que lhe servia de escritório, ele criou a Hargreaves Lansdown, uma empresa de investimentos voltada para pequenos acionistas. Hoje, esta tem 783 mil clientes e administra 73 bilhões de euros. Hargreaves, que vendeu sua empresa, guarda dessa experiência de "self-made man" uma crença absoluta no empreendedorismo e em assumir riscos.

"Sentimento de liberdade"

"Acredito sinceramente que a UE esteja só dificultando a vida de todo mundo", diz.

Sobre os alertas do governo britânico, do Fundo Monetário Internacional (FMI), da imensa maioria dos economistas, que avisam que o crescimento do Reino Unido sofreria com um Brexit, Hargreaves responde que "o sentimento de insegurança é algo bom. Fora da UE, nós nos sentiremos meio isolados, e isso será ótimo".

Segundo ele, o Reino Unido será obrigado a não se acomodar e a se tornar mais competitivo.

O primeiro-ministro David Cameron retruca que é fácil demais dar lições quando se é bilionário: "A insegurança talvez seja fantástica se você é um gestor de hedge fund, mas não se você é operário em uma montadora de automóveis, ou agricultor, ou estudante."

A empresa Hargreaves Lansdown tenta se dissociar, ressaltando que as opiniões de seu fundador só dizem respeito a ele.

Niklas Halle'n/AFP
Pedestres atravessam a ponte de Waterwoo, tendo ao fundo as torres do centro financeiro de Londres

David Buik é outro desses caubóis. Aos 72 anos de idade, esse ferrenho defensor do mercado financeiro de Londres é um dos corretores mais conhecidos do grande público.

Para essa figurinha carimbada dos canais de notícias, deixar a UE seria um imenso alívio. "É claro, no começo haverá problemas. Mas ganharemos com isso um sentimento de liberdade. O mercado financeiro de Londres é forte o suficiente para resistir".

E a JP Morgan ou o HSBC, que ameaçam transferir seus negócios para outros lugares em caso de Brexit? "Eu lhes desejo ótimas férias. Vão à Europa se quiserem, mas aviso que vocês voltarão a Londres."

Segundo ele, a desregulação financeira conduzida por Londres desde os anos 1970 tornou o mercado financeiro de Londres inatacável.

"Nós dominamos o mercado do euro e do dólar nos anos 1970, abolimos os controles de câmbio, desregulamos os mercados financeiros com o "big bang", a grande reforma efetuada por Margaret Thatcher. Tenho muito orgulho daquilo que conquistamos."

Roger Bootle, de gravata, óculos quadrados de armação escura e, assim como seus congêneres, quase que totalmente careca, é o fundador da Capital Economics, um instituto de pesquisa econômica muito utilizado no mercado financeiro de Londres, que costuma prever o colapso da moeda única.

"Sair da UE será se abrir para o mundo. Veja os resultados econômicos desastrosos da Europa nas duas últimas décadas, em relação a nós, aos Estados Unidos e ao resto do mundo."

Os hedge funds também sentem estar em luta permanente contra Bruxelas, que eles acusam de tentar "asfixiar o mercado financeiro". Eles ficaram particularmente irritados desde que em 2009, logo após a crise financeira, a UE impôs uma diretiva para restringir os investimentos alternativos.

Mas os gestores desses fundos ressaltaram, com razão, que não são responsáveis pela crise dos subprimes, que vinha dos grandes bancos.

Paul Marshall, que dirige o Marshall Wace, um dos maiores fundos especulativos de Londres, está indignado.

"Em vez de uma resposta racional, baseada em fatos, a Comissão Europeia atacou brutalmente os hedge funds e deixou os bancos e seus lobistas quase intocados", ele escreveu em fevereiro em uma coluna publicada pelo "Financial Times".

Ele cita um deputado europeu belga, que teria dito: "Se você está em um bar e começa uma briga, você não bate na pessoa que começou, mas sim na pessoa em quem sempre quis bater".

Para Marshall, Bruxelas está tentando matar o mercado financeiro de Londres, e ele responde aplicando a mesma lógica à UE, votando a favor do Brexit.

Tradutor: UOL

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