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Opinião: Armas, lágrimas e republicanos no lado errado da história

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enxuga lágrima durante discurso na Casa Branca, em Washington, em que apresentou as medidas para conter a violência por armas de fogo no país - Kevin Lamarque/Reuters
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enxuga lágrima durante discurso na Casa Branca, em Washington, em que apresentou as medidas para conter a violência por armas de fogo no país Imagem: Kevin Lamarque/Reuters

Nicholas Kristof

08/01/2016 06h00

O presidente Barack Obama derramou lágrimas na terça-feira (5) ao pedir novas medidas de controle de armas, e alguns críticos perceberam nisso fraqueza ou indecisão. Mesmo? Ao contrário, todos nós deveríamos estar em prantos porque 225 mil norte-americanos morreram pela violência das armas nestes sete anos de seu governo.

A vergonha não é um presidente chorar um pouco, mas que ele não tenha sido capaz de evitar que o número de pessoas mortas pelas armas nos Estados Unidos em seu mandato fosse aproximadamente igual ao das que morreram na guerra civil na Síria (as estimativas aqui variam de 200 mil a mais de 300 mil).

Sim, o número de mortes por armas nos EUA inclui os suicídios e sim, a Síria é um país menor, mas vale uma lágrima o fato de que a "pacífica" América, durante o governo Obama, tenha perdido um número tão grande de vidas para a violência armada.

Ted Cruz respondeu aos atos executivos do presidente com uma página na internet que mostra um Obama de cenho franzido e capacete, parecendo um bandido de botas militares, encenando uma invasão domiciliar, com a advertência "Obama quer suas armas". Chris Christie protestou que Obama estivesse se comportando como uma "criança petulante". Jeb Bush lamentou a "agenda de confisco de armas" de Obama. Donald Trump advertiu que Obama está avançando para a proibição das armas. O resultado de todo esse alarde será que mais norte-americanos correrão para comprar armas de fogo.

Veja, vamos admitir que os liberais não lidaram bem com a questão das armas ao longo dos anos. Os liberais muitas vezes se opõem aos proprietários de armas parecendo condescendentes ou insultuosos, além de desconhecerem fragorosamente as armas que tentam regulamentar. Mas sobre a questão básica de se mais armas criam mais segurança ou mais risco, a evidência parece clara: a maioria dos donos de armas as usam de forma responsável, mas com mais armas há mais tragédias.

Excluindo-se as armas, os EUA têm um índice de crimes violentos semelhante ao de outros países ricos. Mas, como temos 300 milhões de armas espalhadas por aí, algumas nas mãos de indivíduos de alto risco, temos um índice de homicídios com armas cerca de 20 vezes o da Austrália (que reprimiu as armas depois de uma chacina que ocorreu lá).

Os defensores das armas dizem que os criminosos sempre as terão, por isso a regulamentação não faz diferença. Mas temos cada vez mais evidências de que isso está errado.

Os Estados que têm as leis mais restritivas a armas têm os menores índices de mortes por armas (incluindo suicídios). Veja Massachusetts e Nova York, que têm as restrições mais firmes a armas nos EUA: eles têm três ou quatro mortes por 100 mil habitantes por ano. No outro extremo, dois dos Estados que têm regulamentos mais permissivos sobre armas são Alasca e Luisiana, e ambos têm índices de mortes por armas cerca de cinco vezes maiores: mais de 19 por 100 mil habitantes.

Os candidatos presidenciais republicanos deveriam examinar a experiência natural que ocorreu quando o Missouri abrandou as restrições à compra de armas de fogo. O resultado foi um aumento de 25% no índice de homicídios por arma de fogo, segundo um estudo do "Journal of Urban Health". Em comparação, Connecticut endureceu a regulamentação para a compra de armas e os homicídios por armas caíram 40%, segundo o "American Journal of Public Health".

Isto não quer dizer que as regulamentações sempre funcionam ou que seja simples resolver o problema. Daniel W. Webster, da Universidade Johns Hopkins, citando uma pesquisa, diz que retirar armas de pessoas que já foram condenadas por violência doméstica não faz muita diferença. Mas bloquear o acesso a armas de pessoas já submetidas a ordens de restrição por violência doméstica reduz o assassinato de parceiros íntimos.

Precisamos de uma abordagem de saúde pública orientada por evidências, baseada no modelo de nossa regulamentação dos carros para reduzir as mortes em acidentes, altamente eficaz. Esta é a abordagem que os atos executivos de Obama visam. Os republicanos dizem há anos que devemos nos concentrar em aplicar as leis existentes. É o que Obama está fazendo.

Do mesmo modo, Obama pressiona para se investigar a exequibilidade de armas inteligentes que só funcionam com uma impressão digital ou um código. Isso pode funcionar ou não, mas vale a pena tentar, em um país onde cerca de 300 mil armas são roubadas por ano. Uma criança pequena nos EUA atira em alguém em média uma vez por semana, porque é fácil pegar e disparar uma arma. Se nossos telefones podem funcionar só com um código, é loucura que qualquer pessoa possa usar um rifle de assalto roubado.

Não há varinha mágica para resolver a violência das armas nos EUA, mas tampouco é um destino imutável que 32 mil norte-americanos morram por armas de fogo todos os anos. Sabemos pela experiência de Estados como Connecticut e Missouri que regulamentos sensatos salvam vidas. E por que não deveríamos manter as armas longe de homens submetidos a restrições por violência doméstica, se o resultado são menos mulheres assassinadas por namorados nervosos?

Os candidatos presidenciais republicanos estão no lado errado da história aqui. Enquanto até os eleitores republicanos dizem majoritariamente em pesquisas que preferem medidas sensatas como a verificação de fichas policiais, os candidatos republicanos estão politizando o que deveria ser uma questão de saúde pública e fazendo norte-americanos assustados comprarem mais armas, o que amplifica o problema e causa mais mortes.