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Para onde, Hillary? Obama prepara roteiro nos EUA para trazer votos à democrata

RONNY HARTMANN/AFP
Imagem: RONNY HARTMANN/AFP

Michael D. Shear e Patrick Healy

Em Washington (EUA)

11/06/2016 06h00

Após o presidente George W. Bush vencer duas vezes no condado do Estado de New Hampshire que inclui as cidades ricas em votos de Manchester e Nashua, o presidente Barack Obama virou a mesa e venceu nele em suas duas eleições por margens semelhantes. 

Bush conquistou com folga o condado de Ohio que inclui Cincinnati e seus subúrbios de maioria branca em 2004, enquanto Obama venceu ali ao concorrer em 2012. Colorado e Virgínia votaram em Bush, depois passaram para Obama. 

Agora que Obama endossou Hillary Clinton, os conselheiros dela estão ávidos em usar o toque político dele nesses e outros Estados indefinidos, prolongando o domínio democrata ali em novembro. Eles consideram Obama como um recurso singular, um presidente popular ainda em mandato, na campanha que está começando para derrotar Donald Trump. 

Estrategistas políticos na Casa Branca e na campanha de Hillary estão apenas começando a preparar uma agenda específica de campanha para o presidente, após seu apoio na quinta-feira à sua ex-secretária de Estado. Obama e Hillary aparecerão juntos na quarta-feira, pela primeira vez desde que garantiu a indicação democrata, e escolheram Green Bay, Wisconsin, outra cidade onde Obama mudou a sorte democrata. 

Mas essa provavelmente será uma das poucas vezes em que aparecerão juntos. Em vez disso, Obama sairá por conta própria, cruzando os subúrbios brancos no Meio-Oeste e o cinturão manufatureiro, assim como visitando as comunidades afro-americanas em Estados como a Carolina do Norte e Virgínia. O presidente tentará estender a mão aos independentes e outros em New Hampshire e Iowa, e mobilizar os jovens, latinos e ásio-americanos em Estados disputados como o Colorado, Flórida e Nevada. 

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"Ele certamente dedicará tempo para mobilizar seus apoiadores", disse Jennifer Psaki, a diretora de comunicações do presidente. "Mas ele também tentará engajar comunidades onde as pessoas ainda estão indecisas, onde ainda estão discutindo a escolha que têm pela frente." 

Os conselheiros de Hillary descreveram Obama como um raro presidente ainda no cumprimento de seu mandato capaz de ajudar a candidata de seu partido em todos os Estados indefinidos na eleição geral. Outros recentes presidentes de dois mandatos, como Bush e Bill Clinton, não foram bem-vindos na campanha porque os candidatos de seus partidos, John McCain e Al Gore, os consideravam controversos. Clinton tinha altos índices de aprovação, mas seu caso extraconjugal com Monica Lewinsky e seu processo de impeachment em 1998 o tornaram "persona non grata" para Gore. 

Citando os sólidos índices de aprovação e popularidade de Obama junto aos democratas e alguns independentes, os conselheiros de Hillary disseram que ele será um trunfo importante no Colorado, Flórida, Michigan, Ohio e outros Estados indefinidos nos quais ele venceu em 2008 e 2012, e onde supostamente é mais popular agora. Todos esses Estados são fundamentais na estratégia eleitoral de Hillary. 

"Não há um Estado indefinido no mapa onde o presidente Obama não seja um trunfo", disse Brian Fallon, um porta-voz da campanha de Hillary. 

A defesa por Obama dos acordos de livre comércio e as regras de seu governo permitindo o fraturamento hidráulico, ou "fracking", são impopulares juntos aos liberais, entre outros. E não se sabe quão eficaz o presidente pode ser na transferência de sua popularidade para Hillary. Durante as eleições de meio de mandato de 2010 e 2014, Obama fez campanha em prol de legisladores democratas, mas seu partido foi derrotado pelos republicanos em ambas as vezes. 

Mesmo assim, os conselheiros de Hillary consideram que ele será uma voz poderosa no ataque à aptidão e temperamento de Trump para a Presidência, e na defesa da determinação de Hillary para ampliar o legado dele de crescimento econômico, expansão do atendimento de saúde e progresso dos direitos civis. 

