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Estudo mostra o quanto Stradivari influenciou a forma do violino moderno

15.abr.2014 - Fotografia com baixa velocidade mostra David Aaron Carpenter tocando um violino feito em 1719 por Antonio Stradivari - Charles Platiau/Reuters
15.abr.2014 - Fotografia com baixa velocidade mostra David Aaron Carpenter tocando um violino feito em 1719 por Antonio Stradivari Imagem: Charles Platiau/Reuters

Stephen Heyman

03/11/2014 06h01

O formato do violino evoluiu durante seus 450 anos de história, mas um novo artigo de um cientista que analisou mais de 4.000 violinos históricos mostra o quanto a forma do instrumento foi influenciada pelo mestre luthier do século 17 Antonio Stradivari.

O estudo, publicado na revista científica PLOS ONE, de acesso livre, foi escrito por Dan Chitwood, que se descreve como um "violista aposentado" e é pesquisador do Donald Danforth Plant Science Center em St. Louis, Missouri. 

Em suas pesquisas sobre a arquitetura das espécies de plantas, Chitwood costuma usar técnicas estatísticas que permitem quantificar uma forma e compará-la com outras. Ele se perguntou se poderia usar o mesmo método para entender como a forma dos instrumentos de corda mudou ao longo do tempo.

Por US$ 150, ele obteve acesso a uma base de dados de leilões de instrumentos finos, contendo fotos da parte da frente e de trás de 9.000 instrumentos de corda – incluindo mais de 400 violinos de Stradivari, que foram vendidos por até US$ 16 milhões em leilões.

Chitwood diz que o formato de um violino afeta o som bem menos do que outros atributos – como o verniz e as propriedades da madeira - embora isso não tenha impedido os luthiers de colocarem sua identidade criativa na forma do instrumento. Assim, aponta Chitwood, a forma do violino é bem parecida com uma característica neutra na genética, que os cientistas costumam usar para traçar o caminho da evolução.

No caso dos violinos, essa evolução começou em Brescia, Itália, no final do século 16 e começo do 17, onde mestres como Giovanni Paolo Maggini ajudaram a inovar o desenho dos violinos. Mas a forma desses primeiros violinos - corpos estreitos e cantos arredondados - não ditaria a dos futuros instrumentos.

Essa honra coube a Stradivari, que trabalhou em Cremona, Itália, nos séculos 17 e 18. Ele foi o primeiro luthier da amostra de Chitwood a produzir um estilo de corpo mais largo e com cantos mais definidos. Embora o trabalho de Stradivari fosse bastante respeitado durante sua vida, sua influência só se tornou dominante a partir do século 19, quando luthiers parisienses como Nicolas Lupot e Jean-Baptiste Vuillaume passaram a copiar seu trabalho.

Qual é o som de um violino de US$ 45 milhões?

"Lupot e Vuillaume acreditavam de coração que os Stradivarius eram os melhores instrumentos já feitos", disse Chitwood. "Eles dedicaram suas vidas a descobrir coisas como segredos de família para o verniz e tentar encontrar os tipos certos de madeira que correspondessem ao dele. E é claro que achavam que a forma era importante." 

Ele acrescentou: "como resultado, Stradivari passou a dominar nossa percepção dos violinos."

É claro que esse domínio pode ser apenas um acidente da história. Em estudos bastante divulgados, muitos violinistas profissionais foram incapazes de distinguir entre os Stradivarius e violinos modernos em experimentos cegos.