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Descobridor da mulher de Trump é casado com brasileira e aproveita seus 15 minutos de fama

Hilary Swift/The New York Times
Imagem: Hilary Swift/The New York Times

Jason Horowitz

01/09/2016 06h00

Há dois fins de semana, Paolo Zampolli recebeu uma mensagem de texto de Melania Trump, a mulher do candidato republicano à presidência, pedindo que ele lhe telefonasse. No dia seguinte, Zampolli, um ex-agente de modelos que descobriu a eslovena há 20 anos em Milão, escutou Melania Trump expressar sua angústia em torno de uma reportagem de fofoca no tabloide britânico "The Daily Mail", acusando ela e Zampolli de operarem um serviço de garotas de programa nos anos 90.

"Isso é ultrajante", disse Melania Trump no telefonema, segundo Zampolli, explicando que ela estava considerando processar o "Daily Mail" por declarações falsas e difamatórias. Ele disse que ela parecia "extremamente perturbada".

Zampolli, 46, parecia menos perturbado enquanto falava a respeito em um recente almoço de massa em sua casa em Gramercy Park, que é decorada com obras de Canaletto, De Chirico e Picasso. Vestindo uma camisa social com monograma e falando inglês com sotaque italiano, a figura antes constante nas páginas de fofoca de Nova York chamou a reportagem de "lixo" e "enojante", mas também parecia apreciar seu retorno às atenções.

Ele falou enfaticamente sobre seu papel central em um artigo no mês passado, explorando a história do visto de Melania Trump ("reproduzida em 550 publicações por todo o mundo"), e disse que daria mais entrevistas sobre o artigo do "Daily Mail" naquele dia.

melania - Chang W. Lee/The New York Times - Chang W. Lee/The New York Times
Imagem: Chang W. Lee/The New York Times


Ao retornar aos holofotes, Zampolli, um incansável autopromotor de meios misteriosos, traz à disputa presidencial de 2016 um lembrete explícito das companhias que os Trump e Clinton mantinham atrás dos cordões de veludo no auge da Nova York do final do século 20. Para dois casais acusados com frequência de terem uma visão de mundo excepcionalmente transacional, Zampolli é tanto um Zelig quando um emblema de colarinho aberto das águas sociais nas quais eles nadavam.

Ele obteve o visto americano para Melania Trump e a apresentou ao seu futuro marido em uma festa em 1998, que ele deu no Kit Kat Club. (As festas de Zampolli contavam com um jacaré, filhotes de tigre e modelos de casas noturnas jogando beijos para as câmeras da "Fashion Television".)

Ele voou com Donald Trump no jato do candidato para o casamento do magnata em Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida. Lá, ele disse, "fui apresentado a Hillary por Huma", referindo-se a Huma Abedin, que ele disse que conhecia de eventos em Nova York.

Àquela altura, ele disse, ele já tinha se encontrado com Bill Clinton "muitas, muitas, muitas" vezes. Ele chamava o antigo assessor de Bill Clinton, Doug Band, de "Dougie" e era próximo de Ronald Burkle, o investidor bilionário que já foi um amigo próximo, fornecedor de jatos particulares e parceiro de negócios de Bill Clinton. (Bill Clinton "não vinha às festas comigo e as modelos", disse Zampolli.)

melania e trump - Joe Fornabaio/The New York Times - Joe Fornabaio/The New York Times
Imagem: Joe Fornabaio/The New York Times
A campanha de Hillary, Donald Trump e Burkle se recusaram a comentar sobre Zampolli. Mas Melania Trump escreveu em uma declaração na quinta-feira passada: "Eu conheço Paolo Zampolli desde 1995, quando nos encontramos pela primeira vez em uma agência de modelos em Milão. Ele adorou meu portfólio e me encorajou a expandir minha carreira para Nova York. Paolo era um agente muito profissional e ainda continua sendo um amigo. As declarações difamatórias feitas pelo 'The Daily Mail' são 100% falsas".

Atualmente, Zampolli trocou o ramo da moda por imóveis e assuntos diplomáticos. Em 2013, ele se tornou, por nomeação, o embaixador de Dominica na ONU, um país do qual não é cidadão. Uma modelo brasileira, Amanda Ungaro, sua mulher há uma década e mãe de seu filho pequeno, se tornou embaixadora de Granada na ONU, também por nomeação.

