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Com estoque de água potável para só dois dias, Qatar aposta em energia solar para dessalinização

Apesar da escassez de água no país, é comum ver chafarizes e lagos pelas ruas - Lilian Ferreira/UOL
Apesar da escassez de água no país, é comum ver chafarizes e lagos pelas ruas Imagem: Lilian Ferreira/UOL

Lilian Ferreira

Do UOL, no Qatar

11/06/2012 07h00

Por um lado, o Qatar é o país com maior PIB per capita do mundo, por outro, é também o que possui menor quantidade de água potável por habitante. O estoque de água é para dois dias. Por isso, a necessidade constante de dessalinizar a água do mar: 75% dos 2 milhões de m3 consumidos no país vem deste processo.

Hoje, as usinas de dessalinização usam gás em abundância no país para gerar a energia necessária para aquecer a água e deparar o sal da água. O governo diz investir para, no futuro, dessalinizar 3,5 milhões só com energia solar. O custo atual é de 1,4 dólar por m3 de água.

A água é importante para ser consumida diretamente pelas pessoas, mas também pela agricultura. O país tem só 1% de terras agricultáveis e mais de 90% de seu alimento é importado. Fahad Bin Mohammed Al-Attiya, chairman do Programa de Segurança Alimentar do Qatar, diz que por lei os fazendeiros devem usar tecnologia de ponta para produzir comida. E aí entra a dessalinização da água do mar.

A maioria dos pouco mais de 350 fazendeiros do país retira a água dos poucos lençóis freáticos e tem que dessalinizar a água que usar. Com o apoio do Banco do Desenvolvimento do Qatar, é possível produzir vegetais pela hidroponia, sem o uso de solo (já que eles não têm solo agricultável, só fornecendo nutrientes e água para as plantas), e vender no mercado local a preços competitivos.

Energia solar

A Chevron tem uma parceria com o governo do Qatar para estudar energia solares. O projeto de 20 milhões de dólares, investido pela empresa americana, visa identificar qual a placa solar melhor se adapta às características da região como grande quantidade de poeira e calor que supera os 50ºC. Em seis meses, a poeira acumulada diminui a eficiência em 40%.

O projeto que vai até 2022 analisa mais de 30 tipos diferentes de painéis. A questão do armazenamento da energia gerada ainda é um dos principais obstáculos. O objetivo é reduzir os custos por watt produzido. Hoje, 1 watt custa 0,80 dólar. Em 3 ou 4 anos será lançado o primeiro resultado parcial das pesquisas que devem começar em 2 meses.

O Qatar investe muito em parcerias público-privadas. Em um prédio da Qatar Foundation funciona o centro de pesquisa e tecnologia com diversas empresas internacionais, com especialistas de todo o mundo que vão para o país. "Aqui é o lugar para fazer este tipo de pesquisa", afirma Carl Atallah, diretor da Chevron no Qatar.

Dessalinização

Enquanto a utilização da energia solar para dessalinização da água não é uma realidade, as usinas usam gás.Na Qatar Eletricity and Watter Company são produzidos 3/4 de toda a energia e água usada no país. Mas quando se pergunta sobre energia solar e eficiência energética do processo a resposta é um vazio.

Riad Othman El-Talatini, que no recebeu para mostrar a usina, foi claro ao declarar que eles têm gás e não precisam de energia solar. Já a eficiência parece não ser uma questão importante na usina. Riad perguntou para diversos colegas de trabalho a informação e aparentemente a maior usina do país não possui esta informação.

Lá são produzidos 5.700 MWatts por hora e 1,3 milhão de m2 de água por dia. A água e retirada do mar, passa por um processo de limpeza com cloro e, depois da condensação, recebe minerais para se tornar potável.

E todo o sal retirado é aproveitado? Não, ele é devolvido ao mar. E isso não ameaçaria a vida marina que vive ali, perguntei? "Aí já é outro problema", respondeu. O mar do Golfo já é mais salgado que do Mediterrâneo, por exemplo, com 44 ppm de sal.

A água é gratuita para o catarense, mas quem paga, o custo é de 2,46 reais por m3 e 0,67 por KWh. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o m3 de água custa 0,39 reais e o kwh sai por 0,30 reais, sem impostos.

A jornalista viajou a convite do Qatar National Food Security Programme (QNFSP)