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Oceanos recebem 25 milhões de toneladas de lixo ao ano, revela estudo

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Imagem: Shutterstock

Giovana Girardi

São Paulo

21/03/2018 08h44

Um estudo que revisou a literatura mundial sobre poluição marinha estimou que pelo menos 25 milhões de toneladas de resíduos são despejadas por ano nos oceanos. E a maior parte disso - 80% - tem origem nas cidades, em razão de uma má gestão dos resíduos sólidos.

O caminho é conhecido: sem descarte adequado, resíduos vão parar em lixões, muitos deles à beira de corpos d'água, que seguem pelo seu caminho natural até o mar. O trabalho, coordenado pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (Iswa), levou em conta estimativas sobre quanto resíduo não é coletado no mundo - algo entre 500 milhões e 900 milhões de toneladas - e cruzou esse dado com o mapeamento de pontos de descarte irregular em cidades perto do mar ou de corpos hídricos - daí uma estimativa mínima de pelo menos 25 milhões chegando ao mar.

Lixo no mar da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro - Domingos Peixoto/Agência O Globo - Domingos Peixoto/Agência O Globo
Lixo no mar da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro
Imagem: Domingos Peixoto/Agência O Globo

O estudo, divulgado nesta terça-feira, 20, no Fórum Mundial da Água, que é realizado em Brasília até o fim da semana, avalia que cerca de metade desse lixo que vai parar no oceano é plástico. E que cada tonelada de resíduo não coletada em áreas ribeirinhas representa o equivalente a mais de 1,5 mil garrafas plásticas que vão parar no mar.

O valor é um pouco mais alto do que estimativas mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que apontam algo em torno de 8 milhões de toneladas de lixo plástico entrando nos oceanos todo ano.

Segundo a ONU, de 60% a 80% de todo o lixo no mar é plástico. E até 2050 pode haver mais plástico do que peixes no mar.

"O lixo no ambiente marinho já é um desafio global semelhante às mudanças climáticas. E o problema, que vai muito além daquilo que é visível, está presente em quase todas as áreas costeiras do mundo, trazendo desequilíbrio tanto para a fauna e flora marinhas e comprometendo esse recurso vital para a humanidade", afirmou em comunicado à imprensa Antonis Mavropoulos, presidente da Iswa.

Brasil

A metodologia foi adaptada para o Brasil pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) - braço da Iswa - no Brasil, que concluiu que aqui pelo menos 2 milhões de toneladas de lixo podem chegar aos mares. "Se fosse todo espalhado, esse monte de resíduos ocuparia a área de 7 mil campos de futebol", disse Carlos Silva Filho, diretor presidente da Abrelpe.

E usamos premissas mais conservadoras. Áreas alagadas, como Pantanal, Amazônia, muito longes do mar, ficaram de fora do cálculo. Se fossem incluídas, poderíamos chegar a um valor de 5 milhões de toneladas de resíduos."

Para o Brasil, Silva diz que não foi possível estimar exatamente quanto desses resíduos é plástico, mas lembra que 15% do resíduo sólido gerado no Brasil tem essa origem.

Segundo outro estudo da Abrelpe, o Panorama dos Resíduos Sólidos - cuja última edição disponível é a de 2016 -, naquele ano cerca de 41% dos resíduos gerados no País tem destinação inadequada.

Esse porcentual pouco melhorou nos últimos anos, apesar de a Política Nacional de Resíduos Sólidos ter definido que não deveria mais existir lixões no Brasil desde 2014. Em 2010, quando a lei foi promulgada, tinham destinação inadequada 43% dos resíduos.

"O estudo da poluição marinha reflete um problema que podemos ver de outra maneira. O Brasil gasta por ano cerca de R$ 5,5 bilhões para tratar a saúde das pessoas, tratar os cursos d'água e recuperar o ambiente em virtude da degradação dos resíduos sólidos. Então resolver o problema é bom para a economia também", defende Silva.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.