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Minicarro da polícia ajuda a "quebrar o gelo" com a população de Nova York

Policial patrulha região de Nova York em um carro Smart - Christian Hansen/The New York Times
Policial patrulha região de Nova York em um carro Smart Imagem: Christian Hansen/The New York Times

Rick Rojas

Em Nova York (EUA)

03/12/2016 06h00

Nos tabloides de Nova York e em blogs eles são chamados de "carros palhaços". O comissário de polícia anterior, Bill Bratton, descreveu os subcompactos como "carros anões", enquanto anunciava a expansão da frota no ano passado.

Mas a cidade não parece se cansar dos pequenos veículos em forma de feijão, que parecem curiosamente primos encolhidos do icônico carro de patrulha do Departamento de Polícia de Nova York e que não deixam de atrair a atenção, e às vezes a afeição, de pedestres curiosos.

Por isso, apesar das piadas, e em parte por causa delas, a agência está adotando ainda mais desses pequenos veículos, equipados com luzes azuis e vermelhas e o emblema do departamento.

Os Smart Fortwos, de dois lugares, estão tomando o lugar dos triciclos scooters que durante décadas ocuparam seu próprio espaço peculiar na enorme frota de veículos policiais da cidade, geralmente potentes.

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Mulher posa para foto ao lado de um carro da polícia de Nova York
Imagem: Christian Hansen/The New York Times

Os Smarts, porém, são mais seguros, baratos e fáceis de operar. Os policiais apreciam o ar-condicionado. Também há outro benefício inesperado: enquanto a polícia tenta projetar seu lado mais amistoso em uma era de baixa criminalidade, o Smart tem sido um quebra-gelo eficaz.

Entre a frota de milhares de veículos do departamento, que inclui Fords Explorer que correm para atender chamados pelo 911 e caminhões-guinchos que liberam as faixas de tráfego nas horas de rush, o Smart é possivelmente o único que tem sua foto habitualmente publicada nas redes sociais, descrito como "adorável" ou, no caso de um estacionado no West Village, "Liiiiindo".

"Ele é muito 'abordável'", disse o vice-comissário para serviços de apoio, Robert S. Martinez, que supervisiona os veículos do departamento. "As pessoas querem tirar fotos com ele, querem abraçá-lo, beijá-lo. É surpreendente."

Ele não tem sirene nem espaço para um detido, mas sua aparência se baseia muito na dos carros de patrulha policial, até as faixas azuis e o painel de mensagens rotativo. O RMP, sigla em Nova York de "radio motor patrol" (patrulha motorizada com rádio), há muito tempo é um símbolo da maior força policial municipal dos EUA, divulgado muito além dos limites da cidade por filmes e programas de televisão como "NYPD Blue" e "Law & Order".

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O carro está substituindo os triciclos scooters no trabalho de patrulhamento
Imagem: Christian Hansen/The New York Times

Foi uma imagem moldada principalmente pelos RMPs de uma era anterior: Chevrolets Caprice e Fords Crown Victoria. Os carros eram quadrados, duráveis e às vezes estavam sem uma ou duas calotas --emblemas de um departamento que cuidava de uma metrópole então mais violenta. Para algumas pessoas, os veículos representavam uma presença negativa; para outras, como Albert Roman, um detetive de narcóticos aposentado do Bronx, os carros transmitiam autoridade. "Eles representam algo", disse Roman, que restaura e coleciona RMPs aposentados.

Na primeira vez em que ele viu um dos Smarts, pensou que fosse uma brincadeira. "Para mim esses carros parecem meio bobos", disse Roman, embora reconheça que os motivos racionais para comprá-los fazem sentido.

Mas o carro envia uma mensagem, mesmo que não seja de poder.

