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Castelo espanhol é salvo do desabamento -- mas não das críticas

Mark A. Walsh

11/03/2016 11h16

Quando os residentes de Villamartín souberam que o histórico castelo próximo à pequena cidade no sul da Espanha seria restaurado, eles provavelmente pensaram numa restauração que aproximaria a fortaleza medieval de sua antiga glória.

Mal sabiam que receberiam algo que, para muitos, para mais um moderno estacionamento de vários andares.

O reparo do Castelo Matrera, empoleirado em um penhasco na região da Andaluzia, enfureceu moradores locais e provocou a ira de alguns conservadores. Imagens do castelo antes e depois da restauração abasteceram reações de ultraje e ridicularizações nas redes sociais. 

"É uma barbaridade", disse um morador ao canal espanhol La Sexta. "Não gostei em nada do que eles fizeram", disse outro. "Parece que usaram pedreiros em vez de restauradores", disse um terceiro, usando um palavrão para expressar a qualidade do trabalho.

10.mar.2016 - O castelo Matrera antes da restauração, no sul da Espanha - Museum of Villamartin/The New York Times - Museum of Villamartin/The New York Times
O Castelo Matrera antes da restauração...
Imagem: Museum of Villamartin/The New York Times

10.mar.2016 - O castelo de Matrera após a restauração - Museum of Villamartin/The New York Times - Museum of Villamartin/The New York Times
... E depois da restauração
Imagem: Museum of Villamartin/The New York Times

Hispania Nostra, um grupo de preservação que defende a proteção de locais de patrimônio histórico, teve impressão semelhante. 

A obra é "verdadeiramente lamentável" e "surpreendeu de maneira muito negativa moradores e visitantes", disse o vice-presidente do grupo, Carlos Morenés, qualificando o projeto de um "massacre" ao patrimônio espanhol. 

O arquiteto por trás da restauração, Carlos Quevedo Rojas, reconheceu que os resultados não atenderam ao gosto de todos. "Entendo as críticas dos moradores locais acostumados a ver a torre de determinado modo", disse ele em entrevista por telefone, "mas o objetivo principal foi impedir o colapso da estrutura".

Quevedo Rojas disse que os padrões modernos para a restauração de prédios históricos desencorajam esforços para fazer com que pareçam como quando foram construídos. 

"Temos de distinguir e manter o valor histórico e a integridade arquitetônica", disse. "Você não pode fazer com que a estrutura tenha a mesma aparência do original. Você não pode falsificar a aparência. Tem de ficar claro quais partes são novas e quais são velhas."

De acordo com Quevedo Rojas, planos para restaurar o castelo, que é privado, foram feitos em 2011, mas tiveram de ser alterados quando o muro norte desabou em 2013 devido a enchentes na área. "O primeiro objetivo então foi consolidar a estrutura para que não houvesse outros desabamentos", disse. 

O projeto, disse, custou centenas de milhares de euros -- ele não quis dar valores precisos -- e não envolveu fundos públicos. Autoridades locais e os departamentos de cultura e do meio ambiente do governo regional de Andaluzia aprovaram o projeto, disse. 

Tentativas restaurar objetos de importância histórica já eram errado antes na Espanha.

16.dez.2014 - ''Ecce Homo'', retrato de Jesus Cristo, depois de ser restaurado por Cecilia Giménez, 83, em 2012 - Arnau Bach/The New York Times - Arnau Bach/The New York Times
''Ecce Homo" depois de ser restaurado por Cecilia Giménez, 83, em 2012
Imagem: Arnau Bach/The New York Times

Em 2012, um caso de suspeita de vandalismo em uma igreja no vilarejo de Boria acabou se comprovando como um dos piores projetos de restauração da história: uma viúva de 83 anos, pintora amadora, admitiu ter tentado restaura um afresco quase centenário de Jesus coroado de espinhos.

A história teve um fim um tanto milagroso -- a restauração era tão mal feita que a igreja acabou virando uma atração turística

Apesar de ser improvável que o castelo Matrera tenha o mesmo destino, o projeto tem seus desfensores. José María Gutiérrez López, diretor do museu histórico de Villamartín, disse que os críticos estavam mal informados. 

"Acho que as críticas vêm de pessoas sem conhecimento dos critérios da restauração moderna", disse. "Eles queriam que ele fosse restaurado na mesma condição de antes, mas não é assim que acontece."

Gutiérrez López, que escreveu um livro sobre o castelo e a área a seu redor mas não esteve envolvido nos reparos, expressou surpresa com a atenção negativa que recebeu. 

"Quando houve o desabamento em 2013, não conseguimos coletar nem 100 assinaturas para restaurar a construção", disse. "Agora que houve a restauração há todo esse clamor. Isso me deixa muito frustrado."

"Para mim, parece bem", acrescentou. "Não parece fora do lugar".