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NYT: Protestos contra aumento de tarifa de ônibus atingem as duas maiores cidades do Brasil

Simon Romero

No Rio de Janeiro

14/06/2013 11h27

Os protestos por parte de um movimento cada vez mais forte que se une contra os aumentos das tarifas de ônibus balançou as duas maiores cidades do Brasil, na quinta-feira (13) à noite, a quarta vez em uma semana que os ativistas tomaram as ruas em manifestações marcadas por confrontos com as forças policiais.

Cenas do protesto em SP

Elio Gaspari: Quem acompanhou a manifestação ao longo dos 2 km que vão do Theatro Municipal à esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais
Existe terror em SP: "Ouvi um homem gritar 'orgulho, meu' à massa. Massa que, aliás, contou não apenas com jovens, mas idosos, famílias, gente recém-saída do trabalho. A transformação da ‘micareta’ veio na subida da Consolação, onde a passeata foi recebida por bombas de gás e tiros. Na correria rumo à praça Roosevelt, era explícito o temor de que a PM, que já começava a cercar o local, a invadisse com as armas". Leia mais
Ataque à imprensa: Diversos jornalistas foram feridos e presos pela polícia durante a cobertura do ato. Vídeo mostra que um grupo se identifica e pede para que não seja atingido, mas os policiais ignoram e disparam tiros de borracha e bombas de gás lacrimogênio

Parece a ditadura, diz mulher atingida pela PM

Os manifestantes são principalmente estudantes universitários, mas também ativistas de partidos políticos de esquerda, e parecem ser vagamente ligados a uma organização chamada Movimento Passe Livre, que defende quedas acentuadas ou o fim das tarifas de transporte público, que seriam financiadas pelo aumento de impostos.

Os protestos têm sido especialmente realizados na maior cidade do Brasil, São Paulo, onde os policiais prenderam dezenas de manifestantes na noite de quinta-feira. Na noite de terça-feira (11), a polícia disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo no centro antigo de São Paulo, para dispersar milhares de manifestantes que tentaram fechar avenidas importantes.

Vários jornalistas também ficaram feridos, incluindo dois repórteres que foram atingidos no rosto por balas de borracha. A polícia também prendeu pelo menos três jornalistas que cobriam os protestos, o que gerou críticas de grupos de defesa da liberdade de imprensa.

No Rio de Janeiro, na quinta-feira, mais de mil manifestantes pararam o tráfego na hora do rush em uma avenida muito congestionada. Na terça-feira à noite, os manifestantes jogaram pedras e danificaram igrejas e edifícios históricos. Protestos semelhantes também ocorreram em cidades menores, incluindo Porto Alegre, Goiânia e Natal.

Nos últimos anos, o Movimento Passe Livre vem fazendo protestos contra o aumento de tarifa de ônibus em diferentes partes do Brasil. As manifestações mais recentes se cristalizaram em torno da resistência aos novos aumentos de tarifas, mas campanhas contra as políticas de transporte público ocorrem desde a Revolta do Vintém de 1879, quando os manifestantes no Rio de Janeiro desafiaram a monarquia do Brasil por causa das tarifas de bondes.

“A alta das tarifas de ônibus foram a faísca”, disse Maurício Santoro, consultor local da Anistia Internacional. “O transporte público no Brasil é caro, inseguro e mal gerido e impacta especialmente os passageiros de baixa renda, que não têm escolha, a não ser contar com esses sistemas”.

Os protestos ocorrem em um momento delicado para os líderes políticos, que enfrentam preocupações com a alta da inflação e o crescimento econômico lento, e estão tentando promover o Brasil como um destino seguro e estável antes da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, que ocorrerão no país.

O prefeito e o governador de São Paulo estavam em Paris nesta semana fazendo lobby para que a cidade fosse escolhida como sede de uma feira internacional, a World Expo 2020. O governador, Geraldo Alckmin, chamou os manifestantes de “baderneiros” e “vândalos”, insistindo que o aumento da tarifa não seria revogado.

Marcelo Hotimsky, estudante que participou dos protestos, disse que são uma expressão da frustração. “Há questões sérias sobre mobilidade e a vida na cidade”, disse ele. Questionado sobre os episódios de violência nos protestos, ele disse: “Há uma grande tentativa de desacreditar os manifestantes, passando a imagem de que são vândalos”.

Tradução: Deborah Weinberg