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Com mau momento de Trump, Hillary reduz agenda para evitar chances de erro

A candidata democrata Hillary Clinton (esq.) com Ellen DeGeneres durante intervalo do programa Ellen Show, em Los Angeles - Lucy Nicholson/ Reuters
A candidata democrata Hillary Clinton (esq.) com Ellen DeGeneres durante intervalo do programa Ellen Show, em Los Angeles Imagem: Lucy Nicholson/ Reuters

Amy Chozick

14/10/2016 13h09

Na quinta-feira (13), Hillary Clinton pretendia tirar uma folga dos eventos de arrecadação de dinheiro em Los Angeles para participar do programa de TV de Ellen DeGeneres. Nesta sexta, ela voaria para Seattle para um jantar privado com apoiadores e na segunda (17) Billy Crystal, juntamente com Matthew Broderick e Lin-Manuel Miranda, serão os anfitriões em uma noite com doadores, com temática da Broadway, em favor de Hillary.

Com Donald Trump despencando nas pesquisas em meio a novas denúncias de agressão sexual e o constante furor sobre a gravação de "Access Hollywood", o que Hillary não fará é qualquer coisa que possa atrapalhar uma disputa que mudou robustamente a seu favor.

Ela entra na reta final da campanha presidencial com um otimismo cauteloso sobre o resultado. Diferentemente da maioria dos candidatos presidenciais, que passam as últimas semanas antes da eleição realizando uma série de grandes comícios, Hillary parece não ver motivo para lotar sua agenda. Depois de quinta-feira, a candidata democrata não tinha aparições públicas marcadas pelo resto da semana, e sua campanha não anunciou outros eventos antes do terceiro debate com Trump na próxima quarta-feira (19) em Las Vegas.

Assessores salientam os comícios na Flórida, no Colorado e no Arizona nesta semana e dizem que Hillary passou seu tempo livre preparando-se para os debates. Eles criticaram Trump por se recusar a preparar-se para os confrontos, em seu detrimento. Mas a agenda relativamente leve de Hillary também indica uma nova confiança no interior da campanha, enquanto ela tenta conseguir os votos de eleitorados específicos e evita cometer algum erro.

Depois de um setembro agitado, Hillary alcançou uma vantagem de 11 pontos sobre Trump na disputa de quatro candidatos, contra 6 pontos no mês passado, segundo uma pesquisa da NBC News/Wall Street Journal realizada no fim de semana. Os democratas esperam que essa margem se amplie depois do segundo debate presidencial, da gravação que surgiu na semana passada em que se ouve Trump fazer comentários obscenos sobre mulheres e das novas acusações de assédio sexual.

Na segunda-feira (10), Hillary reuniu a maior multidão até agora, 18,5 mil pessoas, para um comício noturno ao ar livre na Universidade Estadual de Ohio em Columbus. Quase 2,7 mil eleitores participaram de um comício na quarta-feira (12) em Pueblo, no Colorado. Assessores de campanha atribuem o maior público à fúria sobre o que eles chamam de tática de terra arrasada de Trump.

"Acreditamos que as pessoas estão comparecendo para demonstrar apoio por ela enfrentar Trump", disse Jennifer Palmieri, uma porta-voz da campanha de Hillary. "Estamos atingindo as metas no registro de eleitores, e o entusiasmo do nosso lado está crescendo."

Em uma paisagem fraturada de notícias na mídia, porém, um comício ruidoso tem menos força que antes, e assessores dizem que podem alcançar os eleitores com maior eficácia por outros meios. E as manchetes sobre Trump ultimamente salientam a antiga tese da campanha de Hillary de que dominar o noticiário nacional nem sempre é bom.

Os comícios também podem ser arriscados.

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AFP

Um apresentador de rádio conservador e apoiador de Trump, Alex Jones, ofereceu um prêmio em dinheiro a qualquer pessoa que interromper os eventos de Hillary com refrões acusando Bill Clinton de estupro. Dois manifestantes foram retirados do comício de Hillary em Miami na segunda-feira, onde ela e Al Gore falaram sobre a mudança climática em um evento dirigido a jovens eleitores.

Hillary tem um grupo de líderes democratas que fazem campanha em seu nome, incluindo seu marido; o presidente Barack Obama e Michelle Obama; o vice-presidente Joe Biden; e os senadores Elizabeth Warren, de Massachusetts, e Bernie Sanders, de Vermont.

"Neste momento, eles sabem que se ela não está por aí gerando notícias é muito mais interessante cobrir o que Donald Trump disse hoje", disse Russell J. Schriefer, um estrategista político republicano que foi assessor sênior de Mitt Romney. "Eles sabem que afinal isso os beneficia."

Hillary realizou 19 comícios nos 38 dias desde o Dia do Trabalho (5 de setembro neste ano), o pontapé inicial oficial da campanha para a eleição geral, comparados com 32 comícios de Trump, segundo uma contagem de "The New York Times". Mas ela teve uma série de eventos para captar fundos, visitas a centros comunitários e pequenas mesas-redondas dirigidas a eleitores específicos.

Em Charlotte, na Carolina do Norte, neste mês, Hillary falou em uma igreja de afro-americanos e depois em um debate com líderes comunitários sobre a recente morte a tiros pela polícia de Keith Lamont Scott e os posteriores tumultos na cidade.

A conversa modificou a impressão que Shaun Corbett, 37, dono da barbearia Da Lucky Spot, tinha de Hillary.

"Entendo por que muita gente diz que ela é fria", disse Corbett. "Mas eu vi que ela é justa em suas opiniões."

O contato direto com eleitores como Corbett pode ser mais valioso que comícios com multidões que já a apoiam.

"Tem que ser qualidade antes de quantidade, retorno sobre o investimento", disse Tracy Sefl, uma estrategista democrata que assessora a campanha sobre comunicação com mulheres.

A campanha de Hillary espera que pelo menos 40% dos votos nos Estados mais disputados sejam dados antecipadamente.

"Na verdade, pensamos que Estados como Nevada, Carolina do Norte e Flórida poderão ser decididos antes do dia da eleição", disse Robby Mook, o diretor da campanha.

Os democratas dizem que apesar do sólido desempenho de Hillary nos dois primeiros debates ela ainda participará de seu habitual "acampamento de debate" e intensas sessões de preparação com assessores em Westchester, Nova York e Las Vegas.

Depois do último debate, Hillary deverá fazer seu discurso de encerramento com uma agenda mais cheia de comícios e poderá até fazer escalas em Estados mais difíceis, como Geórgia e Arizona, onde a margem se estreitou.

"Não consideramos nada garantido", disse Joel Benenson, estrategista e pesquisador-chefe de Hillary. "Você faz campanha até o fim, olha regularmente para o que está à frente e administra tempo e recursos para obter o maior valor do tempo da candidata ao percorrer o país."

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