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Três republicanos inexperientes para presidente: Trump, Carson e Fiorina

Ex-executiva da HP Carly Fiorina será a única mulher a disputar a indicação do Partido Republicano para a Presidência dos EUA - Brian Snyder/Reuters
Ex-executiva da HP Carly Fiorina será a única mulher a disputar a indicação do Partido Republicano para a Presidência dos EUA Imagem: Brian Snyder/Reuters

Nicholas Kristof

09/10/2015 06h01

Os principais candidatos à nomeação republicana para presidente nos dizem três coisas interessantes sobre os EUA

Primeiro, muitos eleitores republicanos estão tão desencantados que estão dispostos a confiar o país a candidatos --Donald Trump, Ben Carson e Carly Fiorina-- com zero de experiência em cargos eletivos ou em comando militar. Apenas dois homens foram presidentes sem experiência anterior em grande cargo eletivo ou militar, Herbert Hoover e William Howard Taft,  ambos haviam ocupado ministérios. Nenhum presidente jamais foi tão inexperiente quanto esses três principais candidatos republicanos.

Em segundo lugar, o público sente uma admiração ímpar por diretores executivos e parte do princípio que eles sabem fazer as coisas, mesmo quando seus históricos sugerem o contrário. Essa reverência cultural por diretores executivos talvez explique também por que os pacotes de remuneração aumentaram -- e por que Fiorina foi autorizada a levar para casa um pacote de indenização US$ 21 milhões (em torno de R$ 80 milhões) quando foi demitida como presidente-executiva da Hewlett-Packard por incompetência.

Em terceiro lugar, o único tipo de benefício que não carrega nenhum estigma nos EUA é o corporativo. Apesar de todas as críticas de Trump ao governo, a riqueza da sua família veio das tetas do governo. Seu pai, Fred Trump, usou os programas habitacionais do governo para criar uma empresa de construção; o império foi fundado com dinheiro público.

Minha aposta é que Trump, Fiorina e Carson vão desaparecer e que os eleitores eventualmente voltar-se-ão para um candidato mais convencional, talvez o senador Marco Rubio. Do ponto de vista dos democratas, a chapa republicana mais assustadora seria de Rubio com John Kasich. Rubio tem habilidades políticas naturais, projeta juventude e mudança, e seria um sinal de que o Partido Republicano está pronto para expandir sua base demográfica. Rubio e Kasich também teriam uma boa chance de vencer em seus Estados de origem, Flórida e Ohio --e qualquer chapa com chances de ganhar a Flórida e Ohio é uma forte concorrente.

Em vez disso, entretanto, os eleitores das primárias republicanas por enquanto estão perseguindo um flerte bizarro com três candidatos que são os menos qualificados desde, bem, talvez desde que Trump experimentou essas águas antes das eleições de 2000.

Nesse sentido, eles oferecem um vislumbre da psique americana, ou seja, a nossa adulação a presidentes-executivos de empresas.

Há algo a ser dito sobre os diretores executivos quando ingressam na política: em teoria, eles têm experiência de gestão e conhecimento financeiro. Isso, contudo, não funcionou bem para Dick Cheney.

Mais amplamente, os Estados Unidos têm exagerado em seu culto aos executivos, o que em parte explica por que, nas grandes empresas, a remuneração desses presidentes e diretores em relação ao salário do trabalhador típico subiu de 20 para 1 em 1965 para 303 para 1 em 2014, de acordo com o Instituto de Política Econômica.

De qualquer forma, mesmo que você estivesse conduzindo uma busca por um grande diretor executivo para liderar o mundo livre, você não se voltaria para Trump ou Fiorina.

Minha sensação é que Trump não é o idiota que os críticos afirmam frequentemente (as palavras mais comuns utilizadas pelos eleitores para descrevê-lo em uma pesquisa recente foram “idiota”, “imbecil”, “estúpido” e “burro”). Este é um homem que está perto do topo em diversos setores: imobiliário, autoral, televisão e agora a política presidencial. Ele é um showman nato, um mestre de branding e marketing. Mas ele não parece um mestre de investimentos.

Em 1976, Trump disse que seu império valia “mais de US$ 200 milhões.” Se ele tivesse simplesmente colocado US$ 200 milhões em um fundo indexado e reinvestido os dividendos, ele valeria US$ 12 bilhões hoje, observa Max Ehrenfreund do “The Washington Post”. Segundo a Forbes, na verdade, ele tem US$ 4,5 bilhões.

Em outras palavras, a perspicácia empresarial de Trump é tão impressionante quanto a de um João da Silva que tenha depositado suas economias em um fundo indexado.

Um fundo indexado também poderia ter sido menos problemático em termos éticos. Na década de 70, o Departamento de Justiça acusou Trump de se recusar a alugar imóveis a negros. E em 2013, o procurador-geral do Estado de Nova York processou-o por “persistente conduta fraudulenta, ilegal e enganosa”. Trump negou as acusações.

Se o desempenho de Trump como executivo foi problemático, o de Fiorina foi excepcional. Excepcionalmente ruim.

Vamos colocar de lado o fato de ela ter sido a diretora executiva que demitiu milhares de trabalhadores enquanto amealhava mais de US$ 100 milhões em compensações e fazia a HP adquirir cinco jatos corporativos. Basta olhar para o resultado final: ela conquistou o lugar de “pior executivo” nas listas desse tipo.

Como Steven Rattner escreveu no “The Times”, o preço das ações da Hewlett-Packard caiu 52% nos quase seis anos em que ela permaneceu no comando. A HP saiu-se pior do que seus pares: a IBM caiu 27,5%, e a Dell, 3%.

Ah, e no dia em que foi demitida, o mercado de ações celebrou: as ações da HP subiram 7%.

Se eu quisesse um regente de circo, contrataria Trump. Se eu quisesse conselhos sobre cirurgia de cérebro ou gestão hospitalar, eu procuraria Carson. Fiorina seria uma comentarista de televisão articulada. Mas para presidente?

O fato de estes novatos serem os três principais candidatos presidenciais de um grande partido político é um triste retrato de nossa disfunção política.