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Quem é Jarrod Ramos, o atirador que matou 5 pessoas em um jornal dos EUA

Jarrod Ramos, suspeito de matar cinco pessoas no escritório do jornal Capital Gazette, em Annapolis, Maryland. - Anne Arundel Police/José Romero/AFP Photo
Jarrod Ramos, suspeito de matar cinco pessoas no escritório do jornal Capital Gazette, em Annapolis, Maryland. Imagem: Anne Arundel Police/José Romero/AFP Photo

Timothy Williams e Amy Harmon

29/06/2018 13h24

Jarrod W. Ramos, que, segundo fontes policiais, usou uma espingarda para invadir a redação do jornal “Capital Gazette” na quinta-feira (28), matando cinco pessoas e ferindo outras duas, tinha uma briga antiga com o jornal.

Ele já havia feito anteriormente “ameaças gerais” contra o jornal comunitário nas redes sociais, inclusive na própria quinta-feira, segundo William Krampf, o chefe de polícia interino do condado de Anne Arundel. As ameaças “indicavam violência”, disse Krampf.

Ramos, de 38 anos, foi preso após o ataque. Ele foi encontrado escondido embaixo de uma das mesas. Até o ano de 2012, Ramos trabalhava para a Agência Federal de Estatística do Trabalho. Ele tem formação em engenharia da computação.

Uma briga antiga com o “The Capital”

Sua rixa com o “The Capital”, o jornal diário da rede, aparentemente começou com uma reportagem de 2011 que detalhava o suposto assédio cometido por ele contra uma colega de classe do ensino médio.

Depois que Ramos retomou contato com a colega em 2009, seus e-mails para ela logo se tornaram raivosos.

“Ele parece pensar que há alguma espécie de relacionamento aqui que não existe”, a mulher contou a um juiz, de acordo com documentos do processo por assédio que ela abriu contra Ramos.

Eu tentei me afastar, e ele começou a ficar agressivo e vulgar a ponto de eu precisar mandá-lo parar.”

Depois que ela pediu que ele não voltasse a contatá-la novamente, Ramos escreveu em um e-mail, em 2010, que a mulher deveria “se enforcar”.

Semanas mais tarde, a mulher foi colocada em um período de avaliação no banco onde ela trabalhava. Um supervisor disse que foi porque Ramos havia enviado um e-mail e também ligado para o banco dizendo aos gerentes que o banco devia demiti-la.

Um juiz deu a Ramos uma sentença de 90 dias, mas suspendeu o tempo de prisão, e, no lugar, o americano recebeu condicional antes do julgamento. Ele foi proibido de entrar em contato com a mulher e recebeu a ordem de continuar fazendo terapia.

Pouco tempo depois, o “The Capital” publicou a reportagem que aparentemente atiçou sua raiva.

28.jun.2018 - Policiais atendem a chamado de atirador que atacou a redação de um jornal em Annapolis, nos Estados Unidos - Greg Savoy/Reuters - Greg Savoy/Reuters
28.jun.2018 - Policiais isolam área próxima à redação do Capital Gazette após o ataque
Imagem: Greg Savoy/Reuters

Uma disputa judicial perdida

Ramos entrou com uma ação contra os proprietários do “The Capital” em 2012, alegando que o jornal o havia difamado ao relatar que ele tinha se declarado culpado em uma acusação de contravenção por assédio criminoso. Meses depois, ele entrou com uma ação mais completa por invasão de privacidade, mas o caso foi indeferido por um juiz no ano seguinte porque o sujeito foi incapaz de descrever como havia sido prejudicado pelo artigo do jornal.

Ramos, que foi seu próprio advogado no caso, recorreu da decisão. Mas em 2015 um tribunal de apelação confirmou a rejeição da ação do tribunal de menor instância, afirmando que ele demonstrava pouco conhecimento da lei de difamação e parecia não ter “aprendido a lição”.

Tom Marquardt, um ex-editor executivo e publisher do jornal, disse na noite de quinta-feira que há muito tempo ele temia que Ramos pudesse recorrer a um ato violento contra o jornal.

Uma vez disse a meus advogados que esse cara algum dia entraria aqui para atirar em nós.” 

Tom Marquardt, ex-editor 

“Eu estava preocupado por mim e por minha equipe que ele fosse fazer algo mais do que só entrar na Justiça”.

Destilando raiva no Twitter

Em novembro de 2011, Ramos começou a tuitar por meio de uma conta chamada @EricHartleyFrnd, na qual ele ridicularizou a reportagem sobre ele, escrita pelo repórter Eric Hartley, no “The Capital”, postou capturas de tela de documentos do processo relacionados com uma ação por difamação que ele havia iniciado contra o jornal, e reclamou de funcionários. Seus tuítes eram repletos de xingamentos e muitas vezes dirigidos diretamente a funcionários do “Capital”, como se estivesse tendo uma conversa contínua com eles.

“Viu só, Tom, ambas as escolhas estavam erradas”, ele escreveu no dia 12 de novembro de 2012, aparentemente referindo-se a Marquardt. “Você já escolheu isso muito tempo atrás. Mas publicar foi muito mais errado. Isso também era esperado de você”.

No dia 23 de abril de 2013, ele se dirigiu a Rob Hiaasen, uma das pessoas mortas no tiroteio de quinta-feira:

“Rob Hiaasen, você é um dos aristocratas babacas autorizados dele @capgaznews. As indenizações por danos morais vão chegar e você ainda não estará pronto. Com amor, /The Killjoy/[estraga-prazeres]”.

A conta ficou inativa após um tuíte no dia 21 de janeiro de 2016.

Mas, na quinta-feira, Ramos voltou a tuitar, com um xingamento contra um perfil do Twitter que ele parece ter criado com base em um juiz do caso de difamação, @judgemoylanfrnd.