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Mãe de jornalista americano raptado faz apelo ao líder do Estado Islâmico

Shirley Sotloff pediu em vídeo a soltura do filho a Abu Bakr al-Baghdadi, autodeclarado califa do Estado Islâmico - Al-Arabiya/Reuters
Shirley Sotloff pediu em vídeo a soltura do filho a Abu Bakr al-Baghdadi, autodeclarado califa do Estado Islâmico Imagem: Al-Arabiya/Reuters

Rukmini Callimachi

28/08/2014 06h01

A mãe do jornalista norte-americano mantido refém pelo Estado Islâmico divulgou na quarta-feira (26) um apelo emotivo por vídeo aos captores dele. Shirley Sotloff, a mãe de Steven J. Sotloff, um jornalista freelancer de 31 anos, direcionou seu apelo a Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do grupo Estado Islâmico e autodeclarado califa do mundo muçulmano.

Shirley Sotloff se dirigiu a Al-Baghdadi como califa e pediu a ele que exercesse seu direito de demonstrar clemência, como outros califas anteriores fizeram, desde os sucessores imediatos do Profeta Maomé.

"Eu estou enviando esta mensagem a você, Abu Bakr al-Baghdadi al-Quraishi al-Hussaini, o califa do Estado Islâmico. Eu sou Shirley Sotloff. Meu filho Steven está em suas mãos", ela começa. "Você, o califa, pode conceder anistia. Eu lhe peço que, por favor, liberte meu filho", prossegue. "Eu lhe peço que use sua autoridade para poupar a vida dele."

Al-Baghdadi, um iraquiano que foi brevemente preso pelas forças americanas em 2004, declarou um califado neste ano, depois que seu grupo capturou território no Iraque. Sua reivindicação de autoridade não foi reconhecida pelo mundo muçulmano. Ao se dirigir a Al-Baghdadi como califa, o apelo de Shirley Sotloff quase certamente é a primeira vez que um não-muçulmano reconhece sua autoridade, uma decisão que pode vir a ser controversa.

Steven Sotloff, jornalista americano em poder do EI - Reuters - Reuters
Steven Sotloff, 31, jornalista americano sequestrado
Imagem: Reuters

No ano desde que Steven Sotloff desapareceu na Síria, Shirley vinha pedindo às organizações de notícias que atendessem a um embargo completo ao seu desaparecimento, após ser instruída pelo grupo Estado Islâmico de que o filho dela seria morto se ela publicasse o caso dele.

Seus captores romperam seu próprio embargo na semana passada, quando identificaram Steven Sotloff como o próximo refém que seria morto, em um vídeo carregado no YouTube mostrando a execução de seu companheiro de cela, James Foley, também um jornalista free-lancer. Naquele vídeo, Steven Sotloff é visto ajoelhado no mesmo lugar onde Foley foi decapitado, enquanto um homem mascarado ameaça matá-lo a seguir se as exigências do grupo não forem atendidas, incluindo o fim dos ataques aéreos americanos contra o grupo.

"Como mãe, eu peço que sua justiça seja clemente e não puna meu filho por assuntos sobre os quais ele não tem nenhum controle", diz Shirley, uma professora de Miami.

Ela explica que vem estudando o Islã desde a captura dele e então desafia o grupo Estado Islâmico a seguir o caminho de seu fundador: "Eu lhe peço que use sua autoridade para poupar a vida dele e seguir o exemplo dado pelo Profeta Maomé, que protegia o Povo do Livro" –diz Shirley, uma referência a cristãos e judeus.

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Vídeo da decapitação do jornalista é autêntico, afirmou a Casa Branca
Imagem: Reprodução

Ela acrescenta que em seu estudo do Islã, ela aprendeu que ele ensina que "nenhum indivíduo deve ser responsabilizado pelos pecados de outros”. "Steven não tem controle sobre as ações do governo americano. Ele é um jornalista inocente."

Daveed Gartenstein-Ross, diretor do Centro para o Estudo da Radicalização dos Terroristas na Fundação para a Defesa das Democracias, em Washington, disse que a reivindicação de Al-Baghdadi ao título de califa é reconhecida apenas por uma minoria de muçulmanos, e o apelo de Shirley Sotloff poderia ajudar a elevá-lo aos olhos de outros –apesar de ter acrescentado que faria o mesmo se seu filho estivesse nas mãos deles.

"Baghdadi teve sucesso em exercer sua autoridade na área geográfica que ele controla na Síria e no Iraque, mas sua autoridade é extremamente pouco reconhecida além disso", disse Gartenstein-Ross, autor de um livro sobre o legado de Osama Bin-Laden.

"Isso representa um dilema para ele: está reconhecendo a autoridade dele, como também o está desafiando com base religiosa", disse Gartenstein-Ross. "O apelo visa tanto humanizar Sotloff quanto criar pressão sobre Baghdadi, e se eu tivesse um ente querido mantido como refém, é exatamente a decisão acertada. Assim que alguém está nas mãos do Estado Islâmico, suas chances de sobrevivência se forem americanos são mínimas."

Além de Steven Sotloff, o Estado Islâmico também mantém um homem e uma mulher, ambos trabalhadores de ajuda humanitária. Eles não estão sendo identificados a pedido de suas famílias.

11.ago.2014 - Cidades sob controle do Estado Islâmico no Iraque e na Síria - Arte UOL - Arte UOL
Cidades sob controle do Estado Islâmico ou sob ameaça de ataques na Síria e Iraque
Imagem: Arte UOL