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Trump prometeu não contar mentiras em discurso; veja se ele conseguiu

Yin Bogu/ Xinhua
Imagem: Yin Bogu/ Xinhua

Michael D. Shear e Nick Corasaniti

Em Cleveland (EUA)

22/07/2016 12h33

O discurso de aceitação de Donald Trump à canditura republicana para a Presidência dos EUA foi cheio de hipérboles no estilo do candidato e do tipo de retórica política que é difícil conferir. Mas também houve fatos.

Ao descrever os problemas que ele tentaria consertar a partir do Salão Oval, Trump ofereceu uma série de fatos negativos sobre o crime, a economia e a política externa. "Aqui em nossa convenção não haverá mentiras", disse ele.

Muitos fatos de Trump parecem verdadeiros, apesar de o candidato presidencial republicano às vezes não contar a história toda ou não dar todo o contexto que ajudaria a explicar seus números.

E em alguns casos os fatos pareciam inflados ou enganosos, parte de uma mensagem ideológica mais ampla que Trump esperava transmitir.

Aqui está nossa verificação de algumas afirmações feitas por ele:

"Os homicídios no ano passado aumentaram 17% nas 50 maiores cidades americanas. É o maior aumento em 25 anos."

Checagem:Essas estatísticas se baseiam em uma análise de dados preliminares de crimes divulgada pelo Departamento de Justiça, e refletem com precisão o que as autoridades dizem ser um pico de homicídios em algumas grandes cidades. A afirmação não leva em conta a queda em outras, como Nova York, que teve uma redução de 25% em homicídios no primeiro trimestre de 2016.

"Em nossa capital, as mortes aumentaram 50%. E quase 60% na vizinha Baltimore."

Checagem:Essas estatísticas se baseiam em uma análise realizada pelo jornal "The Washington Post", que não encontrou um padrão claro de aumento de homicídios nas cidades.

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New York Times

"Na cidade natal do presidente, Chicago, mais de 2.000 pessoas foram vítimas de tiros só este ano. E quase 4.000 foram mortas na área de Chicago desde que ele assumiu o cargo."

Checagem:Isto é em grande parte verdade. O Departamento de Polícia de Chicago relata 2.242 mortes por tiros em 2016. E embora não esteja claro exatamente o que Trump quer dizer com "a área de Chicago" esse número parece se referir aos homicídios relatados desde o início de 2009.

"O número de policiais mortos em serviço aumentou quase 50%, comparado com este ponto do ano passado."

Checagem:Na verdade, a Página Memorial de Policiais Abatidos, que acompanha as mortes de policiais, relata que 68 policiais foram mortos este ano, quase exatamente o mesmo número dos que foram mortos no mesmo período no ano passado (69).

"Quase 180 mil imigrantes ilegais com registro criminal, que receberam ordem de deportação de nosso país, hoje vagam livremente ameaçando cidadãos pacíficos."

Checagem: Esses números vêm de um relatório do Departamento de Segurança Interna, que disse ao Congresso no final do ano passado que quase 1 milhão de imigrantes sem documentos tiveram a deportação ordenada, mas continuavam no país. Trump não mencionou que a maioria dessas 180 mil pessoas provavelmente são acusadas de crimes não violentos.

"O número de novas famílias imigrantes ilegais que cruzaram a fronteira até agora este ano já supera o total de 2015."

Checagem: É verdade, segundo relatórios da Patrulha de Fronteiras, que disse que mais de 51 mil famílias foram apreendidas na fronteira nos primeiros nove meses do ano fiscal, comparadas com cerca de 40 mil no último ano fiscal. Mas isso ainda é menos que em 2014, quando uma onda de famílias cruzando a fronteira provocou uma comoção política.

"Quase 4 em cada 10 crianças afro-americanas vivem na pobreza, enquanto 58% dos jovens afro-americanos estão desempregados."

Checagem:Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho, o desemprego entre os afro-americanos de 16 a 19 anos em junho era de 31,2% (entre os brancos da mesma idade, 14,1%).

"As rendas familiares caíram mais de US$ 4.000 desde 2000."

Checagem:É verdade, de modo geral. A renda média familiar em 2000 era de US$ 57.724; em 2014, ano dos mais recentes dados disponíveis, era de US$ 53.657.

"Nosso deficit industrial alcançou um pico histórico -- quase US$ 800 bilhões em um único ano."

Checagem:O deficit de bens --mais bens importados, menos bens exportados-- foi de US$ 763 bilhões no ano passado. Mas ele inclui produtos agrícolas e matérias-primas como carvão. Além disso, o deficit comercial total no ano passado foi de apenas US$ 500 bilhões porque os EUA têm um superavit comercial em serviços.

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AFP

"O presidente Obama duplicou nossa dívida nacional para mais de US$ 19 trilhões, e ela está crescendo."

Checagem:A dívida nacional era de US$ 10,6 trilhões no dia em que Obama assumiu o cargo e de US$ 19,2 trilhões em abril, portanto não chegou a dobrar, mas quase.

"Quarenta e três milhões de americanos vivem de cupons alimentares."

Checagem:Em outubro, esse número era bastante preciso, segundo o Departamento da Agricultura.

"Em 2009, antes de Hillary, o Estado Islâmico nem estava no mapa. A Líbia cooperava. O Egito era pacífico. O Iraque estava enfrentando uma grande redução na violência. O Irã estava sufocado pelas sanções. A Síria estava sob controle."

Checagem:Trump está certo, em geral. Mas a Líbia, a Síria e o Egito foram varridos pela Primavera Árabe, um levante fora do controle de Hillary e de Obama. E as sanções ao Irã começavam a ser intensificadas na época; elas ficaram bem mais duras sob o governo Obama do que no governo Bush. Isso ajudou a forçar Teerã a negociar o acordo nuclear do ano passado.

"Isto foi logo antes da assinatura do acordo com o Irã, que devolveu ao Irã US$ 150 bilhões e não nos deu nada --e entrará na história como um dos piores acordos já negociados."

Checagem:O acordo não dá diretamente dinheiro ao Irã, mas ao atenuar ou cancelar as sanções daria ao Irã acesso a bilhões de dólares de seu dinheiro que foram congelados em contas no exterior. E o valor exato dessas sanções é discutível.

"Minha adversária pediu um aumento radical de 550% em refugiados sírios, além dos atuais fluxos maciços de refugiados que chegam a nosso país sob a liderança do presidente Obama."

Checagem:É verdade, como disse Hillary em setembro que queria "partir de um bom começo, com 10 mil a 65 mil". Mas ela também disse que aperfeiçoaria o já extenso processo de vetos, especialmente da Síria. 

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