Topo

Descanso? Trump joga, trabalha e tuíta muito durante suas férias

O presidente dos EUA Donald Trump acena ao deixar a Casa Branca a caminho de suas férias - Xinhua/Ting Shen
O presidente dos EUA Donald Trump acena ao deixar a Casa Branca a caminho de suas férias Imagem: Xinhua/Ting Shen

Peter Baker

Em Bridgewater, Nova Jersey (EUA)

08/08/2017 08h52

É assim que um dia de férias começa para o presidente Donald Trump. Ele acorda, liga a televisão, vê algo que o deixa louco, então pega seu smartphone para extravasar pelo Twitter.

Em outras palavras, se parece muito com a forma como ele começa seu dia de trabalho.

Assim, quando Trump protesta que não está realmente de férias, ao passar 17 dias neste mês longe de Washington, ele tem certa razão. Para Trump, não há férias das queixas e frustrações. Ele não define o dia a dia por meio desses delineamentos fáceis, como horas de trabalho e horas em casa. Ele pode adotar uma abordagem relaxada para o trabalho e pode se envolver em política de seu quarto em Bedminster, Nova Jersey.

Sem dúvida, nenhum presidente sai realmente em férias, não no sentido de escapar para a praia, esvaziar a cabeça e genuinamente deixar o trabalho de lado. Seja Bill Clinton em sua casa de luxo alugada em Martha’s Vineyard, ou George W. Bush em seu rancho perto de Crawford, Texas, o mundo sempre segue o presidente. Barack Obama estava cantando canções natalinas no Havaí quando um assessor o interrompeu para dizer que um homem com explosivos na cueca tentou explodir um avião de passageiros.

Assim como outros presidentes, Trump recebe seu briefing de inteligência diário na segunda-feira. Depois disso ele passa uma hora ao telefone com o secretário de Estado, Rex W. Tillerson, discutindo o confronto com a Coreia do Norte em torno de seu programa de mísseis balísticos.

Seu chefe de gabinete, John F. Kelly, passou o fim de semana com ele, e assessores disseram que o vice-presidente Mike Pence, o conselheiro de segurança nacional, o general H.R. McMaster, e vários secretários do Gabinete e conselheiros de políticas seguiriam até o clube de golfe do presidente para discutir a reforma da saúde, impostos e Afeganistão.

"Trabalhando arduamente em Nova Jersey enquanto a Casa Branca passa por uma reforma há muito planejada", escreveu Trump pelo Twitter. "Indo para Nova York na semana que vem para mais reuniões..."

O pessoal dele se mostra ávido em marcar mais reuniões, anúncios públicos e declarações. Por um lado, eles querem mostrar ao público que ele continua trabalhando duro, assim como as autoridades da Casa Branca fizeram durante outras férias presidenciais. Por outro, eles querem se certificar de que Trump será mantido o mais ocupado possível, entendendo que um presidente ocioso é uma forma de criar problemas.

Mas até o momento, têm sido férias longe dos olhares públicos. Trump chegou na noite de sexta-feira juntamente com sua filha, Ivanka Trump, e genro, Jared Kushner, Kelly e outros assessores da Casa Branca. Ele não foi visto em público desde então. Ele teria comparecido a uma cerimônia de casamento no clube no fim de semana, mas os jornalistas designados para sua cobertura não foram autorizados a colocar os pés na propriedade, nem conseguiram vê-lo desde sexta-feira.

ferias trump nyt - Al Drago/The New York Times - Al Drago/The New York Times
Trump segue para o clube de golfe Bedminster em suas férias
Imagem: Al Drago/The New York Times

Com a chuva na segunda-feira tornando o golfe não atraente, não ficou claro o que o presidente fez para ocupar seu tempo. Outros presidentes, incluindo Clinton, Bush e Obama, levavam pilhas de livros com eles nas férias, devidamente relatados por assessores. Mas Trump não é conhecido como leitor de livros. Bush adorava cortar o mato e andar de bicicleta em seu rancho, enquanto Clinton e Obama gostavam de jogar cartas. Trump não é visto com frequência com uma motosserra ou com um baralho.