Ele também pode testemunhar sobre seu caráter, a retratando como alguém que colocou seu dever patriótico à frente da rivalidade pessoal entre eles, ao ter aceitado a oferta dele para ser secretária de Estado em 2008, após a dura batalha entre eles nas primárias. Ao fazê-lo, Obama poderá ajudar Hillary a reduzir seus altos índices de rejeição e persuadir alguns eleitores a deixarem de lado suas dúvidas sobre sua honestidade e confiabilidade, pontos fracos que aparecem regularmente nas pesquisas. 

Os conselheiros de Hillary disseram não saber com que frequência ela e Obama fariam campanha juntos, mas disseram estar ávidos para usá-lo. Nos meses antecedendo a eleição, Obama deverá fazer campanha principalmente nos redutos democratas, para ajudar a mobilizar os eleitores e assegurar um forte comparecimento para votar, mas os conselheiros enfatizaram que ainda não sabem ao certo para onde o enviarão.

Como colocou um conselheiro, Obama é popular o bastante para poder fazer campanha em Cleveland, que é rica em eleitores, sem que a campanha de Hillary precise se preocupar demais com a possibilidade dos eleitores em Parma, um subúrbio, ficarem incomodados com a cobertura regional dada a ele. 

Durante as semanas iniciais da campanha da eleição geral, Obama provavelmente se concentrará nas comunidades suburbanas em Wisconsin, Minnesota e Pensilvânia, onde os estrategistas acreditam que o presidente será bem recebido, especialmente entre eleitores que não estão fortemente alinhados com um partido, ou que podem ser alienados pela retórica mais belicosa de Trump. 

Algumas autoridades democratas também acreditam que Obama pode ajudar Hillary ao apelar diretamente aos apoiadores do senador Bernie Sanders, em Estados onde ele venceu nos últimos meses, como Wisconsin. Apesar de Obama e Hillary compartilharem algumas posições e metas políticas que não são liberais o bastante para satisfazer os apoiadores de Sanders, Obama ainda conta com boa dose de boa vontade junto a muitos deles como um presidente de dois mandatos. 

"Acho que o presidente conseguirá falar para os simpatizantes de Sanders e ser ouvido por eles, de uma forma que a sra. Clinton não pode no momento, porque muitos eleitores de Sanders ainda não a aceitaram como candidata", disse o ex-governador James E. Doyle de Wisconsin, um democrata. "Bernie é tremendamente popular aqui. Acho que as pessoas gostam de Hillary e que ela vencerá aqui em novembro, mas a popularidade de Obama a auxiliará no momento certo, no final de primárias arduamente disputadas." 

Mesmo assim, alguns eleitores de Sanders disseram estar dedicados ao seu candidato e ambivalentes a respeito de ouvir Obama exaltando Hillary. 

"Com certeza me orgulho das coisas que o presidente Obama fez, e o admiro, mas também precisamos de tempo para lamentar o fim da corrida pela indicação", disse Pat Cotham, uma superdelegada democrata que apoiou recentemente Sanders, e uma funcionária pública do condado de Charlotte, Carolina do Norte, outra área para a qual a campanha de Hillary gostaria de enviar o presidente. Obama venceu na Carolina do Norte em 2008, mas perdeu ali em 2012. Os conselheiros de Hillary acham que ele poderia ajudar Clinton a recolocá-lo na coluna democrata. 

"Espero que o presidente reconheça as realizações inacreditáveis feitas por Bernie na arrecadação de centenas de milhões de dólares em fundos sem um super PAC (comitê da ação política), assim como as questões com as quais Bernie e seus eleitores se importam", disse Cotham. "Esse tipo de mensagem seria bem-vinda."  

Assessores disseram que o calendário do presidente em outubro será em grande parte liberado de outras atividades, o deixando com tempo para fazer campanha onde quer que Hillary precise dele. Os estrategistas de Hillary disseram que provavelmente enviarão o presidente para a área de Orlando, na Flórida; para o condado de Montgomery, Pensilvânia, ao norte de Filadélfia; para Denver (Colorado) e Charlotte (Carolina do Norte). 

Obama provou ser particularmente bom em conquistar o apoio dos eleitores negros. Em 2004, 13,2 milhões de afro-americanos votaram na campanha presidencial; em 2012, mais de 17,6 milhões o fizeram. E Obama aumentou a proporção de eleitores negros que o apoiam, algo que a campanha de Hillary espera que ele também possa conseguir para ela. Em 2004, Kerry obteve 86% dos votos dos negros, enquanto em 2012, Obama obteve 96%.

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