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Distante dos barões da droga, colombianos veem futuro econômico na maconha

PharmaCielo cultiva crisântemos enquanto espera aprovação para plantar maconha - Jorge Panchoaga/The New York Times
PharmaCielo cultiva crisântemos enquanto espera aprovação para plantar maconha Imagem: Jorge Panchoaga/The New York Times

Ezra Kaplan

Em Rionegro (Colômbia)

06/08/2016 06h00

Assim como muitos barões da droga na Colômbia, Federico Cock-Correa quer vender seu produto globalmente. A apenas 25 quilômetros de Medellín, Cock-Correa pretende substituir uma vasta área de flores por plantas de maconha, com planos de exportar a colheita.

À diferença do brutal comércio de heroína e cocaína que um dia floresceram nas proximidades, porém, sua operação tem o selo de aprovação do governo.

No ano passado, o presidente Juan Manuel Santos liderou uma revisão das leis de drogas da Colômbia, que tinham 30 anos e formalmente legalizaram a maconha medicinal para uso doméstico. De modo crucial, a nova lei também permite o cultivo comercial, o processamento e a exportação de produtos medicinais da maconha --como óleos e cremes--, embora não a flor, a parte da planta que normalmente é enrolada em um cigarro.

As autoridades esperam que a medida prejudique o tráfico de drogas na Colômbia, criando uma oportunidade legal em uma indústria historicamente controlada pelo mercado paralelo. As autoridades acreditam que a nova lei também ajudará a atrair investimentos e dar um empurrão na economia, embora demore vários anos para que os investimentos deem um claro retorno.

"É saúde; é ciência; é a oportunidade de redimir o nome do país", disse Cock-Correa, que dirige a filial colombiana da empresa PharmaCielo, que pretende capitalizar com as novas regras. "É uma mudança de produzir a planta que mata para produzir a planta que cura."

Empresas colombianas como a PharmaCielo acreditam que poderão estabelecer uma base na indústria farmacêutica, assim como suas homólogas legais fizeram nos últimos anos. Nos EUA, a indústria da maconha continua atolada em choques entre a regulamentação local e a federal. Apesar de alguns Estados americanos terem legalizado a droga nos últimos anos, o governo federal atualmente proíbe a importação de qualquer produto da maconha.

"Pensamos que a Colômbia pode construir um negócio internacional de sucesso em torno da exportação de maconha medicinal", disse Alejandro Gaviria, ministro da Saúde da Colômbia, em um e-mail. "O país já está pronto para participar do emergente mercado global."

Estufas da PharmaCielo em Rionegro, Colômbia - Jorge Panchoaga/The New York Times - Jorge Panchoaga/The New York Times
Estufas da PharmaCielo em Rionegro, Colômbia
Imagem: Jorge Panchoaga/The New York Times

A PharmaCielo, sediada em Toronto (Canadá), foi fundada em 2014 e em junho passado tornou-se a primeira empresa da Colômbia a receber a licença do governo para fabricar produtos de cannabis. Ainda espera licenças para o cultivo.

Outras companhias a seguiram. Em julho, o governo concedeu licenças de produção para outra empresa canadense, a Cannavida, e a uma colombiana, Labfarve-Ecomedics. Ao contrário da PharmaCielo, esta última vai se concentrar no mercado interno, o que poderá permitir que comece mais depressa já que não precisará de licença de exportação.

Quando receber a aprovação, a PharmaCielo começará a plantar maconha e a processar o material em produtos médicos que possam ser exportados para o Canadá e outros países que permitem a importação de cannabis medicinal. Os EUA, por enquanto, continuam muito distantes.

"Em última instância, isto tem a capacidade de ser um mercado global na casa dos bilhões ", disse Anthony Wile, um investidor canadense que é um dos apoiadores da PharmaCielo. Jim Rogers, um cofundador com George Soros do fundo Quantum, também é um investidor.

Em um terreno de 13 hectares que será o local inicial da PharmaCielo, Cock-Correa expôs sua tese de por que a Colômbia é o lugar ideal para a produção de maconha, centrada no clima vantajoso e nas condições do solo do país.

Há um motivo pelo qual Pablo Escobar começou no mundo da droga colombiano traficando maconha.

Há mais de 50 anos, a região de Rionegro, nos Andes colombianos --onde ficam as terras da PharmaCielo--, é um dos melhores locais para a produção de flores com destino aos EUA e à Europa. A região responde por um quarto de todas as exportações da Colômbia, o principal fornecedor de flores dos EUA.

Estufas enormes, construídas com simples folhas de plástico branco amarradas em estacas e arame, pontilham as ricas montanhas verdes da região. O fértil solo vulcânico alimenta flores como crisântemos e cravos o ano inteiro.

No centro dos planos da PharmaCielo, porém, estão as finanças.

PharmaCielo cultiva crisântemos enquanto espera aprovação para plantar maconha - Jorge Panchoaga/The New York Times - Jorge Panchoaga/The New York Times
PharmaCielo cultiva crisântemos enquanto espera aprovação para plantar maconha
Imagem: Jorge Panchoaga/The New York Times

Quando a produção estiver em plena operação, a companhia espera produzir um grama de flores de maconha por cerca de US$ 0,05. A mesma quantidade custa pelo menos dez vezes mais para produzir nos EUA e no Canadá.

Na América do Norte, os plantadores de maconha geralmente têm duas alternativas: plantar ao ar livre, o que geralmente dá só uma colheita por ano, ou em armazéns fechados, o que usa muita energia elétrica.

As empresas que investem na Colômbia, porém, querem contar com os atributos naturais do país para romper esse padrão.

"Nosso crescimento vem do sol", disse Marcelo Siqueira, o diretor-chefe da PharmaCielo Colômbia. A empresa, em consequência, espera ter quatro colheitas por ano por um custo substancialmente mais baixo que as rivais norte-americanas.

Uma rede de reservatórios, enquanto isso, ajuda a conservar água e, por extensão, controlar os custos. A fertilidade do solo significa que a empresa dependerá menos de produtos como esfagno e fibras de coco para ajudar as plantas a crescer, assim economizando dinheiro e cortando o desperdício.

Por enquanto, porém, a PharmaCielo está em modo de espera. Enquanto aguarda as licenças necessárias, Cock-Correa está plantando flores na área da empresa.

Cock-Correa, que está no negócio de flores há 30 anos, diz que o processo de mudar a produção da fazenda é simples. Ele tem mão de obra treinada, a infraestrutura implantada e o solo pronto para plantar.

Quando conseguir as licenças, a companhia estima que poderá administrar 240 hectares de cultivo ativo em dois anos. Ele quer contratar outras fazendas próximas que hoje plantam flores.

Em um passeio pelo terreno inicial em maio, os canteiros ainda tinham flores. Os trabalhadores corriam para terminar de cortar e embalar novas flores em tempo para o Dia das Mães.
"Tudo isto será cannabis dentro de um ano", disse Cock-Correa.

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