Topo

Tiros, Swat e terror: cidade dos EUA fica traumatizada em dia sangrento

Adam Nagourney, Ian Lovett e Jennifer Medina

De San Bernardino, Califórnia (EUA)

03/12/2015 11h51

Eles se reuniram no final do acesso a uma igreja, a cerca de 1,5 km do local da chacina que ocorreu em San Bernardino, na Califórnia, na última quarta-feira (2), digitando freneticamente mensagens em seus telefones e olhando com ansiedade quando mais um comboio de ônibus escolares amarelos carregados de sobreviventes chegou, escoltado por uma fila de furgões da polícia com as luzes piscando.

"Minha filha está lá dentro", disse Rosario Alcazar. Sua filha, Anna trabalhava como secretária no centro para pessoas deficientes onde se realizou o ataque. "Ela está bem", disse ele. Anna tinha enviado mensagens para o pai enquanto era levada à segurança da igreja. "Ela está salva. Esperamos que ela desça."

Alguns minutos depois, uma mulher com o rosto marcado por lágrimas saiu de um carro da polícia que a havia levado até o acesso da igreja e correu para abraçar sua família. "Estou bem", disse ela, que não quis dar seu nome. "Não podemos falar com ninguém. Eles nos disseram: com ninguém."

A cidade de San Bernardino, que já luta com os espectros da falência e decadência há quase uma década, ficou traumatizada em uma quarta quente e ensolarada marcada por um cerco policial que começou no Centro Regional Inland e se esparramou para suas ruas residenciais antes de culminar - pelo menos era o que parecia - em um longo e sangrento tiroteio à tarde. Bairros inteiros foram isolados enquanto as autoridades realizavam batidas de casa em casa, procurando pelos suspeitos fortemente armados.

À noite, o drama assustador continuou: pelo menos dois dos suspeitos estariam morando em uma casa na cidade próxima de Redlands, e pouco antes das 18h (horário local) equipes da Swat começaram a invadir a casa depois de horas de monitoração. As equipes lotaram a área normalmente tranquila por volta das 16h30. Ao anoitecer, dois grandes caminhões blindados estacionaram diante da casa. Vários policiais usando uniformes de serviço se agruparam.

O bairro, salpicado de prédios de apartamentos baixos, de repente ficou lotado de policiais e equipes de televisão. Os moradores, curiosos e assustados, ficaram ao redor esperando o que aconteceria depois. Quando escureceu, os policiais usaram um guindaste para derrubar uma janela. Quinze minutos depois um robô entrou, aparentemente para verificar a casa. Um estouro forte, que parecia uma explosão controlada, ocorreu às 18h30.

Durante o dia todo esta comunidade extensa com vários shoppings, um refúgio de imigrantes latinos, asiáticos e do Oriente Médio nas montanhas, a uma hora a leste de Los Angeles, transformou-se em uma dinâmica cena de crime, um mar de sirenes estridentes, bloqueios de ruas em cada curva, ameaças de bomba e policiais usando coletes à prova de balas marchando pela rua ou arrombando portas.

Os estacionamentos da cidade estavam anormalmente vazios, pois as pessoas ficaram em casa assistindo ao drama pela televisão ou pelas janelas de suas casas. Estradas e ruas estavam congestionadas, pois a polícia bloqueou bairros inteiros.

Médicos no pronto atendimento do Centro Médico da Universidade de Loma Linda se preparavam para atender uma série de pessoas feridas no ataque, que deixou pelo menos 14 mortos e 17 feridos. A equipe de emergência correu quando uma ambulância chegou, erguendo um grande lençol para proteger um paciente que era removido do veículo sob olhares de curiosos e das câmeras. Em certo momento, o próprio hospital recebeu uma ameaça de bomba e entrou em "código amarelo", provocando mais uma onda de pânico. Ao fim, era só um boato.

No Centro Rock Church and World Outreach, para onde foram levados muitos dos sobreviventes, parentes que tinham se reunido na entrada, atraídos por mensagens de texto ou telefonemas das pessoas ansiosas para voltar para casa, assistiram atônitos à procissão de carros e furgões de polícia, com as luzes piscando e sirenes ligadas, rumando para o local onde um suspeito havia sido encurralado. Uma cena parecida ocorreu no centro médico, onde uma dúzia de policiais com armas pesadas saiu em disparada do pronto-socorro pouco depois das 15h e se afastou em seus veículos.

Na cena do tiroteio, dezenas de carros policiais bloqueavam a rua onde havia um suspeito morto, perto de uma igreja, e as pessoas se aglomeravam na rua, vendo as equipes da Swat que continuavam fazendo revistas em carros e casas, temendo que um suspeito estivesse no bairro. "Um deles passou por este beco aqui", disse Martha Golzalez, uma moradora. "E ouvi tiros depois de um ou dois minutos."

Robert Apolinar, 46, disse que viu os policiais interrogarem vários homens, um deles de roupa camuflada e botas do Exército. Eles os colocaram em furgões da polícia perto de uma casa-trailer. Mas após vários minutos a polícia os liberou. Menos de um minuto depois disso, tiros foram disparados perto da igreja. "Foi bem perto daqui", disse Apolinar.