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Baladas silenciosas permitem que você dance no seu próprio ritmo

22.mai.2015 - Mulher usa fone de ouvido durante festa silenciosa em South Street Seaport, Nova York - Benjamin Norman/The New York Times
22.mai.2015 - Mulher usa fone de ouvido durante festa silenciosa em South Street Seaport, Nova York Imagem: Benjamin Norman/The New York Times

Courtney Rubin

Nova York (EUA)

21/06/2015 06h01

Pouco depois do pôr-do-sol numa sexta-feira recente, o que parecia ser uma “flash mob” silenciosa ou um jogo coletivo de mímica tomou conta da praça de paralelepípedos fechada com cordões de isolamento do South Street Seaport: cerca de 300 pessoas dançavam animadamente, sem música nenhuma. Ou assim parecia.

Havia, na verdade, três DJs duelando pela atenção do público, mas suas músicas só podiam ser ouvidas através de fones de ouvido, que brilhavam em vermelho, azul ou verde dependendo de qual canal o participante escolhesse.

Era uma festa silenciosa, um fenômeno que decolou em festivais de música (Coachella, Bonnaroo), bares e casamentos, como uma forma de fazer festas sem entrar em conflito com leis de silêncio e toques de recolher — ou no caso das universidades, com os alunos que estão estudando. (A UCLA realizou recentemente uma dessas na rotunda da biblioteca, antes dos exames finais.)

É um estilo de balada para as pessoas que não querem se submeter à vontade de um DJ a noite toda e, como o participante controla o volume, também serve para quem não quer ficar com um zumbido no ouvido ou a garganta doendo na manhã seguinte.

"Eu costumava frequentar boates, mas a música é muito alta”, diz Andre Coppedge, 38 anos, que viajou com sete amigos de Allentown, Pensilvânia, até South Street Seaport. "Aqui você curte o tempo todo, e se não gostar da música, é só mudar a frequência.”

Joshua Diamond, 30, que veio com a noiva e outro casal, disse que as festas silenciosas são um ambiente “mais familiar do que as boates comuns”.

Na verdade, em respeito aos poucos menores de 13 anos que participavam, "Jump Around" do House of Pain foi editada para retirar partes ofensivas da letra.

"Nós não costumávamos fazer isso, mas fomos bombardeados de e-mails de pais quando tentamos fazer os eventos para maiores de 21 anos", disse Castel Valere-Couturier, fundador da Sound Off Experience, que administra a festa.

Aqueles que tropeçaram no evento (como aconteceu com muita gente, porque não havia uma música estrondosa para atrair as pessoas) podem ter achado que se tratava de um piquenique improvisado, um culto, ou o equivalente coletivo daquele cara que corre na esteira da academia cantando alto uma música que só ele pode ouvir.

Para um espectador sem fones de ouvido, parecia uma batalha de bandas cantando a capela, com um bando de gente pulando para cima e para baixo cantando “Jump”, de Kriss Kross, enquanto outros gritavam a letra de “This Is How We Do It”, de Montell Jordan.

Se a experiência é alienante ou integradora depende da pessoa para quem você pergunta.

“Foi a isso que nos reduzimos: dançar sozinhos”, disse Bernadette Gay, 56 anos, que, balançando os quadris e com fones de ouvido de iPhone serpenteando para fora do bolso, podia ser uma garota-propaganda clássica para o iTunes.

Gay, que trabalha para uma empresa de saúde, experimentou brevemente os canais de música da festa silenciosa, mas devolveu os grandes fones pretos sem fio, decidindo que ela mesma era a melhor DJ. (Sua escolha: o cantor colombiano Carlos Vives).

Ela acrescentou: "Eu me lembro de quando o walkman saiu. É algo que isola. Onde está a conexão com os outros?”

