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Republicanos de peso "esnobam" convenção do partido que deve consagrar Trump

Simpatizantes de Donald Trump participam de comício em San Diego, na Califórnia - Stephen Crowley/The New York Times
Simpatizantes de Donald Trump participam de comício em San Diego, na Califórnia Imagem: Stephen Crowley/The New York Times

Jeremy W. Peters

04/06/2016 06h01

Uma onda de republicanos importantes anunciou a intenção de faltar à convenção nacional do partido em Cleveland, neste verão. É o último sinal de que Donald Trump, que na semana passada conseguiu os delegados necessários para garantir a nomeação presidencial republicana, continua lutando na tentativa de unir o partido por trás de sua candidatura.

A lista dos que enviaram pedidos de desculpas inclui governadores e senadores --quase todos enfrentando duras lutas pela reeleição neste ano-- e antigos devotos do partido que participaram de todas as convenções durante décadas. Alguns estão renunciando a seus assentos como objetores de consciência.

"Eu não poderia participar em sã consciência de uma coroação e celebração de Donald Trump", escreveu um delegado de Indiana, Josh Claybourn, em um blog em que renunciava a seu cargo.

A frieza em relação a Trump representa uma censura notável. Um amplo leque de líderes do partido está rejeitando abertamente o homem que poderia ser seu nomeado.

E a convenção de 18 a 21 de julho, geralmente um momento de catarse pública para os partidos políticos depois das disputadas primárias, está se moldando como mais um lembrete da confusão e da desunião que ainda sacodem o Partido Republicano depois de uma dura briga de 17 interessados na nomeação.

Mesmo os dois republicanos mais graduados em Ohio, Estado que abriga a convenção --o governador John Kasich e o senador Rob Portman, que luta para manter seu lugar--, não sabem se irão ao centro de convenções.

Kasich, que há apenas quatro semanas deixou a campanha presidencial e não apoiou Trump, não tem ideia de "que papel teremos, ou se teremos", segundo um porta-voz. Ele estará em Cleveland naquela semana, mas não tem planos, por enquanto, de participar de alguma atividade oficial da convenção.

Vários outros ex-rivais de Trump para a nomeação disseram que não participarão, ou ainda não prometeram ir. Jeb Bush, o ex-governador da Flórida, não estará lá. Nem o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul.

"Tenho certeza de que será engraçada, tenho certeza de que será uma diversão", disse Graham na semana passada. "E posso assistir pela TV."

O senador Paul Rand, do Kentucky, que é um delegado assim como ex-candidato presidencial, ainda não decidiu. "A ser definido", disse um porta-voz. "A agenda ainda está sendo confirmada."

Pelo menos dois ex-concorrentes de Trump deverão participar: o governador Chris Christie, de Nova Jersey, e o senador Marco Rubio, da Flórida, que na semana passada ofereceu seus serviços como orador, se desejado.

Entre os que se afastam estão algumas grandes corporações, como Coca-Cola, Microsoft e Hewlett-Packard.

E alguns que pretendem estar lá poderão achar o clima um tanto desconfortável.

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Trump ainda não se reconciliou totalmente com o presidente da Câmara, Paul D. Ryan, que presidirá a convenção. Ele disse no início de maio que não está preparado para apoiar o nomeado e, se convidado, recusará a função.

Trump também está em desfavor com a diretora da Associação de Governadores Republicanos, Susana Martinez, do Novo México, que vai liderar a delegação de seu Estado em Cleveland.

Martinez também retirou seu apoio, o que levou Trump a atacar seu desempenho como governadora na semana passada.

Conflitos de agenda parecem ser uma desculpa surpreendentemente comum para não comparecer a um evento que foi anunciado há um ano e meio. Outros ofereceram explicações confusas.

"Justamente quando eles estão confirmando o programa, parece que há muita coisa para eu fazer", disse o senador Ron Johnson, de Wisconsin, explicando por que provavelmente não poderá ir.

Questionado sobre se Trump tinha algo a ver com sua relutância, Johnson, que está em uma acalorada campanha para a reeleição, abriu um grande sorriso e disse: "Oh, é claro que não".

O governador Rick Snyder, de Michigan, Estado que Trump disse acreditar que os republicanos conseguirão conquistar dos democratas neste ano, também poderá ter coisas mais importantes para fazer em casa.

"Michigan tem alguns desafios neste momento", disse uma porta-voz na semana passada. "E as questões do Estado são sua maior prioridade."

Snyder é um dos pelo menos nove governadores republicanos que não prometeram ir ou vão faltar à convenção: Kasich, Brian Sandoval, de Nevada, Charlie Baker, de Massachusetts, Bruce Rauner, de Illinois, Larry Hogan, de Maryland, Nikki R. Haley, da Carolina do Sul, Matt Mead, de Wyoming, e Nathan Deal, da Geórgia.

"Eu não quero nem me envolver", disse Hogan em uma entrevista em março. "É uma confusão. Eu detesto tudo isso."

Praticamente todos os senadores republicanos que estão em uma disputa difícil se afastam, temendo que a associação com Trump possa prejudicar as reputações em seus Estados. O senador John McCain, do Arizona, assim como outros quatro ou cinco ex-nomeados republicanos, não irá à convenção.

"Estou em uma campanha muito dura para a reeleição", disse ele na semana passada, explicando sua provável ausência.

Os senadores Kelly Ayotte, de New Hampshire, e Mark S. Kirk, de Illinois, dois dos mais ameaçados republicanos em função, também não chegarão perto de Cleveland naquela semana.

Portman, outro senador em uma disputa apertada, disse que seu tempo será melhor gasto em uma miniconvenção própria em Cleveland, que ele pretende fazer com eventos para veteranos, sem tetos e seus voluntários.

"Falei em todas as convenções desde 1996", disse ele. "Ninguém escuta; ninguém dá cobertura."

Essa evasão em massa poderia parecer, na superfície, mais um exemplo da elite do partido esnobando Trump, no tipo de rejeição que ele apreciaria como um declarado "outsider" político. Mas também reflete um problema mais profundo e perigoso para ele: a popularidade de Trump entre os republicanos continua desconfortavelmente baixa.

O partido do próprio candidato geralmente dá apoio numa faixa de 90%. (Mitt Romney teve 93% de seu próprio partido em 2012.) O apoio de Trump entre os republicanos, segundo a última pesquisa NBC News/Wall Street Journal, foi de 86%.

E as esnobadas continuam vindo das escalas superiores do partido e da arraia miúda. Em New Hampshire, o ex-senador Judd Gregg foi inicialmente um delegado para Bush. Mas quando Bush suspendeu sua campanha Gregg ficou desobrigado. Ele optou por faltar à convenção, dizendo a um canal de televisão local: "Não gosto de multidões".

O delegado de Indiana que renunciou a seu lugar na convenção, Claybourn, seria obrigado a votar em Trump no primeiro turno, passo que ele disse que não suportaria.

"Donald Trump é o nomeado do Partido Republicano", disse Claybourn. "Mas não será meu nomeado e eu não irei a uma convenção que celebre sua candidatura."

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