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Taj Mahal é atacado por insetos e lodo verde

Ruth Fremson/The New York Times
Imagem: Ruth Fremson/The New York Times

Nida Najar e Suhasini Raj

Em Nova Déli (Índia)

19/05/2016 06h01

Ao longo de séculos, o Taj Mahal sofreu sua cota de ataques --foi saqueado pelo povo jat, do norte da Índia, e pelos soldados britânicos, entre outras indignidades. Nos últimos anos, as autoridades temem que a poluição do ar possa escurecer de modo permanente o brilhante exterior branco do mausoléu.

Mas poucas pessoas previram a última afronta --milhões de insetos parecidos com pernilongos, em número superampliado pelas nutritivas algas que brotam em profusão nas margens do poluído rio Yamuna, nas proximidades. Como fizeram gerações de casais humanos movidos pelo romantismo, os insetos ocuparam o Taj Mahal em um voo de acasalamento, excretando uma substância verde em partes de suas paredes de mármore.

O rio Yamuna sofreu terrivelmente nos últimos anos com o despejo de lixo sólido em suas águas, diz um ativista ambiental em Agra, na Índia, onde fica o Taj Mahal.

"Tenho visto que a poluição do rio piorou constantemente", disse D.K. Joshi, que na semana passada encaminhou um abaixo-assinado sobre os insetos ao Tribunal Verde Nacional, um órgão ambiental. "Os assentamentos em torno do leito do rio, o esgoto que vai diretamente para a água" o estão sufocando, disse ele.

Na última segunda-feira (16), o Tribunal Verde Nacional emitiu notas às autoridades centrais e locais, incluindo o Ministério do Meio Ambiente e Florestas, dizendo-lhes para reagir ao pedido neste mês.

Com as cidades da Índia classificadas entre as mais poluídas do mundo pela OMS (Organização Mundial de Saúde), a preocupação pública sobre o ar e a água é crescente. O governo central prometeu bilhões de rúpias para limpar o rio Ganges.

Mas o efeito da poluição sobre o legado cultural da Índia, embora menos óbvio que seus efeitos para a saúde, também é digno de atenção, segundo especialistas.

Sohail Hashmi, um escritor e especialista em monumentos históricos de Déli, disse em uma entrevista ao Press Trust da Índia que as portas brancas de calcário recém-restauradas do histórico Forte Vermelho, uma antiga residência do imperador mongol que foi concluída em 1648, "tornaram-se amarelas em cerca de seis anos".

Assim como o Forte Vermelho, o Taj Mahal foi construído por ordem do xá Jahan, um imperador mongol, como mausoléu para sua amada mulher, e também foi terminado em 1648.

As secreções verdes na parede traseira do Taj Mahal, um resíduo da clorofila que os insetos consomem, não são prejudiciais ao monumento além da descoloração, disse Girish Maheshwari, diretor do departamento de entomologia do St. John's College em Agra, que analisou o problema para o Serviço Arqueológico da Índia.

Mas o número explosivo de insetos --chamados Goeldichironomus-- é um sinal alarmante de como o rio está poluído, disse ele, já que seus ovos prosperam com o fósforo e os sedimentos que há na água. E ele teme o enxame "altamente sincronizado" de insetos que baixa sobre o monumento à noite.

"Eles podem criar problemas para os visitantes", disse.

As paredes foram limpas com compressas de argila, disse Manoj Bhatnagar, um funcionário do departamento de pesquisa arqueológica de Agra. As excreções também poderiam ser removidas com água, mas a limpeza cotidiana é "um grande desafio".

Os insetos não parecem ter afastado os turistas, porém. Samir Uberoi, dono de uma empresa de turismo sediada em Mumbai, visitou o Taj Mahal com grupos duas vezes nas últimas duas semanas e não notou mudanças.

Quando questionado sobre sobre o que aconteceria se houvesse um esverdeamento permanente do monumento mais amado do país, ele disse: "Só peço a Deus que encontrem uma solução antes disso".

Puneet Dan, um guia turístico em Agra, disse que percebeu a descoloração no muro limítrofe do Taj Mahal, atrás do monumento, assim como os turistas, que segundo ele fugiram em "semipânico".

Dan disse que só pôde tranquilizar os visitantes de que as autoridades não vão permitir que o maior monumento do mundo se torne verde.