Em seu escritório, ao lado de fotos posando com Bill Clinton e com o jato de Donald Trump, há centenas de fotos emolduradas dele com dignitários. Sua paixão agora, ele diz, é manter a vida marinha, e lançou uma organização chamada We Are The Oceans, (Nós somos os oceanos), pois "se o oceano morre, nós morremos".

Filho único, Zampolli foi criado em uma família milanesa rica e dirigiu brevemente uma empresa de brinquedos que herdou de seu pai (que morreu quando Zampolli tinha 18 anos), antes de decidir que Milão era "pequena demais" e a vendendo para um grupo sob controle de Silvio Berlusconi.

Zampolli estava de olho em outros entretenimentos. Em 1994, ele organizou o concurso de modelos "Look of the Year" em Ibiza, Espanha ("Patrocinado pela Replay Jeans", ele disse, por hábito). Ele então se tornou amigo de John Casablancas, o fundador da agência de modelos Elite, que sugeriu que ele se mudasse para Nova York para trabalhar no ramo.

Ele alugou um apartamento na Union Square e conheceu Donald Trump, cuja grandiosidade ele admirava e que, como ele, era uma presença constante no circuito de casas noturnas da cidade.

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Efe

"Ambos tínhamos um interesse comum", disse Zampolli. "Ambos gostávamos de coisas bonitas."

Zampolli bebia Diet Cokes com Donald Trump, um abstêmio, na área exclusiva da badalada casa Moomba e se juntava a ele em outros redutos de modelos e celebridades como o Bowery Bar. Ele também viajava pelo mundo à procura de talentos para sua agência e conheceu Melania Trump em uma chamada de elenco.

O italiano lembra de ter perguntado a ela: "Você gostaria de ir para Nova York para experimentar o mercado?" onde, ele explicou, ela poderia ganhar mais dinheiro. "Eu teria muito interesse", ela respondeu segundo ele.

"Ela era uma garota muito bonita com a cabeça no lugar", disse Zampolli.

Zampolli disse que obteve um visto H-1B para Melania Trump, chamando o processo de "muito fácil". Ela se mudou para o mesmo prédio na Union Square onde ele morava. Ele disse que o fotógrafo de uma foto de Melania Trump nua, que surgiu no mês passado na primeira página do "The New York Post", datou incorretamente as fotos como sendo de 1995, o que levantou dúvidas sobre se ela já tinha trabalhado nos Estados Unidos antes de obter o visto de trabalho.

"Eu falei com o advogado que cuidou do visto; meu entendimento é que ela veio em 96", ele disse, acrescentando: "Eu não tive nada a ver com o 'green card' (o visto de residência permanente nos Estados Unidos)".

No final de 2004, a sorte de Zampolli no ramo de modelos se esgotou e ele perdeu um leilão público para compra da agência Elite. Após cuidar de um desfile da Victoria's Secret, ele foi a um pequeno banquete em seu restaurante favorito, o Cipriani Downtown, onde com frequência comia duas vezes por dia, com o casal Trump e David Copperfield, o ilusionista e antes namorado da modelo Claudia Schiffer.

Ele tinha perdido sua top model e Donald Trump lhe disse: "Se você perder sua supermodelo, você sairá dos negócios. Mas seu eu perder meu superintendente, tenho milhares à procura daquele emprego no dia seguinte". Ele acrescentou que Donald Trump lhe disse: "Paolo, você é bom demais para a indústria da moda. Você deveria vir trabalhar comigo".

Ele olhou para Melania, que sorriu.

Zampolli entrou no ramo imobiliário como diretor de desenvolvimento internacional de Donald Trump. ("Ciao, Paolo! O casamenteiro de Donald troca modelos por coberturas", disse uma manchete do "New York Observer".)

Ele teve algum sucesso, mas também considerou Donald Trump um chefe duro. E quando Zampolli negociou um acordo para compra a casa de seus sonhos na Trump Park Avenue, Donald Trump o vetou, dizendo, "Preciso de muito mais", disse Zampolli.

Zampolli disse que logo depois deixou Donald Trump, pois o empreendedor parou de construir e "não havia muito o que fazer". Em vez disso, ele começou a transportar clientes em um Rolls-Royce e helicópteros como fundador do Paramount Group. A empresa ganhou manchetes por usar ex-modelos como corretoras para venda de apartamentos de luxo.

Na época, Zampolli explicou seu pensamento à "CNBC". "As moças lindas", ele disse. "Elas conhecem as pessoas mais ricas e poderosas do mundo e algumas delas mantêm essa conexão."

 

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