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Jovens democratas são atraídos pelo apelo simples de Bernie Sanders

Jim Young/Reuters
Imagem: Jim Young/Reuters

Amy Chozick e Yamiche Alcindor

Em Manchester, New Hampshire (EUA)

09/02/2016 06h00

Bernie Sanders tem 74 anos. Cresceu jogando taco nas ruas do Brooklyn e vendo televisão preto e branco.

Mas esse filho dos anos 1940, que diz que Franklin D. Roosevelt é seu presidente preferido, inspirou um poderoso movimento político entre os jovens de hoje. Estudantes de faculdade usam perucas brancas desalinhadas do "Bernie" no campus, carregam celulares com sua imagem como tela de fundo e participam aos milhares de seus eventos.

E exércitos de jovens eleitores estão transformando o que parecia uma candidatura presidencial lanterninha em uma campanha surpreendentemente competitiva.

"Ele pode parecer um velhinho que não se importa com as coisas", disse Caroline Buddin, 24, uma vendedora em Charleston, Carolina do Sul. "Mas, se você lhe der um tempo e ouvir o que tem a dizer, ele tem muitas ideias boas."
Em entrevistas, jovens apoiadores da pré-candidatura presidencial do senador por Vermont dão quase sempre a mesma resposta quando perguntados por que o apreciam: ele parece sincero.

Para a geração que os pesquisadores dizem ter sido mais bombardeada por slogans de marketing e publicidade, Sanders, que já foi prefeito de Burlington, no Estado de Vermont, tem um certo apelo sem frescuras.

O primeiro grupo de estudantes que trabalhou para eleger Sanders presidente surgiu no Middlebury College em Vermont. Hoje há grupos semelhantes em mais de 220 campus de todo o país, sendo o maior na Universidade da Califórnia em Berkeley.

O movimento, pelo menos inicialmente, não foi tanto o resultado de um esforço organizado pela campanha de Sanders, mas uma reação mais visceral ao próprio candidato.

"Parece que ele está em um ponto da vida em que realmente diz o que pensa", explicou Olivia Sauer, 18, uma caloura na faculdade que voltou à sua cidade natal, Ames, em Iowa, para fazer campanha para Sanders.

"Com Hillary, às vezes você tem a sensação de que todas as frases dela foram escritas por alguém", explicou Sauer.
O apoio de jovens eleitores a Sanders gerou perplexidade na campanha de Hillary Clinton, com quartel-general no Brooklyn, em Nova York, onde membros jovens tentaram convencer seus pares a apoiar a ex-secretária de Estado usando redes sociais como Snapchat e Instagram.

Na segunda-feira em Iowa, Sanders venceu Hillary entre os eleitores de 17 a 29 anos por 70 pontos percentuais, superando a margem de 43 pontos com que Barack Obama conquistou essa faixa etária em Iowa em 2008. Isso vale para homens e mulheres, e até Hillary chamou a diferença de "incrível" durante uma participação na CNN na quarta-feira (3).

Um dia depois de Hillary, 68, ter conseguido uma vitória apertada contra Sanders em Iowa, sua campanha realizou uma conferência por telefone com importantes apoiadores democratas. Várias autoridades, que são delegados à convenção do partido, manifestaram preocupação sobre as tentativas às vezes canhestras da campanha de alcançar os jovens eleitores, incluindo sua dependência de celebridades da geração "baby boom" que têm menos repercussão entre a geração do milênio.

"Sou muito próxima de Jamie Lee Curtis e sei que estava lá, mas ela não é mais jovem", disse Rosaling Wyman, uma proeminente democrata em Los Angeles, sobre a atriz de 57 anos e porta-voz do iogurte Activia que fez campanha para Hillary em Iowa.

No telefonema, Marlon Marshall, diretor de campanhas estaduais e envolvimento político, tentou tranquilizar o grupo de que a operação de Hillary usaria representantes mais jovens, como sua filha, Chelsea, 35, e continuaria falando sobre questões como facilitar o acesso à faculdade.

"Acredito que a narrativa seguirá em frente", disse Marshall. A campanha de Sanders "continuará batendo na mesma tecla", acrescentou.

A campanha de Hillary diz que ela conquistará os eleitores jovens quando eles conhecerem melhor suas propostas de maior acesso às universidades e combate à mudança climática. "A diferença para os jovens eleitores e para todos os eleitores é a capacidade de fazer alguma coisa", disse em uma entrevista à MSNBC esta semana seu gerente de campanha, Robby Mook. "E o que é necessário para isso é alguém em Washington capaz de quebrar a estagnação."

Esse argumento conquistou Iris Brenner, 21, uma estudante na Universidade Estadual de Iowa em Ames, que apoia Hillary. "Para mim foi: 'Eu faço campanha por alguém que é um pouco menos excitante, mas que pode fazer coisas?'".

Em particular, os seguidores de Hillary dizem que ser um ícone jovem tem suas vantagens, mas o apoio dos eleitores de meia-idade e mais velhos basta para ela conseguir a nomeação. Nas primárias em Iowa, Hillary venceu Sanders por 23 pontos entre os eleitores de 45 a 64 anos e por 43 pontos entre eleitores com 65 anos ou mais, segundo pesquisas de boca de urna.

O desconforto e, em alguns casos, a hostilidade em relação a Hillary entre os jovens é notável. Alguns deles, sentindo as dificuldades econômicas ou o peso do crédito para estudar, sugerem que ela é muito ligada aos grandes bancos e à América corporativa. Pesquisas também mostram que eles não a consideram confiável.

A cena na festa para Sanders na noite das eleições em Iowa captou seus sentimentos. Quando Hillary apareceu em vários telões dizendo a seus seguidores que estava "dando um suspiro de alívio" ao saber dos resultados de Iowa, alguns jovens membros da turma de Sanders vaiaram alto.

"Sou uma progressista que faz coisas para a população", disse Hillary, provocando mais vaias dos apoiadores de Sanders. "Ela é uma mentirosa", entoou o grupo, revoltado.

Mesmo os que participaram dos eventos voltados para a juventude na campanha de Hillary não parecem abraçar sua candidatura.

No mês passado em Iowa, Hillary apareceu em um comício conjunto em Iowa City com a estrela pop de 23 anos Demi Lovato. Como muitos estudantes na multidão, Nate Weger, 20, disse que apoia Sanders, mas não recusaria um show grátis de Demi Lovato.

"Bernie parece muito mais honesto quando fala", disse Weger. Sentimentos semelhantes foram declarados em um evento em Iowa para Hillary que apresentou Lena Dunham, criadora e estrela do programa "Girls", da HBO.

Pete D’Alessandro, o diretor de campanha de Sanders em Iowa, disse que essas iniciativas podem ser inúteis. Ele lembrou uma história de 1968, durante a disputa nas primárias entre Robert Kennedy e Eugene McCarthy, quando a campanha deste último ofereceu um churrasco que atraiu centenas de eleitores, levando alguns a acreditar que ele tivesse grande apoio. Mas McCarthy acabou perdendo feio a disputa.

"Eles foram só por causa das costelinhas", disse D'Alessandro com um sorriso.