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Papel higiênico ajuda avião de socorro médico a aterrissar na Austrália

Cari Vander Yacht/The New York Times
Imagem: Cari Vander Yacht/The New York Times

Michelle Innis

06/10/2016 06h00

É uma cena e tanto para se anunciar a chegada de um médico de emergência: 30 rolos de papel higiênico flamejantes.

Nos vastos e poeirentos pastos do norte da Austrália, o socorro médico de emergência só chega de avião. Para Geoff Cobden, piloto do Royal Flying Doctor Service, isso muitas vezes significa aterrissar durante a noite ou decolar a partir da pista de terra de uma fazenda de gado. Para tornar essa pista visível no escuro, a fazenda geralmente acende sinalizadores. Mas e quando acaba o estoque?

"Não costuma acontecer, mas quando não há sinalizadores, nós colocamos fogo em rolos de papel higiênico", diz Cobden, 51.

Melanie Smith, gerente de uma hospedaria na imensa fazenda de gado de Canobie em Queensland, explica como é feito: "Você encharca os rolos de papel em diesel, coloca-os em latas vazias de abacaxi ou de café e enfileira 30 delas", diz.

Então você fica atento ao som das hélices e observa o céu. Quando o Beechcraft B200C bimotor de Cobden aparece, ela diz, está na hora de acender os rolos de papel higiênico, que queimarão durante cerca de meia hora.

A hospedaria, Burke and Wills, fica muito distante de qualquer lugar. Ela serve refeições, vende combustível e consegue acomodar até 50 hóspedes. Não tem sinal de celular. Eles compram o papel higiênico a granel.

"Algumas propriedades são tão remotas, que se leva meio dia dirigindo desde o portão principal até a casa", diz Cobden, que voa cerca de 170 mil milhas por ano. "Não tem como pegar a estrada para ver um médico."

Seu avião, que normalmente acomodaria 10 pessoas, é adaptado como uma sala de emergência em miniatura, com duas macas para pacientes. Isso deixa espaço suficiente para um médico e uma enfermeira, mas não um copiloto.

Algumas das emergências mais comuns aqui são membros quebrados, picadas de cobra, acidentes de carro e de moto e ataques cardíacos, todos tratados no local quando necessário. "Já vi um médico fazer uma cirurgia em uma mesa de cozinha", diz Cobden.

Antes de uma aterrissagem noturna feita recentemente em Burke and Wills, Cobden falou por rádio com Smith e seu marido e pediu para que tirassem ninhos de cupim da pista. Uma mulher havia sido atingida por uma cerca pesada e teve de ser levada de avião por 676 quilômetros até o hospital mais próximo, em Townsville.

"Ela não conseguia se levantar", disse Smith. "Por sorte temos o médico voador". E os 30 rolos de papel higiênico.