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Após lutar contra vício em pornografia, americano cria site para ajudar dependentes

Alexander Rhodes, 26, hoje ajuda outros homens a se livrarem do vício - Kristian Thacker/The New York Times
Alexander Rhodes, 26, hoje ajuda outros homens a se livrarem do vício Imagem: Kristian Thacker/The New York Times

Sridhar Pappu

09/07/2016 06h00

Alexander Rhodes estava sentado em um trecho de grama, olhando para o rio Allegheny. Nós dois estávamos em um lugar tranquilo nos arredores de Pittsburgh, onde pretendíamos passar a noite acampados em barracas.

"O principal a considerar é que não sou um empresário muito bom", disse ele. "Na verdade, não passo de um cara que era viciado em pornografia na internet."

Alguns anos atrás, Rhodes, 26, fundou um site na web como um espaço online destinado a ajudar outros que têmesse mesmo problema. Ele diz ter cerca de 1 milhão de visitantes únicos por mês, e que quase paga os custos.

Rhodes, que cresceu no oeste da Pensilvânia e trabalhou no Google até recentemente, agora espera transformar seu site em algo maior. Com a ajuda de seu pai e outros parentes, ele está transformando parte de uma igreja abandonada em uma base de operações para sua nova empresa.

"Uma coisa é olhar para trás e lamentar o que aconteceu em termos de crescer sendo viciado em pornografia na internet", disse ele. "Você poderia olhar para trás e pensar: 'Puxa, sou um fracassado. E se eu nunca tivesse visto aquilo minha vida seria muito melhor'. Talvez seja verdade. Mas ao mesmo tempo o fato de que eu fui viciado em pornografia na internet, o fato de que eu era tão medíocre, me torna especialmente qualificado para ajudar a humanidade."

Nos últimos anos, Rhodes se destacou como porta-voz contra uma "doença" que ainda não foi reconhecida oficialmente pelo meio médico. Ele parecia desconfortável em sua nova posição.

Tomava muito cuidado com cada palavra e pedia para falar em "off" com jornalistas mais vezes que um membro do governo. E não quis confirmar se estava envolvido com alguém, dizendo apenas que desde que abandonou a pornografia "de uma vez" em 2013 conseguiu ter relacionamentos significativos com mulheres.

De certa maneira, sua história é a da era digital. Seu pai era um programador de computador, e ele foi exposto à tecnologia digital desde o início. Gravitou para o Game Boy da Nintendo e afinal mudou para Nintendo 64 e Sony Playstation.

Por volta dos 11 anos, disse ele, clicou em um anúncio por engano e viu uma imagem que mostrava um estupro. Quando chegou à adolescência, junto com a internet, Rhodes começou a ver pornografia em alta definição, que era fácil de encontrar e muitas vezes grátis. Na faculdade, ele se masturbava assistindo sexo até 14 vezes por dia.

"Eu dizia: 'Está bem, preciso tirar alguns dias para me recuperar disso, como uma recuperação física'", contou. "E não conseguia nem por um dia."

A aparente dependência de Rhodes da pornografia não ajudou as coisas com sua primeira namorada, com quem começou a sair quando estava no segundo ano da Universidade de Pittsburgh. Foi sua primeira oportunidade real de intimidade duradoura, e ele a desperdiçou.

"Não acho que tudo se deveu à pornografia ", disse ele. "Mas posso lhe dizer que a vida sexual não ia muito bem. Eu tinha disfunção erétil induzida pela pornografia --uma forma muito suave, e isso tudo é muito autodiagnosticado, porque os médicos não diagnosticam--, mas eu conseguia manter uma ereção fantasiando sobre pornografia. Era a única maneira."

Tempo de mudança

Em 2011, Rhodes estava perdido e em busca de ajuda. Ele criou um fórum de discussão no Reddit sobre o tema da abstinência da masturbação e pornografia. Então percebeu que não era de modo algum o único e começou seu site pessoal pouco depois.

Após a faculdade, Rhodes continuou aumentando o site enquanto trabalhava como terceirizado para o Google, especializado em análise de dados. Ele disse que ganhou um bom dinheiro e conseguiu investir uma parte no site (chama-se NoFap.com, referente a uma expressão da gíria para masturbação). Mas ele ainda praticava o suposto vício contra o qual lutava. Foi preciso mais um relacionamento fracassado para que ele parasse.

"Acho que eu contava com a pornografia como uma espécie de muleta emocional", disse. "Se alguma coisa ruim acontecia, eu corria para a pornografia, porque estava sempre lá."

