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Genro de Trump busca caminho legal para cargo na Casa Branca

Jared Kushner, genro de Donald Trump, na Trump Tower, em Nova York - Ruth Fremson/The New York Times
Jared Kushner, genro de Donald Trump, na Trump Tower, em Nova York Imagem: Ruth Fremson/The New York Times

Julie Hirschfeld Davis e Maggie Haberman

Em Washington (EUA)

19/11/2016 06h02

Jared Kushner, genro do presidente eleito Donald Trump, conversou com um advogado sobre a possibilidade de se juntar ao novo governo, uma medida que poderia violar a lei federal antinepotismo e provocar contestações legais e reação negativa política.

Kushner, 35, o marido da filha mais velha de Trump, Ivanka, e um conselheiro influente de seu sogro durante a campanha presidencial, planejava voltar ao seus negócios pessoais após a eleição.

Mas na manhã após a vitória de Trump, Kushner começou a discutir a possibilidade de assumir um papel na Casa Branca, segundo duas pessoas informadas sobre as conversas, que pediram anonimato para descrever o pensamento de Kushner.

Trump está pedindo a seu genro que se junte a ele na Casa Branca, segundo uma das pessoas informadas. O sentimento do presidente eleito é compartilhado por Stephen K. Bannon, estrategista chefe para a Cada Branca, e por Reince Priebus, que foi nomeado chefe de gabinete. Kushner acompanhou Trump à Casa Branca em 10 de novembro, quando o presidente eleito realizou sua primeira reunião pessoal com o presidente Barack Obama.

Kushner pode ser tão influente, apesar não tão conhecido, em Manhattan quanto seu sogro. Ele é um magnata do setor imobiliário por conta própria que, assim como Trump, comanda uma empresa fundada por seu pai. Sua influência se estende à mídia de notícias: ele é dono do jornal "The New York Observer". E a riqueza de sua família rivaliza a do clã Trump, ao qual se juntou quando se casou com Ivanka.

A perspectiva de Kushner se juntar à Casa Branca é motivo de preocupação para algumas pessoas próximas do presidente eleito, que disseram que ele se tornaria instantaneamente alvo de ataques legais e na mídia caso dê esse passo heterodoxo.

Kushner consultou ao menos um advogado e acredita que se abrir mão do salário e ao colocar seu fundo de investimento, sua holding imobiliária e seu jornal sob controle de uma curadoria independente, ele estaria livre das regras federais de nepotismo, segundo uma das pessoas informadas.

Advogados de ética de ambos os partidos disseram que esse arranjo violaria o estatuto federal criado para impedir que laços familiares influenciem o funcionamento do governo americano.

Segundo uma lei de 1967 após John F. Kennedy ter nomeado seu irmão, Robert F. Kennedy, como secretário de Justiça, nenhuma autoridade pública pode contratar um familiar, inclusive um relacionado por casamento, a uma agência ou cargo sobre a qual tem autoridade.

17.abr.2012 - Jared Kushner e sua mulher, Ivanka Trump, em coquetel na Suprema Corte do Estado, em Nova York - Casey Kelbaugh/The New York Times - Casey Kelbaugh/The New York Times
17.abr.2012 - Jared Kushner e sua mulher, Ivanka Trump, em coquetel na Suprema Corte do Estado, em Nova York
Imagem: Casey Kelbaugh/The New York Times

Um estatuto separado também torna crime, punível com multa e até dois anos de prisão, funcionários públicos aceitarem serviços voluntários que não são autorizados por lei, exceto em situações de emergência.

A lei antinepotismo "bloquearia Kushner sem exceção", disse Norman L. Eisen, que serviu como assessor jurídico de ética para Obama durante sua transição e na Casa Branca. Se Trump tentar contorná-la ao nomear Kushner como conselheiro de forma voluntária, ele acrescentou, ele estaria "pisando em terreno legal e constitucional muito sério".

"Nos momentos decisivos, na hora em que o presidente se vê diante de decisões difíceis, você vai querer que o conselheiro do presidente lembre-se que seu juramento ou cumprimento da Constituição vem em primeiro lugar, antes dos laços familiares", disse Eisen.

"Você precisa poder dizer não. É preciso poder manter a linha. É preciso poder ameaçar renunciar, e preciso poder de fato renunciar. Não é possível renunciar de ser o genro de alguém."

Richard W. Painter, um assessor jurídico de ética de George W. Bush, disse se recordar de ter informado a um alto funcionário que servia a Bush que ele estava legalmente impedido de conceder um estágio para seu filho na Casa Branca.

Painter baseou sua decisão na interpretação da lei antinepotismo pelo Escritório de Assessoria Jurídica do Departamento de Justiça durante o governo Jimmy Carter, que impediu o presidente de fazer o mesmo com seu filho.

"Eu lhe disse: 'Jimmy Carter não pôde fazê-lo. Se o presidente dos Estados Unidos não pode, você não pode fazer isso pelo seu filho'", lembrou Painter. "Eu fui xingado."