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Memorial reconta a história de avião derrubado por passageiros no 11 de Setembro

Michael D. Shear em Shanksville (Pensilvânia, EUA)

11/09/2015 06h00

Gordon W. Felt ficou totalmente imóvel, com a cabeça ligeiramente curvada, enquanto ouvia as vozes assustadas das três vítimas mortas há muito tempo no voo 93, suas palavras finais captadas por secretárias eletrônicas pouco antes do avião se chocar contra uma mina a céu aberto na manhã de 11 de setembro de 2001. 

“Isso é duro. Isso é poderoso”, disse Felt, com lágrimas caindo dos olhos durante uma visita ao novo centro de visitantes de US$ 26 milhões (em torno de R$ 80 milhões), com um museu que documenta em detalhes dolorosos o acidente, que matou 40 pessoas, incluindo seu irmão Edward Porter Felt. “Isso certamente deixará uma marca”. 

Quatorze anos depois que as pessoas a bordo do avião sequestrado da United Airlines forçaram a queda do avião, enquanto os terroristas apontavam na direção de Washington, a história deles está em exposição para centenas de milhares de visitantes que vêm para a Pensilvânia central a cada ano para visitar o Memorial Nacional do Voo 93. 

O que começou como pouco mais do que uma cerca de arame em torno de um campo de destroços, nos dias de agonia após o acidente, hoje se tornou um verdadeiro monumento nacional, financiado por uma parceria público-privada e operado pelo National Park Service. 

A criação do monumento demorou. As famílias precisaram de anos para conseguir o terreno para o memorial e ainda mais tempo para levantar o dinheiro, a maior parte de doações privadas. O concurso de design estendeu o processo ainda mais. O One World Trade Center, um edifício de 104 andares construído após o colapso das torres gêmeas em Nova York, subiu mais rápido. 

“Nós começamos literalmente de um campo, por isso demorou um pouco para construir e inaugurar a operação”, disse Felt na semana passada. 

Na quinta-feira (10/9), o centro de visitantes do memorial foi aberto em uma construção impressionante de concreto e vidro com vista para os pinheiros e o capim alto, onde o avião caiu às 10h03 da manhã, a uma velocidade de cerca de 1.000 km/h. Na semana passada, Felt, que é o presidente do grupo das Famílias do Voo 93 e foi a força motriz por trás da construção do centro, se tornou uma das primeiras pessoas a visitar seu interior.

“Eu não encontrei paz quando vim aqui pela primeira vez, em 2001”, disse Felt antes de caminhar pelas vitrines que agora preservam os restos do voo de seu irmão: fios arrebentados e queimados, fragmentos de metal curvados, uma placa de circuito amassada, um pedaço chamuscado de pano, um cartão de instruções de segurança amarrotado, um cinto de segurança, um cartão Visa utilizado por um terrorista. 

“Eu encontrei violência. Eu achei que o horror daquele dia estava em todos os lugares”, disse ele, recordando da primeira vez que as famílias foram transportadas de ônibus para o campo que havia se tornado o cemitério de seus amigos e parentes. “Agora, quando eu venho ao memorial, estou muito mais em paz. Não quer dizer que as emoções não estejam vivas. Não quer dizer que eu não tenha mais raiva”. 

Mas, acrescentou, “eu também vejo um belo cenário”.

As pessoas que chegam ao memorial são conduzidas para o centro de visitantes ao longo de um caminho de granito preto que marca precisamente o caminho final do voo 93 no dia 11 de setembro. Ao longo do caminho, elas passam por outras marcas sombrias do dia fatídico: “8h46m30s, Voo 11 da American Airlines atinge o World Trade Center”; “9h03m02s, Voo 175 da United atinge a segunda torre do World Trade Center” e “9h37m46s Voo 77 da  American Airlines atinge o Pentágono”. 

O caminho passa por um estreito entre duas paredes de concreto de 12 metros de altura, que evocam as asas de um avião, e abre-se para uma visão do grande pedregulho que hoje fica no local onde o nariz do avião bateu no solo. 

“É a maneira do arquiteto de prepará-lo para ver o local do acidente, demonstrando a trajetória do voo”, disse Jeffrey Reinbold, vice-diretor do parque e ex-superintendente de parques no oeste da Pensilvânia. “Quando você passa por essas paredes, elas são muito altas, e a abertura é muito estreita, então cria-se essa sensação de compressão; quando você atravessa a segunda parede, os campos e o local do acidente se abrem à sua frente”. 

Mas se a vista para o campo convida a contemplação silenciosa, o novo centro de visitantes insta um estudo cuidadoso. Em vitrines de exposição ao longo de 10 paredes, os curadores do pequeno museu documentam como começou o dia 11 de setembro, nas palavras de um professor local, como “uma bela manhã de setembro de céu azul”. 

Uma cópia do “Wall Street Journal” daquela manhã, uma folha do relatório matinal do Pentágono e uma cópia do registro de atividades do Congresso dão um testemunho da rotina que estava prestes a ser quebrada em Nova York e Washington. Uma parede mostra os noticiários da manhã, com os aviões batendo contra as torres do World Trade Center e o Pentágono. Outra parede mostra os milhares de aviões sobrevoando os Estados Unidos quando os ataques começaram, cada um representado por um ponto de luz verde. 

Mas a maior parte do centro é dedicada aos últimos 35 minutos do voo 93. 

Uma animação com os minutos finais do avião, feita com base nos dados das caixas-pretas da aeronave, proporciona uma sensação visual do caos no cockpit enquanto os pilotos lutavam para manter o controle do voo. 

Em outra parede, réplicas de tamanho natural dos assentos no voo 93 mostram os telefones que vários passageiros e comissários de bordo usaram ??para entrar em contato com entes queridos e denunciar a situação de emergência. 

“Um grupo está se preparando para fazer alguma coisa”, diz um passageiro, Thomas E. Burnett Jr., a sua esposa às 9h44. Às 9h58, Honor Elizabeth Wainio diz à madrasta: “Tenho que ir. Eu te amo. Adeus”. 

Edward Felt, um dos últimos a telefonarem do avião, disca 911 de seu telefone celular às 9h58, dá o seu nome e o número do voo e denuncia o sequestro. 

“Eu penso naqueles 20 minutos finais de sua vida”, diz Gordon Felt. “Sabendo o que estava acontecendo. Na maior parte, eles sabiam que iam perecer, sabiam que iam morrer de uma forma muito horrível, muito violenta”. 

Ele acrescentou: “Estou chocado até hoje”. 

O centro de visitantes também documenta o efeito que a queda teve em Shanksville, a pequena cidade rural perto do local do acidente em Stonycreek Township. Após o acidente, voluntários vigiaram o campo, tornando-se “embaixadores” do memorial. Wally Miller, o médico legista do condado de Somerset, tornou-se o administrador do necrotério de facto, protegendo-o como “cena do legista” por anos. 

“A beleza do cenário e a natureza pungente das exposições do centro de visitantes fazem deste um destino obrigatório”, disse Lisa Linden, porta-voz das Famílias do Voo 93. 

Quando os visitantes chegarem ao memorial, eles terão a oportunidade de conhecer a história das 40 almas condenadas do voo 93, cujas ações criaram o que um bombeiro de Los Angeles chamou de “um campo comum em um dia, um campo de honra para sempre”.

Tradução: Deborah Weinberg