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Como a neve é formada e por que é rara no Brasil, mesmo em regiões bem frias

Casal aproveita dia frio para tirar fotos em Santa Catarina - EPA
Casal aproveita dia frio para tirar fotos em Santa Catarina Imagem: EPA

Felipe Souza

Da BBC News Brasil em São Paulo

21/08/2020 21h27

Flocos de neve caindo do céu e repousando sobre as árvores, carros e telhados em uma cena poética como nos filmes. No Brasil uma imagem dessas é rara, mas já aconteceu diversas vezes além deste ano, principalmente na região Sul.

O fenômeno, porém, é raro porque necessita da combinação de uma série de fatores para ocorrer. Meteorologistas ouvidos pela BBC News Brasil disseram que os principais são a formação de nuvens, local de altitude elevada e ação de uma massa de ar frio.

O meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Diogo Arsego explica, de maneira simplificada, que a neve é basicamente uma chuva no inverno. Então, ela precisa de todas as condições para a formação de uma chuva aliadas a baixas temperaturas para se formar e cair.

"É necessário umidade e um mecanismo que favoreça a formação de nuvem. Normalmente, você tem movimentos de baixo para cima, que carregam umidade e favorecem a formação de nebulosidade. A passagem de uma frente fria associada a esse cenário gera a neve", afirmou.

Ele diz que, em temperaturas baixas, isso causa a formação de flocos de neve dentro da nuvem, e eles caem. Este é outro momento importante para a neve consiga chegar até a copa das árvores e telhados das casas.

"Para que ela atinja a superfície, é necessário que a temperatura entre a nuvem e o solo esteja abaixo de zero grau ou muito próxima disso. Caso contrário, esse floco vai derreter e virar gota no caminho", afirmou Arsego.

Chuva congelada

O meteorologista explica que no meio do caminho entre a nuvem e o solo, pode acontecer um fenômeno conhecido como chuva congelada. Em vez de chegarem flocos, cai gelo.

"Isso acontece quando o floco formado na nuvem encontra uma camada quente e vira gota de chuva, mas logo depois pega mais uma camada abaixo de zero grau e congela", explicou.

Para que a neve chegue no chão da mesma maneira que ela saiu da nuvem, é necessário que a atmosfera esteja com uma temperatura abaixo de zero em todo o trajeto — o que geralmente ocorre em locais de altitude mais elevada, onde é mais frio.

Isso explica por que o fenômeno é tão raro no Brasil.

As exceções são os pontos mais altos de Santa Catarina, como São Joaquim, e a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul.

Altitude e baixas temperaturas, mas sem neve

O meteorologista do Inpe explica que há pontos no Brasil que são altos, mas não têm registro de neve por conta da ausência de outros fatores.

Você precisa estar em um ponto assim, mas precisa também do avanço de massa de ar frio.

"Temos picos muito altos em Rondônia, com temperaturas baixas, mas sem a chegada de uma massa de ar frio não é possível ter neve", afirmou.

Isso explica por que neva em Nova York, uma cidade litorânea, mas em Santos e São Paulo não.

A cidade americana não tem uma altitude elevada, mas sofre uma forte influência de massas de ar do Ártico. A Big Apple tem temperaturas negativas com frequência e mantém um corredor abaixo de zero para os flocos, desde a nuvem formadora até o solo.

O especialista diz que nunca nevou na capital paulista, mas há histórico de casos em cidades do interior, como na Serra da Mantiqueira, na Grande São Paulo, e em Campos do Jordão, a cidade mais alta do Brasil, localizada no vale do Paraíba.

O pico do Itatiaia, no Rio de Janeiro, também teve registros, mas muito raros.

A reportagem da BBC entrou em contato com meteorologistas do Inpe, Inmet e da Somar Meteorologia para montar um ranking com os maiores registros de neve da história do país. No entanto, os especialistas dizem que é difícil apontar um recorde.

A Somar informou em nota que os registros que existem são imprecisos porque são feitos por pessoas que testemunharam as ocorrências, mas nem sempre são meteorologistas. E essas pessoas podem inclusive confundir neve com chuva congelada ou neve granular.

"Os relatos mais confiáveis dizem que 2013 foi o ano com maior número de cidades com neve ao mesmo tempo nos três Estados do Sul. Em Santa Catarina, nevou em mais de 150 cidades ao mesmo tempo. Mas o fenômeno é relativamente recorrente no Sul, e mesmo se for só no alto da Serra de Santa Catarina, costuma acontecer todo ano. Houve neve nos três Estados, por exemplo, em 2017 e também nevou de forma significativa em 2010", informou a Somar.

Previsão

Quem mora nas áreas com chances de ter neve ou está pensando em fazer até viagens para ver os flocos caindo, é melhor não se animar muito. Os meteorologistas dizem que a neve prevista durante a passagem dessa massa de ar frio caiu entre quinta e sexta-feira (20 e 21/ 08) e que agora as temperaturas devem continuar baixas, mas sem as nuvens com água acumulada — um dos fatores para a formação dos flocos.

A tendência é que agora o tempo fique mais seco e, mesmo com a previsão de temperaturas negativas em toda a região Sul, deve ocorrer no máximo geadas.

A previsão do Inmet é que a temperatura nos Estados do Sul comece a subir gradativamente nos próximos dias. Porto Alegre deve registrar mínima de 5º C no sábado (22/08) e 6º C no domingo (2/08). As máximas serão de 16º C e 21º C, respectivamente.

Em São Paulo, de acordo com o Inmet, a máxima não deve passar dos 15º C no sábado e 19º C no domingo, enquanto as mínimas ficam em 7º C e 9º C, respectivamente. Os dois dias devem ter céu encoberto e chuva no sábado.

Em Cuiabá, que registrou mais de 40º C esta semana, deve registrar mínima de 13º C e máxima de 29º C no sábado. No domingo, a mínima prevista na capital é de 16º C, com máxima de 36º C.