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Moradores de SP relatam rotina diária de cortes d’água desde a crise hídrica

A artista plástica Isabella Hohagen, de 47 anos, fica sem água em sua casa na Cidade Monções, zona Sul de São Paulo, após às 22h - Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo
A artista plástica Isabella Hohagen, de 47 anos, fica sem água em sua casa na Cidade Monções, zona Sul de São Paulo, após às 22h Imagem: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo

Priscila Mengue

São Paulo

25/09/2018 10h27

É preciso ficar "de olho no relógio" para tomar banho na casa da artista plástica Isabella Hohagen, de 47 anos, na zona sul de São Paulo. Moradora de Cidade Monções, ela se organiza diariamente para ir para o chuveiro antes das 22 horas. Ou fica sem água.

A situação não é excepcional: a reportagem ouviu moradores das zonas sul, norte e oeste da capital paulista que enfrentam problemas no fornecimento de água todas as noites, há quatro anos. Grande parte mantém uma rotina típica de crise hídrica, mesmo após ela ter sido oficialmente encerrada em março de 2016. Além disso, o Sistema Cantareira está em estado de alerta há quase dois meses.

Na prática, a cada quatro minutos um morador da região metropolitana faz uma reclamação de falta d'água para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Isso significa 75.250 reclamações entre janeiro e julho, número menor do que o do mesmo período do ano passado (88.728) e durante o auge da crise (257.835, em 2015).

Em geral, a água começa a rarear por volta das 22 ou 23 horas e retorna entre 5 e 6 horas. O motivo é a política de redução de pressão, ampliada pela Sabesp durante a crise hídrica e que atinge, hoje, 28 municípios da região metropolitana e 96% dos bairros da capital. No próprio site, a companhia afirma que a medida "pode significar longas horas sem água nas torneiras", o que, segundo ela, afeta uma "minoria da população".

Segundo relatos, ao voltar, a água costuma fazer um barulho alto e, por vezes, vir com uma pressão maior que o normal. "Uma das vezes o cano da pia estourou e danificou o armário da cozinha", conta Ana Paula Siqueira, moradora do Brooklin Novo, na zona sul. Segundo ela, a Sabesp arcou com o prejuízo após "várias" ligações. O desabastecimento faz a dona de casa Veridiana Braga Dias, de 41 anos, planejar se mudar pela segunda vez em um ano. "Não vou pagar pela água e não ter."

Moradora da Vila Carolina, na zona norte, Solange Raposo Moretto enfrenta o problema desde que a neta era bebê. Hoje, a menina está com 4 anos. "Somos todos conscientes, não abusamos. É uma injustiça pagar direitinho e não receber."

Também na zona norte, na Casa Verde, a cabeleireira Rosangela Nicoletti, de 49 anos, se organiza para fazer tudo antes das 23 horas. "No meu banheiro, a água é da rua." Situação semelhante é relatada pelo segurança João Paulo Viana, de 35 anos, no Butantã, zona oeste. Diferentemente dos demais casos, que enfrentam o problema há quatro anos, uma zeladora que vive em escola pública do Alto de Pinheiros, também na zona oeste, contou à reportagem que a falta de água começou em janeiro. "Estragou quatro chuveiros por não ter pressão."

Caixas-d'água

Procurada, a Sabesp negou desabastecimento nos lugares citados e informou que cerca de 60% da rede tem válvulas redutoras de pressão, número que era de 46% em 2015. A companhia ainda destaca que a população é obrigada a ter caixas-d'água e distribuiu 25 mil itens em 2015. Por meio de nota, a Arsesp diz ter intensificado "as fiscalizações referentes à falta d'água" na capital. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.