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Disputa entre países e resposta do EI. O que está por trás dos ataques no Irã?

atentado ira - Tima Agency via Reuters - Tima Agency via Reuters
Policial iraniano olha por janela do Parlamento após ataque no centro do Teerã
Imagem: Tima Agency via Reuters

Thomas Erdbrink*

07/06/2017 13h04

Pelo menos 13 pessoas morreram e várias ficaram feridas nesta quarta-feira (7) em dois ataques em Teerã. Estes foram os primeiros atentados reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico no Irã.

Na visão de muitos no Irã, o Estado Islâmico é essencialmente ligado a Arábia Saudita. Hamidreza Taraghi, um analista linha dura com vínculos com o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, disse que "o Estado Islâmico é ideologicamente, financeiramente e logisticamente apoiado e bancado pela Arábia Saudita. Eles são um único e o mesmo".

Um integrante da força de segurança iraniana disse que os ataques desta quarta-feira foram uma mensagem da Arábia Saudita para "ensinar uma lição ao Irã". Ele também disse que os ataques deveriam servir para "testar a reação do Irã".

Na manhã de quarta-feira, poucas horas antes dos ataques no Irã, o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, disse que o Irã "deve ser punido por sua interferência na região", e chamou Teerã de "principal apoiador mundial de terrorismo".

O Irã, por sua vez, tem acusado a Arábia Saudita de apoiar terroristas na região, dizendo que o reinado facilitou o crescimento de grupos extremistas sunitas, como o Estado Islâmico e outros grupos no Iraque e Síria.

Irã e a Arábia Saudita são nações líderes em lados opostos no Oriente Médio dividido entre islâmicos xiitas e sunitas. Irã tem militares no Iraque e na Síria e controla e financia milícias naqueles países e no Líbano. Teerã também tem influência na luta da etnia houthi contra o governo do Iêmen e e com frequência se pronuncia em apoio aos xiitas em Bahrein, um grupo majoritário que o Irã diz ser reprimido pela monarquia sunita.

O rei Salman, da Arábia Saudita, acusou o Irã de "líder do terrorismo global". Integrantes do governo saudita dizem que Irã está planejando controlar a região. A Arábia Saudita, um reino autocrático, também se opõe ao Irã no que se refere a ideologia política. O Irã possui um líder supremo, mas também um presidente, congresso e câmaras de conselheiros escolhidos em eleição com a participação de homens e mulheres.

Depois que a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e outros países cortaram laços com o Qatar, na segunda-feira (5), o Irã correu para preencher o vácuo e ofereceu enviar comida e remédios.

A decisão do Irã de apoiar Qatar é questionada por analistas. "Nós estamos errados ao buscar estreitar laços com o Qatar de repente", disse Saeed Layalaz, um economista próximo ao governo de Teerã. "Eles estão financiando grupos terroristas sunitas, da mesma forma que os sauditas fazem", acrescentou.

Raz Zimmt, um pesquisador do Instituto  para Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv, especialista em questões iranianas, disse que os ataques foram sem precedentes pelo fato de ter ocorrido no coração de Teerã.

"Não tenho dúvidas que o regime iraniano vai acusar o Estado Islâmico e a Arábia Saudita, já que isso serve para a posição oficial do Irã", disse em uma entrevista para uma rádio israelense. "Nós ouvimos nos últimos dois anos, mais ou menos, que se a Guarda Revolucionária parar de operar na Síria e no Iraque, os terroristas vão começar a agir no Irã".

Enquanto ataques terroristas se tornaram relativamente comuns na Europa e na maior parte do Oriente Médio, o Irã permanecia comparativamente mais segura. Durante as eleições presidenciais de maio, o presidente Hassan Rouhani frequentemente apontava para esse fato e exaltava as forças de segurança do país e as agências de inteligência pela vigilância.

Os ataques terroristas coordenados desta quarta-feira deram fim a este sentimento de segurança, um analista disse. "Hoje, foi provado que nós somos vulneráveis também", disse o analista Nader Karimi Joni. "Nós podemos prever mais ataques do Estado Islâmico agora que nós fomos derrotados por eles no Iraque e na Síria", acrescentou.

Terrorismo no Irã é relativamente raro. Os ataques de hoje ocorreram em um momento em que o Estado Islâmico enfrenta crescente pressão no campo de batalha. O território do EI no autodeclarado califado no Iraque e na Síria esta encolhendo. Forças com apoio dos EUA começaram uma operação para recuperar Raqqa, na Síria, a capital de fato do EI. Muitos combatentes do EI foram expulsos da cidade síria de Mayadeen. No Iraque, combates duros estão em andamento em Mossul.

Mokhtar Awad, um pesquisador de terrorismo na Universidade George Washington, nos EUA, disse que os ataques em Teerã foram uma tentativa do Estado Islâmico para finalmente atingir "um dos maiores pontos de discussão usados contra eles nos círculos jihadistas": a percepção de ser inábil para atacar o Irã.

"Eles foram ridicularizados por muito tempo", disse Awad. "Isto [os ataques no Irã] irá ajudá-los a alcançar a população de salafistas e jihadistas que agora vão ver o Estado Islâmico como o combatente genuíno de todos os inimigos do Islã".

"Agora eles mostraram que são capazes de levar o combate a Teerã", acrescentou.

Awad disse que o ataque poderia ser parcialmente motivado pelo desejo do Estado Islâmico em declarar vitória em algum lugar novo para aumentar a moral depois de derrotas em suas bases no Iraque, Líbia e Síria.

Apesar dos ataques possam ser o primeiro bem-sucedido do Estado Islâmico no Irã, não foi a primeira vez que o grupo teve o país como alvo. "Várias tentativas tem sido feitas desde 2015", disse Jean-Charles Brisard, chefe do Centro para Análises de Terrorismo, baseado em Paris. "Os ataques ocorreram depois de várias convocações do EI tendo como alvo o Irã. O último foi em março, quando os jihadistas do EI falando em farsi convocaram em um vídeo iranianos sunitas a atacar o Irã", disse.

*Fahim Abed, Anne Barnard, Mona Boshnaq, Rukmini Callimachi, Sewell Chan, Nada Homsi, Isabel Kershner, Mujib Mashal, Salman Masood, Rod Nordland, Hwaida Saad, Eric Schmitt, Jawad Sukhanyar e Nour Youssef contribuíram com a reportagem