Topo

Cena de soltura de centenas de pássaros apreendidos viraliza

20/05/2016 09h54

Um vídeo mostrando centenas de pássaros sendo devolvidos a seu habitat natural no município de Água Branca am Alagoas viralizou nas redes sociais nas últimas semanas.

As imagens, que mostram uma fileira de policiais e outros agentes abrindo gaiolas e soltando as aves tiveram mais de cinco milhões de visualizações no Facebook.

A ação, coordenada pelo Ministério Público de Alagoas, faz parte do Programa de Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), que envolve órgãos federais e dos Estados da Bahia e de Alagoas e tem o objetivo de diagnosticar e combater danos ambientais na Bacia do Rio São Francisco.

A FPI está voltada para municípios no entorno do rio. Técnicos, policiais e agentes de ministérios públicos percorrem zonas urbanas e rurais fiscalizando saneamento, mineração, agrotóxicos e fauna.

O programa também tem como alvo o mercado negro de animais silvestres, que retira de quatro a cinco milhões de animais de seus biomas originais todos os anos nessa região.

Aprisionadas em gaiolas como animais de estimação, muitas aves passam anos sem voar em seu habitat natural. Alguns perdem a visão, outros sofrem ferimentos nas asas em função do aprisionamento.

Muitas morrem em decorrência de maus-tratos - em especial, durante seu transporte.

O MP de Alagoas já resgatou 2.600 aves. De acordo com Isaac Albuquerque, veterinário responsável pela equipe que trata dos animais, outras solturas já estão programas - entre elas uma na manhã desta sexta, a última nessa primeira fase do projeto.

Antes de serem soltos, os pássaros recebem cuidados médicos para ajudá-los na reabilitação à vida na natureza.

"São animais resgatados diariamente, normalmente entregues voluntariamente por moradores depois que os confrontamos", diz Albuquerque à BBC Brasil.

Em seguida, são enviados a centros provisórios, hidratados com águas vitaminadas, e deixados à sombra para desestressar. "Depois, os inspecionamos um a um, em busca de ferimentos, malformações, deficiências".

Entre as espécies de aves resgatadas e soltas estão o galo-de-campina e o periquito-da-caatinga, dois pássaros muito procurados no mercado clandestino de animais silvestres.

Outros, no entanto, não têm essa mesma sorte. São aves como periquitos e papagaios que, por viver muito tempo sob a tutela humana, não são mais independentes.

Entre esses casos está o de uma siriema que, vítima de maus tratos, terá uma pata amputada. "Ela não poderá voltar à natureza, mas voltará a andar".

Ela receberá uma prótese, feita artesanalmente pela equipe de Albuquerque, e passará a morar com outra ave da mesma espécie, que também foi resgatada.

Embora esse pássaro não possa mais voltar ao seu habitat natural, seus filhotes poderão. "Por isso, depois que nascem, os avaliamos e, se possível, também os soltamos na natureza", adiciona o veterinário.

Para ele, a maior dificuldade do trabalho é lidar com o descaso humano.

"É um choque ouvir a frieza com que um ser humano detalha o que fez com animais como esses. Muitas vezes, eu os recolho e prefiro não saber de seus históricos. Só quero pensar em como será o seu futuros", finaliza.