Topo

Hillary prepara função para marido em eventual governo

Ed Hille/The Philadelphia Inquirer via AP
Imagem: Ed Hille/The Philadelphia Inquirer via AP

Amy Chozick

18/05/2016 06h01

Em um ano eleitoral, quando as políticas e as indiscrições pessoais de Bill Clinton sofreram intenso escrutínio, Hillary Clinton começa a moldar o papel que seu marido exerceria em seu governo. O crescimento econômico e a criação de empregos seriam as missões cruciais do ex-presidente.

Aos eleitores do Kentucky no último domingo (15) Hillary disse que seu marido seria "encarregado de revitalizar a economia, porque vocês sabem que ele sabe fazer isso", especialmente "em lugares como a zona do carvão e antigos centros urbanos".

Em uma mudança na campanha este mês, antes da primária na Virgínia Ocidental, ela disse que Bill Clinton "tem de sair da aposentadoria e se encarregar" da criação de empregos.

Hillary não deu detalhes sobre como um ex-presidente ocuparia um cargo de elaboração de políticas no governo de sua mulher, situação jamais vista na política americana. Perguntada na segunda-feira se Clinton teria um cargo no gabinete, Hillary balançou a cabeça e disse "Não".

Assessores disseram que o papel de Bill Clinton seria muito definido, concentrado nas áreas mais atingidas do país, como o Cinturão da Ferrugem, e rejeitaram qualquer implicação de que Hillary delegaria ao marido uma parte central de seu governo.

Mas até a promessa incidental de que Bill Clinton seria encarregado de uma parte importante do portfólio de uma presidente levantou questões sobre como tal esquema funcionaria em uma Casa Branca que há muito tempo conta com um secretário do Tesouro e um Conselho Econômico Nacional nomeados.

"Há um problema prático em como um papel desses repercutiria com os membros do gabinete cuja função é trabalhar com a economia", disse Austan D. Goolsbee, um assessor econômico do presidente Barack Obama e professor na Universidade de Chicago.

A declaração sobre o potencial lugar de Bill Clinton em um governo de Hillary Clinton ocorre quando sua campanha se prepara para combater o provável candidato republicano, Donald Trump, e amplia seus esforços para ganhar o apoio dos eleitores brancos da classe trabalhadora. Estes geralmente têm opinião favorável sobre Bill Clinton, mas veem Hillary com maior ceticismo.

O estilo mais emotivo do ex-presidente parece agradar aos eleitores de colarinho azul, diferentemente da atuação de Hillary. Cerca de 55% dos eleitores em todo o país disseram que não acreditam que Hillary "se importe com pessoas como eu", segundo uma enquete Quinnipiac realizada em fevereiro.

E o histórico de Bill Clinton --o orçamento equilibrado, a criação de 22,7 milhões de empregos e 7,7 milhões de pessoas tiradas da pobreza-- é de muitas maneiras mais simples para Hillary apregoar do que a atuação de Obama, quando o crescimento econômico beneficiou de maneira desproporcional os americanos mais ricos.

"A declaração de Hillary Clinton de que se for eleita colocará Bill Clinton 'a cargo de revitalizar a economia... porque, vocês sabem, ele sabe fazer isso' sugere que ela não elogia mais os sucessos do governo Obama, ou mesmo se liga a ele", disse Robert B. Reich, um secretário do Trabalho durante o governo Clinton que apoiou o senador Bernie Sanders, de Vermont, na primária democrata.

Mas apesar dos benefícios de contar com Bill Clinton e se gabar da prosperidade econômica que ele conduziu, a estratégia poderá abrir Hillary ainda mais aos ataques de Trump, que criticou abertamente as indiscrições pessoais de Bill Clinton.

Trump, que fez campanha como um populista econômico, também atingiu Hillary sobre as políticas comerciais de seu marido, incluindo o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, que Bill Clinton assinou como lei em 1993 e que, segundo muitos eleitores, prejudicou os trabalhadores americanos.

A adoção por Hillary do legado econômico de Bill ocorre depois de ela passar grande parte do último ano enfrentando um desafio de Sanders e da ala liberal do Partido Democrata.

Com a desigualdade econômica surgindo como uma grande preocupação entre os eleitores democratas, ela tentou se distanciar da desregulamentação de Wall Street e das políticas comerciais associadas aos anos 1990.

"Em que medida a agenda política mista de Bill Clinton mapeia a atual campanha? Esse é o desafio", disse Jared Bernstein, membro do Centro para Prioridades Orçamentárias e Políticas e ex-assessor econômico do vice-presidente Joe Biden.

Hillary Clinton costuma dizer que não está disputando o terceiro mandato de seu marido, mas também se apoiou muito em seu histórico econômico.

"Empregos, empregos, empregos", disse ela no programa "The Late Show With Stephen Colbert" no mês passado, quando perguntada o que Bill Clinton faria na Casa Branca. "Ninguém fez isso melhor, criou mais empregos, ajudou a aumentar as rendas. Eu quero todos os conselhos que ele puder me dar sobre como fazer a mesma coisa daqui em diante."

Nick Merrill, um porta-voz de Hillary Clinton, disse que o enfoque central de sua campanha foi em aumentar salários e criar bons empregos, e que ela não iria delegar esse esforço.

"Como ela disse repetidamente nesta campanha, a secretária Clinton está interessada em ter o foco do presidente Clinton em lugares que experimentaram substancial perda de empregos e deslocamento econômico, como a região do carvão e alguns centros urbanos", disse Merrill, acrescentando que "ela apresentou uma agenda ambiciosa para servir às comunidades com problemas econômicos" e "pretende ter o presidente Clinton como parte desses esforços".

Enquanto Hillary Clinton dedicou grande parte do tempo na primária democrata falando contra as consequências de partes da Lei do Crime de 1994 e uma reformulação em 1996 do sistema de bem-estar social que cortou a ajuda federal aos pobres em quase US$ 55 bilhões em seis anos, agora ela pode abraçar com mais segurança os anos de Bill Clinton, disseram os democratas.

"O que vemos há décadas é que o eleitorado em geral pensa que os anos 1990 foram muito bons", disse Matt Bennett, ex-assessor de Bill Clinton e vice-presidente sênior de assuntos públicos no Third Way, um grupo de pensadores de centro. "Eles gostaram de absolutamente tudo? É claro que não."

Os assessores de Hillary Clinton disseram que a vantagem de usar o ex-presidente, especialmente na eleição geral, superaria em muito qualquer bagagem pessoal que ele traga e que Trump pretenda explorar.

Pesquisas mostram que os eleitores têm uma opinião melhor sobre Bill Clinton do que sobre Hillary ou Trump, com 56% dos eleitores registrados considerando-o de modo positivo, segundo uma pesquisa da CNN/ORC feita em fevereiro.
 

Conheça algumas curiosidades sobre as eleições americanas

UOL Notícias