Carro usado pela polícia de Nova York durante a crise de energia 1973 - Michael Evans/The New York Times - Michael Evans/The New York Times
Carro usado pela polícia de Nova York na época da crise de energia de 1973
Imagem: Michael Evans/The New York Times

"É bom ter uma coisa para romper o gelo", disse Michael Arad, o arquiteto que projetou o memorial do 11 de Setembro no World Trade Center. Um dos Smarts estacionados na zona sul de Manhattan chamou sua atenção recentemente e o levou a brincar com os policiais perto dele, que usavam coletes à prova de balas e carregavam fuzis, dizendo que eles provavelmente não caberiam no veículo.

"Acho que não teria brincado com eles se o carro não estivesse ali", disse Arad. "Eles também achavam o carro engraçado. Ele atrai as pessoas em uma época em que existe muita tensão no ar."

Os veículos com frequência tiveram um papel na política de policiamento. Nos últimos anos, em meio às crescentes tensões raciais entre comunidades minoritárias e a polícia, ativistas indicaram os grandes veículos blindados mobilizados em protestos em todo o país como sintomas da militarização da polícia.

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Os carros eram pintados com cores mais brilhantes para serem vistos por outros motoristas durante uma ação policial. Esta foto foi feita em março de 1938
Imagem: Wide World Photos/The New York Times

Inversamente, a polícia de Nova York usou carros como instrumentos para alcançar as comunidades, como um decorado com as cores do arco-íris e o lema "Assumido e Orgulhoso" para as comemorações do orgulho gay neste verão. (O prefeito Bill de Blasio, em uma entrevista coletiva, elogiou o carro como "um verdadeiro ato de solidariedade".)

Quase no mesmo instante em que os Smarts chegaram às ruas começaram a surgir fotos deles no Twitter e no Instagram, geralmente acompanhadas de uma legenda bem-humorada, brincando sobre cortes de verbas ou simplesmente perguntando o porquê. Um usuário do Reddit postou uma foto de vários carros estacionados em um terreno, chamando-o de "a mina". "Meu Deus!", respondeu outro. "Será que vão jogá-los do ar para um atendimento mais rápido?"

No bairro de Jamaica, na região de Queens, em Nova York, a 13ª Delegacia postou um tuíte com uma foto de policiais a cavalo olhando para o carro: "Você pode ser maior, mas eu sou mais inteligente", dizia o Smart. "Mas eu tenho mais cavalos-vapor", respondia o cavalo.

O departamento de polícia é uma das primeiras organizações de segurança pública do mundo a adotar esses carros, fabricados pela alemã Daimler, em grande número: 150 já estão em serviço e outros 75 chegarão em breve.

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Nesta foto de novembro de 1980, policiais fazem patrulhamento em Nova York
Imagem: Barton Silverman/The New York Times

Os carros custam nos EUA cerca de US$ 23.400 (R$ 81.200), comparados com US$ 29.500 (R$ 102.365) por um triciclo motorizado. E, ao contrário dos triciclos, os policiais não precisam ter licença de motociclista para conduzi-los. Eles também são mais espaçosos do que parecem. (A 72ª Delegacia no Brooklyn postou uma foto no Twitter de seu policial mais alto, com 1,95 metro, sentado à vontade atrás do volante.)

O triciclo [do tipo "tuc-tuc"] se limitava a 56 km/h, enquanto o Smart é rápido o suficiente para uma autopista. Mesmo assim, os policiais salientaram que ele ainda é mais visto como um scooter do que como um carro de patrulha.

"Quando você liga 911", disse Martinez, "não vem um triciclo."

Em uma manhã recente no Parque da Ponte do Brooklyn, um Smart percorria a beira-mar, com agilidade suficiente para fazer o retorno sobre uma calçada estreita. Às vezes ele parecia chamar quase tanta atenção dos turistas quanto a ponte.

Amy Braccio tinha acabado de atravessar o rio East em um táxi aquático, carregando um presente e um balão para a festa do segundo aniversário de seu sobrinho. Ela disse que o carro certamente é bom para puxar conversa.

"Eu o acho adorável", disse ela, antes de posar para uma foto, com a Ponte do Brooklyn e o perfil urbano de Manhattan preenchendo o horizonte atrás dela e um pequeno carro de polícia ao seu lado.