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Aplicativo que rastreia foguetes em Gaza tem mais de 1 milhão de seguidores

Jodi Rudoren

De Jerusalém (Israel)

30/08/2014 06h00

Muitos israelenses e, especialmente, seus defensores no exterior vivenciaram a intensidade da longa batalha deste verão contra militantes palestinos na faixa de Gaza da mesma maneira que vivenciam grande parte da vida moderna: por meio de seus smartphones.

A cada dia de batalha, às vezes, a cada hora ou várias vezes por minuto, seus telefones piscaram ou soaram uma sirene, sinalizando um dos mais de 4.200 foguetes que voaram na direção de Israel a partir de Gaza.

Mapa Israel, Cisjordânia e Gaza - Arte/UOL - Arte/UOL
Mapa mostra localização de Israel, Cisjordânia e Gaza
Imagem: Arte/UOL

Mais de 1 milhão de pessoas já baixaram o aplicativo gratuito Red Alert (Alerta Vermelho, em inglês), a maioria após o início da operação militar de Israel no dia 8 de julho. Muitos mantiveram seus telefones na cabeceira; o aplicativo interrompeu reuniões de negócios e jantares, serviços da sinagoga e, em um caso famoso que impulsionou mais downloads, uma entrevista de televisão ao vivo com o embaixador de Israel em Washington.

“Eu simplesmente nunca o desliguei”, disse Penelope Hogan, 47, massagista que mora em Sheepshead Bay, Nova York. “Eu recebia um alerta e depois outro e depois outro, percebia que meu coração estava batendo mais rápido. Realmente [o aplicativo] me deu, se não um entendimento, uma empatia, uma pequena compreensão do que as pessoas estavam vivendo.”

O aplicativo foi desenvolvido durante o último conflito entre Israel e o Hamas, grupo militante islâmico que controla Gaza, em novembro de 2012, como uma ferramenta para os moradores das comunidades no sul de Israel, alvo da maioria dos foguetes. Ari Sprung, engenheiro de software que foi um dos seus criadores, disse que a ideia era fazer com que as pessoas que não conseguissem ouvir as sirenes reais, talvez por estarem dirigindo ou ouvindo música alta, soubessem que deveriam buscar abrigo.

Durante o conflito recente, o aplicativo tornou-se uma forma de as pessoas distantes monitorarem as batalhas em tempo real --e uma arma na guerra de propaganda.

Ligado ao sistema de comando da frente militar, o Red Alert informa aos usuários quando e onde toca uma sirene. A versão em inglês oferece oito opções de ringtones, incluindo uma que imita a chamada em hebraico de “tzeva adom”, ou cor vermelha, ouvida no sul, e duas sirenes de ataque por ar, além do que Sprung descreveu como sons mais calmos, como um despertador, acrescentados após reclamações de usuários.

O Red Alert originalmente era disponível apenas em hebraico. Ron Dermer, embaixador de Israel nos EUA, era um dos cerca de 80 mil assinantes, e seu telefone tocou durante uma audiência do subcomitê do Congresso em março. O deputado Mark Meadows perguntou depois se poderia baixar o aplicativo em inglês, por isso Dermer contatou Sprung. Agora, existem 240 mil usuários nos EUA.

Uma igreja afro-americana, em Stockton, Califórnia, ligou o aplicativo em seu sistema de som em um domingo de julho e fez um simulado de evacuação em solidariedade com Israel. A Schusterman Family Foundation, em Washington, incluiu o download do Red Alert em seu blog, sugerindo ações que os seguidores poderiam fazer para “estar com Israel”. O jornal israelense “Haaretz” informou na quinta-feira (28) que uma família de judeus franceses usou o aplicativo para se prepar para as sirenes reais antes de passarem o verão na cidade de Ashdod, no sul de Israel.

Jon Stewart experimentou o aplicativo e observou que em Gaza não há sirenes nem smartphones, e sim o que Israel chama de “batidas no telhado”, ou seja, mísseis disparados por drones.

“Dessa forma, o Exército israelense adverte os moradores de Gaza sobre bombardeios iminentes com bombardeios menores de advertência”, disse Stewart no programa “The Daily Show”. “Uma espécie de bombardeio ‘tira-gosto’.”

Dermer, que apresentou o aplicativo no Capitólio e em reuniões na Casa Branca, disse que, em geral, os produtores dos noticiários pediram que ele desligasse o aplicativo ou deixasse o telefone longe durante as dezenas de entrevistas que deu para a televisão neste verão. Mas Bob Schieffer, apresentador do programa “Face the Nation”, da CBS News, ouviu a sirene do aplicativo durante uma pré-entrevista por telefone e pediu a ele que deixasse o aparelho ligado.

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E assim foi, um alerta soou durante a entrevista, e o aplicativo mostrou um foguete indo em direção a Gedera, que acontece de ser a cidade natal da mãe de Dermer.

“Eu disse: ‘Bob, as chances de isso acontecer são uma em um milhão, que o foguete fosse para Gedera, o único lugar em Israel com mais significado para mim, pessoalmente’. E ele disse, ‘bem, realmente isso foi muito ilustrativo’”, lembrou Dermer.

“Não é o mesmo que ler no jornal que cem foguetes foram lançados ontem. A cada um você está sendo interrompido. De repente, uma sirene está soando em sua casa. Hora após hora, dia após dia. A reação humana é outra.”