"Eu sabia que era ruim para mim", disse ele. "Mas também percebia que era ruim para as mulheres com quem eu me envolvia, e foi nesse momento que eu disse: 'Preciso deixar isso para trás. Está distorcendo completamente minha sexualidade, a ponto de ser prejudicial ou pelo menos desagradável para as pessoas com quem me envolvo'."

Rhodes passou a acreditar que tinha uma vocação maior que a de trabalhar com análise de dados no Google. "Não foi uma decisão fácil", disse ele sobre deixar o emprego, no ano passado. "Mas afinal era o melhor para a humanidade."

O site serve como um guarda-chuva online para homens que tentam escapar da pornografia. Ele tem anúncios de software que bloqueiam pornografia e programas online que promovem a ideia de livrar-se da pornografia e da masturbação.

O site também tem fóruns de discussão e inclui depoimentos de homens sobre seus sucessos e fracassos. E ajuda a encontrar homens como "parceiros de responsabilidade", que atuam como os padrinhos do Alcoólicos Anônimos para manter a pessoa no caminho certo. O site gera receita por meio de assinaturas e publicidade, disse Rhodes.

Para transformá-lo em algo mais robusto, Rhodes precisava "se assumir" como uma espécie de porta-voz. Depois que ele apareceu em uma reportagem numa revista de Nova York em 2013 sobre homens que tinham abandonado a masturbação, ele contou a sua mãe o que estava acontecendo, para horror dela. Outras entrevistas se seguiram.

Embora sua família continue a apoiá-lo, há limites. Quando ele mostrou à sua mãe um artigo recente na revista "Time" que o citou, ela disse, brincando: "Eu não deveria estar lendo esse tipo de coisa sobre meu filho", contou Rhodes, lembrando a reação da mãe.

A confissão

No primeiro dia em que visitei Rhodes, subimos a escada da antiga Igreja de São Clemente em Tarentum, Pensilvânia. A construção, de 1906, estava abandonada há muito tempo, com os bancos, o confessionário e a escola anexa ruindo e juntando poeira.

Seu pai, Phillip Rhodes, havia recentemente comprado o amplo complexo em um leilão por US$ 50 mil. Enquanto a igreja provavelmente abrigará outros negócios, Rhodes filho vê um futuro lá para ele e um negócio totalmente desenvolvido.

Ele se sentou em um lado do confessionário na igreja enquanto eu me sentei do outro. "Diga-me quando foi a última vez que você assistiu pornografia", disse eu, brincando.

Apesar do local, ele de modo geral se mantém afastado de pessoas religiosas, especialmente evangélicos que querem unir-se a ele, embora tal relacionamento pudesse ajudar a financiar seu trabalho.

"Eu tenho pontos de vista que não combinam com os deles", explicou Rhodes. "Sou muito positivo em relação ao sexo. Não sou uma pessoa religiosa. Não sou alguém que apoia a religião. Não sou contra a religião, mas não a apoio. E acredito firmemente no sexo antes do casamento."

Rhodes disse que ele também suportou a ira de pessoas na outra extremidade do espectro ideológico. As pessoas tentaram --sem sucesso-- hackear os servidores do site e seus fóruns foram bombardeados com imagens pornográficas, segundo ele. Seu pai recebeu pornografia pelo correio, disse Rhodes, e ele mesmo recebeu ameaças de morte.

"É simplesmente algo que você tem de enfrentar e deixar que as autoridades adequadas façam o que devem", afirmou.

Em breve ficaria terrivelmente frio, e previ uma noite terrível de sono, apesar da barraca e de um saco de dormir supostamente térmico que eu tinha comprado.

Na manhã de nosso segundo dia, Rhodes sentou-se perto da fogueira apagada da noite anterior, com o laptop nos joelhos. Logo deixaríamos o acampamento, voltando para a cidade e a "civilização".

Mas primeiro ele tinha de apresentar um seminário na web para outro grupo de combate ao vício em pornografia. Durante o bate-papo, ele falou com pessoas que perguntavam sobre como evitar as armadilhas. Conforme a sessão continuou, ele falou menos sobre pornografia do que sobre a necessidade de cuidar de si mesmo, física e emocionalmente. Falou sobre desenvolver bons hábitos e rotinas, sobre mudar a própria vida em geral.

Quando um profissional de saúde perguntou sobre fadiga e como ele acreditava que isso o levava à pornografia, Rhodes disse ao homem que precisava cuidar de sua saúde.

"É como quando você está em um avião", disse Rhodes. "E eles dizem: 'Você precisa colocar sua máscara de oxigênio antes de ajudar os outros a colocarem as deles'. É porque você poderia desmaiar enquanto tenta ajudar outros. Você tem de garantir que está em um lugar equilibrado para melhor servir aos outros, para melhor servir ao mundo."

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