Mas Chanez Baali, 31, diretora de uma empresa de tecnologia de mídia no Queens, disse que costuma ir sozinha a festas silenciosas. "Você está lá no seu próprio mundinho", disse ela. "Você para de pensar sobre sua aparência, e daí perde a timidez para começar a conversar." O fator maluquice ajuda a tornar todo mundo mais acessível, diz ela.

A primeira grande festa silenciosa aconteceu em Glastonbury, na Inglaterra, em 2005. Os organizadores estavam com problemas por causa das leis que limitavam o barulho.

Embora Bonnaroo, no Tennessee, logo tenha seguido o exemplo, as festas silenciosas levaram tempo para decolar nos EUA, em parte por causa da tecnologia. Elas usavam fones de ouvido infravermelhos, que exigiam uma linha visual direta até o transmissor; quando as pessoas se mexiam, o som muitas vezes desaparecia.

"Você nunca se entregava totalmente à música porque, na hora em que o som saltava ou crepitava, você perdia o pique”, disse Ryan Dowd, um ex-gerente de turnê de bandas como Panic Widespread e Drive-By Truckers, e agora fundador da Silent Events, que organizou festas sem barulho para clientes como a Bonnaroo e Gawker Media. (Eles agora usam fones com frequência de rádio de curto alcance, que não apresentam o mesmo problema.)

Há mais de uma dúzia de empresas organizando festas silenciosas, com nomes como o Hush Concerts e ZEROdB (referindo-se a decibéis), cuja maioria dos fundadores conheceu o conceito no exterior.

Valere-Couturier experimentou a ideia à beira-mar em Israel. William Petz, fundador da Quiet Events, com sede no Queens, encontrou a ideia quatro anos atrás em um cruzeiro com a família até Bermuda.

"Minha namorada e eu pensamos: ‘isso parece muito bobo, mas o que mais tem pra fazer num navio?”

Ele admitiu que era divertido e logo investiu em 350 fones de ouvido, planejando vendê-los no eBay se o negócio fracassasse. Ele agora tem mais de 6 mil fones, reservas em lugares tão distantes quanto a China e uma noite fixa no beer garden do Bohemian Hall, no Queens, que atrai até mil pessoas.

O gerente do bar, Andrew Walters, diz que a noite é de fato uma atração. "Ele tem sua própria lista de pessoas e elas vêm só para isso", disse ele.

Os casamentos, principalmente aqueles em destinos turísticos, são um novo mercado. Dowd estima que passou de um ou dois por ano para vários por mês no ano passado, especialmente desde que a Martha Stewart Weddings aprovou a tendência em fevereiro. Além do DJ ao vivo, os convidados podem escolher entre o canal da noiva e o do noivo (depois da primeira dança, é claro).

"Você recebe telefonemas de pessoas que estão fazer casamentos muito legais em lugares como Maui e Ilhas Cayman, onde elas alugam casas e acham que têm carta branca, mas depois descobrem têm de parar às 21h", disse Dowd.

Kim Scolaro, 31, também conhecido como DJ Kharisma, disse que trabalhar nas festas silenciosas é mais difícil do que em qualquer outra festa.

"Quando você é o único DJ, você pode fazer o que quiser, pegar leve às vezes”, disse Scolaro, que trabalhou no evento do Seaport.

"Mas aqui você tem que dar o melhor de si o tempo todo. Você recebe uma resposta instantânea sobre que músicas as pessoas gostam e não gostam.” (Em alguns festivais de música, existe apenas um canal porque os organizadores não querem colocar os talentos em guerra. Mas Dowd disse que isso raramente acontece.)

De volta à pista de dança, o DJ do canal verde disse, aparentemente sem ironia: “vamos fazer um pouco de barulho”. E uma mulher gritou: “lembro de dançar essa música num bar mitzvah." (Era “Shout” dos Isley Brothers.) Uma fila de conga pareceu se formar do nada, mas uma rápida mudança de canais revelou que, na verdade, a música “Conga” de Gloria Estefan também estava tocando.