A "CNN" contrastou de forma zombeteira as férias de Trump com as de seu par russo, Vladimir Putin, que foi exibido pescando sem camisa na Sibéria. Trump não é um pescador e nem tira com frequência sua camisa em público.

Mas ele assiste TV por assinatura. Por volta das 7h30 da manhã na segunda-feira, o senador Richard Blumenthal, democrata de Connecticut, foi à "CNN" para falar sobre a investigação dos possíveis laços entre associados de Trump e a Rússia durante e depois da eleição do ano passado. Trump supostamente estava assistindo, pois em questão de 15 minutos ele estava criticando Blumenthal.

"Interessante assistir o senador Richard Blumenthal de Connecticut falando sobre a farsa do conluio russo, quando ele foi um vigarista do Vietnã!" ele escreveu pelo Twitter. "Nunca na história americana alguém mentiu e enganou eleitores como o senador Richard Blumenthal. Ele contou histórias sobre suas batalhas e conquistas no Vietnã, quão corajoso foi, e era tudo mentira. Ele chorou como um bebê e implorou por perdão como uma criança. Agora ele julga conluio?"

Blumenthal recebeu pelo menos cinco dispensas da convocação militar durante a época da Guerra do Vietnã e depois entrou para a reserva dos fuzileiros, onde serviu em uma unidade em Washington. Mas como político, ele refere-se a si mesmo como tendo "servido no Vietnã" ou "servido durante a época do Vietnã". Um artigo do "New York Times”" expondo essas falsas declarações em 2010 não disse que ele contava histórias sobre batalhas ou conquistas no Vietnã, nem que chorou quando foi exposto.

Trump recebeu cinco dispensas da convocação militar: quatro por estar cursando a faculdade, um por esporão no calcanhar.

Blumenthal respondeu usando o meio favorito de Trump. "Sr. presidente, seu 'bullying' não funcionou antes e não funcionará agora. Ninguém está acima da lei", ele escreveu pelo Twitter. "Esta questão não se trata de mim, mas da independência e integridade do Investigador Especial."

Trump ainda estava fervendo a respeito nove horas depois. "Acho que o senador Blumenthal deveria tirar umas longas férias no Vietnã, onde mentiu sobre seu serviço, para que ao menos possa dizer que esteve lá", ele escreveu pelo Twitter.

Ao todo, Trump disparou 13 mensagens pelo Twitter antes do jantar, também atacando outros alvos favoritos, incluindo o "fraco" "New York Times". Como acontece com frequência, suas mensagens incluíam afirmações falsas. Ele disse que o "Times" pediu desculpas por sua cobertura da eleição no ano passado. (O "Times" não o fez.) E disse que o jornal tem "grandes perdas". (A receita cresceu 9% no último trimestre.)

Em uma declaração por meio de uma porta-voz, Danielle Rhoades Ha, o "Times" chamou as alegações de Trump de "incorretas" e notou que o jornal conta com 3,3 milhões de assinaturas pagas (o maior número já registrado) e lucro, renda e receitas crescentes. "Os negócios do NYT estão prosperando", disse o "Times" pelo Twitter.

Trump se queixou de que a "Mídia de Notícias Falsas" não estava dando a devida atenção à votação pelo Conselho de Segurança da ONU para aumentar as sanções contra a Coreia do Norte, e reclamou de não estar recebendo crédito suficiente pelas realizações de seus 200 dias de presidência. Ele pareceu particularmente interessado em defender que sua base ainda o apoia, apesar dos números gerais baixos nas pesquisas de avaliação de sua presidência.

"A base de Trump está maior e mais forte do que nunca (apesar de algumas pesquisas fajutas das Notícias Falsas). Veja os comícios na Pensilvânia, Iowa, Ohio e Virgínia Ocidental", ele disse pelo Twitter em uma série de mensagens. "O fato é que a história de conluio com a Rússia das Notícias Falsas, a alta recorde do mercado de ações, a segurança na fronteira, a força dos militares, empregos, escolha para a Suprema Corte, o entusiasmo econômico, desregulação e muito mais têm unido ainda mais a base de Trump. Isso nunca mudará!"

E nem ele, ele pareceu dizer, independente do dia ser considerado de férias ou não.