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Viral mostra construção de estação de trem em 9 horas, mas não é bem assim

Henry Grabar

06/02/2018 15h22

No vídeo viral de 64 segundos, 1.500 trabalhadores no leste da China trabalham a noite toda para substituir um trecho dos trilhos como parte da reforma de uma estação. Eles levam apenas 8 horas e meia. O clipe de 20 de janeiro teve ampla repercussão graças em parte a um erro de tradução, que anunciou a façanha como uma estação ferroviária inteira, em vez de apenas uma troca de trilhos. Para os americanos, irritados com empreiteiras — que levam meses para consertar uma escada rolante quebrada e como Donald Trump colocou na terça-feira à noite (6), um governo que leva dez anos para emitir uma autorização para construir uma estrada —, isso foi um balé de ferramentas poderosas. Uma estação de trens em uma noite; o que eles não fariam em uma semana?

O vídeo, postado por uma empresa de mídia chinesa, simboliza um tema em ascensão na China: podemos construir coisas mais depressa e melhor que vocês. A posição da China no exterior é cada vez mais associada a seus projetos de construção, especialmente na Ásia Central (onde Xi Jinping está gastando US$ 150 bilhões por ano no projeto comercial Um Cinto, uma Estrada) e na África (onde a ajuda da China em projetos grandiosos redefiniu a diplomacia, nem sempre para melhor).

No país, o trem de alta velocidade se recuperou das primeiras lutas com os usuários, de um enorme escândalo de corrupção e de um acidente mortal em julho de 2011. Hoje ele é um símbolo feliz de prosperidade e modernidade, unindo dezenas de grandes centros populacionais e superando em muito o setor aéreo doméstico.

Mas, voltando à história real por trás do vídeo: embora os trabalhadores não estejam construindo uma estação inteira (eles não podem fazer o concreto secar mais depressa que qualquer outra pessoa), é uma renovação crucial na interligação — um lugar onde os trens podem trocar de trilhos — perto da estação principal de Longyan, uma cidade de porte médio em Fujian, para receber uma nova linha de alta velocidade. 

Reunir 1.500 trabalhadores, duas dúzias de pás mecânicas e várias peças de máquinas especiais para ferrovias não é só para mostrar, porém. A estação é movimentada durante o dia, explicou Thomas Huang, um consultor de transportes em Xangai. Isso significa que reconstruir em um ritmo normal perturbaria muito o tráfego. "Todo o projeto foi preparado em dois meses", ele me contou. "Não é comum na China, mas também não é o primeiro."

O que torna possível esse evento ferroviário à meia-noite, além da lei trabalhista chinesa? Um grande fator é a construção pré-fabricada. Em um ponto, você pode ver trabalhadores basicamente colocando no lugar uma linha férrea totalmente montada. Isso reflete uma prática burilada em toda a rede de alta velocidade do país, que já tem 15 anos: fazer a base de concreto para os trilhos em postos temporários perto do local da construção. O que parece à primeira vista ser a montagem instantânea de mil partes ocorreu basicamente fora do lugar, longe das câmeras, e durante o dia.

Os EUA também fazem coisas interessantes com construção modular, como montar guindastes muito depressa. Mas a China levou a técnica a novas alturas: a firma chinesa Broad Group construiu uma torre de 57 andares em 19 dias usando partes pré-fabricadas.

Mas uma outra coisa está acontecendo aqui. Os chineses agora têm mais ferrovias de alta velocidade (mais de 20 mil quilômetros) que o resto do mundo somado, para não falar nas redes de metrô que crescem como fungos. Uma consequência disso foi o desenvolvimento de uma enorme quantidade de perícia, que se reflete em capacidade humana, equipamentos e instalações de última geração e muitas empresas qualificadas. Está muito longe da cidade de Nova York, por exemplo, que tem de lidar com os mesmos candidatos subqualificados repetidamente e abrir novas fábricas para encomendar seus vagões.

Enquanto outros países usam os trilhos prefabricados, disse Gerald Ollivier, especialista em transporte no Banco Mundial, a China construiu praticamente uma rede de alta velocidade igual à francesa por ano durante uma década. Esse treinamento, disse ele, "significa que muito mais empresas de construção na China são experientes em usar essas técnicas de forma rotineira". É uma lição universal que se aplica à construção de projetos além das ferrovias de alta velocidade, e além da China: a prática faz a perfeição.