Topo

Tentativa de reduzir o caos no metrô em Londres: não suba a escada rolante!

O metrô mais antigo do mundo é o de Londres, que começou a funcionar em 1869 - Reprodução/Weekendnotes
O metrô mais antigo do mundo é o de Londres, que começou a funcionar em 1869 Imagem: Reprodução/Weekendnotes

Steven Erlanger

Em Londres (Inglaterra)

19/06/2016 06h01

Talvez sejam todos os turistas, já que 18,6 milhões de visitantes estrangeiros estiveram em Londres no ano passado, um recorde. Talvez seja a "europeização" gradual do Reino Unido. Talvez tenha algo a ver com o trânsito bloqueado nas ruas antigas e toda a fumaça de diesel no ar.

Os carros ainda circulam à esquerda e as placas ainda instruem você a caminhar à esquerda. Mas atualmente reina o caos nas calçadas, escadas e escadas rolantes. Caminhar em qualquer lugar em Londres ou pelo metrô durante a hora do rush envolve uma dança louca e agressiva de se esquivar da maré contrária de pessoas, muitas das quais parecem ignorar a antiga tradição britânica de caminhar à esquerda. Isso sem contar aqueles absortos em seus smartphones ou bloqueando as saídas enquanto consultam o Google Maps.

A resposta para o trânsito, é claro, deveria ser o metrô. Mas o sistema está cronicamente sobrecarregado, e o movimento anual de passageiros, já em 1,34 bilhão, está aumentando cerca de 4% ao ano.

E está crescendo tanto que na Estação Holborn, uma das mais profundas e movimentadas de Londres, com mais de 56 milhões de passageiros por ano e escadas rolantes de 23,4 metros de altura, há um experimento para encorajar as pessoas na hora do rush a permanecerem paradas lado a lado nos degraus durante a subida.

A ciência é simples: preencher o espaço disponível nas escadas rolantes com pessoas, em vez de estas deixarem o lado esquerdo de cada degrau livre para os poucos que gostam de subir marchando a montanha de metal.

O metrô de Londres concluiu que, nas estações com escadas rolantes de mais de 18,5 metros de altura, grande parte do lado esquerdo das escadas rolantes permanece não usada, causando bloqueios e filas na parte de baixo.

Um teste de três semanas na Holborn no ano passado apontou que a ocupação de ambos os lados da escada rolante reduz o congestionamento em cerca de 30%. Na hora do rush, cerca de 16.220 pessoas podem subir pela escada rolante, em comparação a 12.745 nas condições normais.

Assim, foi iniciado um teste de seis meses na Holborn em abril. "Parece que está funcionando melhor", disse Kieron Racher, um integrante da Equipe de Requisitos Especiais do metrô de Londres. "Estamos aos poucos mudando a mentalidade das pessoas."

Mark Evers, o diretor de estratégias para os usuários do metrô de Londres, disse que os resultados ainda são ambíguos, "como era de se esperar a esta altura". Com o número de usuários crescendo tão rapidamente e dada a profundidade de Holborn, faz sentido realizar a experiência durante as horas do rush da manhã e da noite, ele disse, quando a estação fica particularmente infernal.

A Estação Holborn, inaugurada em 1906, atende uma movimentada parte comercial e acadêmica de Londres, perto do Museu Britânico, da Escola de Economia de Londres e da Praça Bloomsbury, e duas linhas importantes, Piccadilly e Central, passam por ela.

Durante muitas horas do rush noturno, os funcionários limitam o número de pessoas que podem entrar na estação ou a fecham por até dez minutos de cada vez, devido à lotação nas escadas rolantes e plataformas.

Peter McNaught, o diretor de operações do metrô de Londres, expressou otimismo com o experimento das escadas rolantes. "Esperamos que isso possa levar a uma melhora no congestionamento na Holborn, facilitando a viagem para todos os nossos usuários", ele disse.

É claro, nem todos estão contentes. Algumas pessoas, como Andrew Hossack, têm pressa em chegar ao trabalho. "Muitas pessoas sobem as escadas", ele disse. "Trata-se de tempo, não é?"

Algumas, como Beth Forrester, gostam do exercício de subir. "Eu sempre subo", ela disse.

Andrew Brenner disse que ficou parado naquele dia, "mas normalmente subo, porque parece estúpido ficar ali simplesmente parado".

Martin Dearden disse que costuma ficar parado. "Há pessoas demais", ele disse. "Suponho que assim ajuda mais pessoas a subirem mais depressa."

O departamento de ciência comportamental da Escola de Economia de Londres desenvolveu mensagens diferentes para encorajarem os usuários a permanecerem parados nos degraus da escada rolante.

Telas na base das escadas rolantes mostram um vídeo em repetição de funcionárias uniformizadas orientando as pessoas a permanecerem paradas lado a lado nos degraus. Há sinalização no piso, passos pintados em ambos os lados das escadas rolantes, versões eletrônicas das placas triangulares "permaneça à direita", e, é claro, anúncios na estação, que são difíceis de ouvir devido ao sistema inadequado de alto-falantes.

Mas, inteligentemente, o metrô também manteve uma terceira escada rolante, na extrema esquerda, é claro, para quem quiser subir como quiser, subindo a escada ou parado no degrau, sem controle oficial.

Se Holborn é um pesadelo, a Estação Victoria talvez seja pior, porque está passando há muito tempo por um projeto de reconstrução para lidar com o aumento de tráfego e para operar de forma eficiente com a extremamente movimentada estação de trem e ônibus dali.

Com as obras, somadas aos grandes projetos de construção próximos em uma área que está passando por um rápido adensamento provocado pela verticalização das edificações, as passagens próximas da estação são temporárias e estreitas, com superfícies irregulares e margeadas por tapumes de madeira pintados.

Elas ficam ainda mais estreitas devido aos pilares, moradores de rua e turistas perdidos, já que essas passagens costumam não aparecer nos smartphones e podem ser desorientadoras.

Assim, em condições normais elas já são difíceis, mas durante a hora do rush se transformam em terríveis percursos de obstáculos. Agravado, é claro, pela ruptura do tradicional hábito britânico de caminhar à esquerda.

Em vez disso, corpos preenchem todo o espaço disponível, especialmente quando as pessoas esperam nas faixas de pedestres ou olham ao redor para ver se dá para atravessar, e então avançam na sua direção como uma falange romana, com ombros e sacolas de compras em vez de escudos.

E, é claro, nesta terra da Magna Carta, alguns consideram ser seu direito, como ingleses livres, fazer o que bem entendem, sem que Bruxelas ou o metrô de Londres lhes diga o que fazer.