Topo

Luta de imigrante ilegal para se tornar advogado acaba em festa

Liz Robbins

Em Nova York (EUA)

08/02/2016 06h00

Quando o dia chegou, finalmente, César Vargas chorou. Sua mãe chorou. Seus professores choraram.

Sua luta jurídica de quatro anos para ser um advogado terminou na quarta-feira (03) em um tribunal dourado no bairro do Brooklyn. Lá, Vargas, 32, um imigrante mexicano em situação ilegal, foi empossado com outros 67 como os mais novos membros da Ordem dos Advogados de Nova York.

Depois da cerimônia na Suprema Corte estadual, em Brooklyn Heights, Vargas ergueu como prova o certificado de admissão que comprou por US$ 5 e abraçou sua mãe, Teresa Galindo. Ela começou a chorar, e ele também.

"A criança que eu levei pela mão a cruzar a fronteira hoje é um advogado", disse Galindo, 72.

Com a reforma da imigração parada no Congresso e o ato executivo do presidente para oferecer proteção legal a alguns imigrantes sem documentos atualmente sendo revisada pela Suprema Corte dos EUA, a conquista de Vargas traz esperança para os ativistas da imigração.

"Eu a considero uma vitória pessoal de César Vargas, mas também para os imigrantes de todo lugar, especialmente para os 'Sonhadores', cuja situação legal não depende deles e que buscam a plena inclusão no que é seu único lar, este país", disse Michelle J. Anderson, reitora da Escola de Direito da City University de Nova York, que foi professora de Vargas e assistiu à cerimônia.

"Ele é um jovem incrível", acrescentou ela, emocionada.

O penúltimo de oito filhos, Vargas tinha 5 anos quando cruzou a fronteira de Tijuana (México) para San Diego (EUA).

Ele cresceu em Staten Island e se formou pelo Colégio James Madison no Brooklyn.

Depois da formatura em direito, Vargas passou no exame da Ordem dos Advogados de Nova York em 2011 na primeira tentativa. Ele pediu a admissão à ordem em 2012, mas foi rejeitado pela Comissão de Caráter e Propriedade da ordem por causa de sua situação de imigrante. Sua matrícula foi então enviada à Divisão de Apelações da Suprema Corte estadual.

Em 2013 ele obteve proteção temporária da deportação como parte do programa para filhos de imigrantes ilegais do presidente Obama e tornou-se um ativista pela reforma da imigração, fundando a Dream Action Coalition [coalizão de ação pelo sonho].

Em junho, um painel de apelação da Suprema Corte estadual votou por unanimidade a favor de sua inscrição na ordem, tornando Vargas o primeiro imigrante em situação ilegal a ter a entrada permitida na ordem. Mas houve um problema: ele tinha sido preso em janeiro de 2015 enquanto protestava durante um programa político em Iowa, interrompendo o governador Chris Christie, de Nova Jersey.

Vargas foi condenado em junho a um ano em liberdade condicional, pena que foi reduzida a seis meses em dezembro. Seu registro policial foi anulado, abrindo caminho para a admissão na ordem.

"Devo admitir que houve momentos em que me senti derrotado, momentos em que pensei que eu não seria um advogado", disse Vargas em uma entrevista coletiva na lanchonete de sua escola de graduação, o St. Francis College.

Jose Perez, vice-conselheiro-geral da Latino Justice PRLDEF, um grupo de defensoria que representou Vargas, disse que ele já era um exemplo. O conselho geral da Ordem dos Advogados de Utah chamou Perez recentemente e lhe perguntou o que fazer em casos semelhantes, de estudantes que não têm documentos.

"Eles percebem que a legislatura não precisa agir necessariamente, que em geral em seu Estado o Judiciário determina a admissão na ordem e a eligibilidade", disse Perez.

Na quarta-feira, antes do juramento dos 68 advogados à sua frente, o juiz Randall T. Eng disse que foi trazido da China para os EUA quando bebê, o que prova que o local de nascimento não é um obstáculo. Então ele perguntou quantos dos advogados tinham nascido fora dos EUA. Pelo menos oito pessoas levantaram as mãos.

Vargas ficou comovido com o discurso de Eng.

"Foi como se ele parafraseasse a decisão", disse Vargas, referindo-se à decisão em junho em que o tribunal de apelação escreveu: "A situação de imigrante sem documento do senhor Vargas, por si só, não reflete adversamente em sua capacidade geral de praticar o direito. Não importa onde você nasceu, você pode ser um advogado".

Vargas é hoje um estrategista de relações latinas para o senador Bernie Sanders, de Vermont, que tenta a nomeação como candidato presidencial do Partido Democrata. Vargas só começará a atuar como advogado depois das eleições em novembro, porque está ocupado na campanha. Mas, apesar das comemorações do dia, com tamales feitos por sua mãe, ele disse que seu futuro é incerto.

"Ainda posso ser deportado a qualquer momento", explicou Vargas em um momento de calma. "Se Trump for eleito, ele poderá me deportar e à minha família. Eu continuo sem documentos."