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Bar do Bin Laden: onde os atletas olímpicos descontraem no Rio

Araújo (ao fundo) recebe clientes no Bar do Bin Laden, no Rio de Janeiro - Dado Galdieri/The New York Times
Araújo (ao fundo) recebe clientes no Bar do Bin Laden, no Rio de Janeiro Imagem: Dado Galdieri/The New York Times

Simon Romero

No Rio de Janeiro

17/08/2016 11h28

Depois de um longo dia tentando estabelecer recordes mundiais, ganhar uma medalha ou simplesmente terminar uma prova extenuante, até os melhores atletas do mundo querem relaxar.

Com a falta de opções de vida noturna nas torres futuristas da Vila Olímpica, porém, muitos competidores preferem fazer uma caminhada curta até um bar com um nome curioso: Bar do Bin Laden.

Sim, ele leva o nome do fundador da Al Qaeda, mas não por causa de um fervor extremista. É por causa da aparência do dono do bar, que tem uma longa barba e se parece com o cérebro dos devastadores atentados de 2001 em solo americano.

"Depois do 11 de Setembro, todo mundo começou a me chamar de Bin Laden por motivos óbvios", disse o comerciante, José Felipe de Araújo. "O apelido pegou, então decidi usá-lo em meu benefício."

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José Felipe de Araújo, dono do Bar do Bin Laden, no Rio de Janeiro
Imagem: Dado Galdieri/The New York Times

Araújo, 60, um ex-trabalhador braçal que abriu seu estabelecimento há mais de dez anos, recebe clientes sedentos do mundo todo com uma recepção calorosa, pratos de costela frita, pizzas e garrafas de cerveja "estupidamente gelada", como é costume no Rio de Janeiro, a primeira cidade da América do Sul a sediar uma Olimpíada.

Curiosamente, o bar malcuidado aqui nos subúrbios distantes do Rio, onde dezenas de clientes se reúnem até depois da meia-noite durante os jogos, não é o único no Brasil que leva o nome do saudita que foi caçado e morto no Paquistão em 2011.

Outro Bar do Bin Laden atrai uma clientela coberta de piercings no centro de São Paulo. O Bin Laden Espetinhos Bar serve essa especialidade em Belo Horizonte. No interior de Pernambuco, no nordeste, na cidade de Salgueiro, um Bar Bin Laden serve iguarias como torresmo, a pele de porco frita.

Embora rejeitado na maior parte do Ocidente, o nome Bin Laden geralmente não carrega o mesmo estigma no Brasil, país que não sofreu os ataques terroristas em grande escala que causaram pavor em outras partes do mundo. Um senso de rebeldia e desafio também influi na proliferação do fenômeno.

Um dos mais populares cantores de funk do Brasil se chama --você adivinhou-- MC Bin Laden.

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Mykyta Nesterenko, atleta da Ucrânia, deixa sua assinatura sobre a porta do Bar do Bin Laden
Imagem: Dado Galdieri/The New York Times

Araújo, vestindo shorts de brim e sandálias, disse orgulhosamente que seus clientes vêm do mundo inteiro, refletindo um leque de nacionalidades e crenças políticas e religiosas. Oficialmente, seu estabelecimento se chama Pizzeria Specialle, mas quem pedir informações por esse nome no bairro onde ele vive com sua mulher e cinco filhos não o encontrará.

"Este é o Bar do Bin Laden", ele proclamou enquanto fritava bifes para seu prato principal, uma montanha de comida em um prato que inclui arroz, feijão, macarrão e carne. Custa cerca de US$ 4,40 (R$ 14,00), uma fração do que se gasta em um dos restaurantes mais chiques perto das instalações olímpicas. Em uma noite desta semana, visitantes sul-africanos, eslovenos, coreanos e ucranianos bebiam cerveja perto das mesas de bilhar, ao lado de operários da construção que devoravam a comida de Araújo.

"A Vila Olímpica é entediante e a comida, bastante monótona", disse Carlos Vizcaino Sánchez, 48, um emigrado cubano que treina atletas das Seychelles, país de 115 ilhas no oceano Índico.

"Nunca pensei que encontraria Bin Laden no Rio, mas aqui está ele", disse Sánchez bebericando uma cerveja. "Estou contente por ter encontrado este pedaço do verdadeiro Brasil."

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Televisão transmite competição de ginástica da Olimpíada, no Bar do Bin Laden
Imagem: Dado Galdieri/The New York Times