São Paulo consome mais de 100 vezes o volume de recursos naturais que repõe
A cidade de São Paulo é uma enorme importadora de ar puro, área verde e água limpa. Ela drena 100 vezes mais recursos naturais do que consegue produzir. É como se os paulistanos consumissem a capacidade de renovação da natureza de mais da metade do Estado e partes significativas dos Estados vizinhos, habitantes de uma área 390 vezes maior que a capital paulista.
A conclusão é de um estudo divulgado na Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. O projeto da ONG WWF, feito em parceria com o Estado e o município de São Paulo, mediu a pegada ecológica do paulistano e paulista médios.
“Para ser autossuficiente em hectares ecológicos, a cidade precisaria abarcar metade do Estado, mais pedaços do Rio de Janeiro, do sul de Minas e parte do Paraná”, afirma Michael Becker, coordenador do programa Cerrado-Pantanal da WWF Brasil, que apresentou o estudo.
O objetivo da WWF com o estudo é incorporar às estatísticas de governo um indicador econômico consistente que leve em consideração o impacto ambiental. “A gente precisa inserir os recursos naturais em uma lógica econômica, que oriente o consumo e as cadeias produtivas”, diz Becker.
Segundo ele, as 21 cidades brasileiras que firmaram compromisso com a Carta Rio para Sustentabilidade, a ser lançada também durante a Rio+20, estão conscientes da importância da pegada ecológica como instrumento para a formulação de políticas públicas. “As cidades precisam abrir o olho para isso; você só valoriza o que mede.”
Veja aqui o estudo completo da WWF Brasil.
A composição da pegada
A pegada ecológica, medida em “hectares globais”, corresponde ao volume de recursos renováveis necessários para sustentar os hábitos de consumo e estilo de vida de uma pessoa. Um hectare global corresponde à produtividade média de um hectare de terra e água no mundo.
Hoje, o mundo consome 2,5 vezes mais recursos renováveis do que a Terra é capaz de produzir. “São Paulo está próxima dessa média mundial”, afirma Becker. Desde a década de 80 – segundo o controle feito pela ONG, gigante mundial da sustentabilidade – , o gasto da humanidade já supera a capacidade de renovação da Terra.
A maior fatia da pegada ecológica (49%) corresponde à área utilizada pela agricultura e pastagem que sustentam a alimentação do paulistano. O segundo fator (21% da pegada) é o consumo de bens industriais, que “queimam” recursos naturais ao longo da cadeia de produção.
A mobilidade é responsável por 10% da pegada ecológica do paulistano. No total do Estado, esta fatia é ligeiramente maior, de 14%.
“Até agora nós procuramos medir a pegada ecológica e conhecer a situação atual. Tanto no Estado quanto na cidade de São Paulo, não conseguimos ainda avançar muito para a fase de mobilização. É um processo que vai levar mais tempo, mas certamente ainda vai dar muita repercussão”, diz Becker.
“Nós estamos nos descapitalizando”, afirmou o secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Bruno Covas, convidado a participar da mesa de debates depois da apresentação do estudo.
O secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, Carlos Fortner, falou da dificuldade de se mudar hábitos de consumo. “Não é uma coisa que acontece de uma hora para outra”, disse. “O indicador da pegada ecológica é uma ferramenta nova que vai nos ajudar a orientar políticas públicas e campanhas de educação.”
Para Becker, além do cidadão, o governo e a indústria têm de se comprometer com a mudança de hábitos de consumo. “Cada um de nós é responsável por sua decisão de consumo, mas cada setor da indústria é responsável por uma cadeia de produção inteira e precisa repensar suas escolhas”, afirma.
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