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Aziz Ansari quer jogar a internet fora

 Frederick M. Brown/Getty Images/AFP
Imagem: Frederick M. Brown/Getty Images/AFP

Stephen Dubner

30/08/2015 18h58

O comediante Aziz Ansari se desenvolveu muito desde que saiu da cidadezinha de Bennettsville, na Carolina do Sul, onde cresceu. Agora em Los Angeles depois de ganhar fama trabalhando em Nova York, ele acaba de encerrar a sétima temporada no papel do bajulador mas cativante Tom Haverford no sitcom da NBC “Parks and Recreation”. E no ano passado, o comediante de 32 anos que é filho de imigrantes indianos se tornou um dos poucos comediantes a lotar o Madison Square Garden, em Nova York, entrando para o seleto grupo de lendas do stand-up ao lado de Chris Rock e Louis C.K.

A única coisa que faltava para Ansari fazer, naturalmente, era escrever um livro. Felizmente, “Modern Romance” é muito mais que uma compilação de piadas. Na verdade, Ansari e seu coautor, o professor da Universidade de Nova York, Eric Klinenberg, produziram uma narrativa profunda das dificuldades e tribulações do namoro na era digital. O livro é uma pesquisa sociológica inteligente e extremamente cuidadosa, mas que também é muito engraçada.

Stephen Dubner conversou recentemente como Ansari sobre o livro, sua relação de amor e ódio com a internet e sobre o que tem feito para fazer o público rir. A seguir, trechos editados dessa conversa.

P: Estou curioso para saber porque você quis escrever um livro. Se eu pudesse fazer o que você faz, não sei se ia querer gastar meu tempo escrevendo livros.

R: Já haviam me convidado antes para escrever livros e, para os comediantes, geralmente essa é uma forma de ganhar dinheiro fácil: você basicamente transforma seu espetáculo em um texto e eu não queria fazer isso. (…) Eu tinha um material sobre namoros e romance, e já tinha me encontrado com alguns pesquisadores. Uma pessoa em particular, Sherry Turkle [do MIT], faz um monte de coisas sobre comunicação e tecnologia. Ela foi a uma apresentação minha em Los Angeles e nós passamos um tempão no dia seguinte conversando sobre o show e sobre como sua pesquisa tinha relação com algumas das coisas que eu falava. Assim como as mensagens de texto mudaram muita coisa sobre o namoro – e sobre esse tipo de diálogo. Eu achei aquilo tudo muito interessante.

P: Ao se aprofundar tanto em um assunto relativamente limitado, o resultado foi bastante interessante – mesmo para quem entende um pouco de literatura.

R: Para mim, a estatística mais maluca do livro é que em 1967 foi realizado um estudo em que se descobriu que 76% das mulheres disseram que se casariam com alguém por quem não se sentissem realmente apaixonadas. Agora temos tantas opções do que fazer com nossas vidas e a pessoa que queremos encontrar não é apenas alguém decente com quem possamos ter filhos. Não, agora queremos encontrar o amor das nossas vidas. Estamos tentando encontrar essa coisa maravilhosa e fugidia. Mas as pessoas não podiam se dar ao luxo de buscar isso antes.

P: Você parece ser mais tradicionalista do que a maioria das pessoas de 32 anos. Você acha que é? Caso positivo, você acha que foi influenciado por sua família, especialmente em vista do fato de que seus pais tiveram um casamento arranjado?

R: Faço parte de uma geração interessante justamente porque tenho 32 anos. Isso quer dizer que tenho um pé no mundo pós-internet. Mas ainda me lembro de uma época em que não tínhamos computadores. (…) Parte da vontade de escrever esse livro veio da frustração de muitos dos meus relacionamentos que aconteciam apenas pelo telefone, sem que eu pudesse passar tempo de verdade com as pessoas, nem tivesse experiências no mundo concreto. Isso é muito frustrante e faz a gente lembrar de uma época mais simples, antes de toda essa tecnologia.

P: Você tem alguma coisa que deveria jogar fora, mas provavelmente nunca será capaz de fazer?

R: Se eu pudesse me livrar da internet, isso seria ótimo. Eu não leio mais nada. Eu não li todos aqueles romances que são lindos e que continuaram a tocar as pessoas durante muitas gerações, como belas obras de arte que eu poderia ler a qualquer momento. Ao invés disso, eu escolho não ler. Mas eu leio a internet. Sem parar. E fico sabendo de quem falou um palavrão de cunho racial, ou vejo uma foto do que o Ludacris fez na semana passada – esse monte de coisa inútil. Eu leio tanto coisa na internet que sinto que cheguei na página um milhão do pior livro da história.

P: Se não estivesse fazendo o que faz agora, como imagina que teria sido seu futuro?

R: Provavelmente estaria triste e gordo, comendo muita comida em algum lugar.

P: Você acha que ainda estaria vivendo em Nova York, teria voltado para a Carolina do Sul, ou estaria em algum outro lugar?

R: Provavelmente estaria em Nova York. (…) Quando estava na Carolina do Sul, eu vivia em uma cidade muito pequena e realmente queria estar em um lugar maior onde as coisas estivessem acontecendo. E quando fui para Nova York (…) a coisa que mais me empolgava era a comédia, e foi aí que eu acabei entrando. Mas é bem possível que eu encontrasse outra coisa que me encantasse. Talvez eu tivesse me encantado por alguma coisa como o “Stomp” e saísse por aí batendo em latas de lixo.

(Stephen J. Dubner é coautor, com Steven D. Levitt, de 'Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo Que Nos Afeta' e 'Super Freakonomics: Resfriamento Global, Prostitutas Patriotas e Por que os Homens-Bomba Deveriam Fazer Seguro de Vida'.)