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Com declaração fraca, compromissos individuais "salvam" a Rio+20

Reuters
Imagem: Reuters

Maria Denise Galvani

Do UOL, no Rio

23/06/2012 06h00

Quando o consenso é fraco, ganham força as atitudes individuais. Os 705 “compromissos voluntários” apresentados à ONU por governos, empresas e ONGs são apontados pelo próprio secretário-geral da Rio+20, Sha Zukang, como o melhor resultado da conferência. Apenas os 13 maiores compromissos, segundo a ONU, vão injetar US$ 513 bilhões em projetos para o desenvolvimento sustentável nos próximos dez anos.

“É importante haver um entendimento político, mas o que realmente faz a diferença são iniciativas sérias de implementação”, afirmou Zukang.
A Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, terminou nesta sexta (22) no Rio com um documento classificado por diplomatas, chefes de Estado, e ONGs como “pouco ambicioso”. A declaração “O Futuro que Queremos” não define metas nem gera obrigações adicionais para os Estados.

Metas de transição para fontes de energia renovável, redução do consumo de água, neutralização de emissões de carbono pelo plantio de árvores e implementação de sistemas de compras e transporte sustentáveis foram alguns dos compromissos assumidos e entregues voluntariamente à ONU.

Transporte, trabalho, educação

No maior compromisso em volume de recursos assumido durante a Rio+20, oito bancos internacionais concordaram em aplicar até 2022 US$ 175 bilhões em soluções de transporte sustentável em países em desenvolvimento. “Os projetos incluem financiamento de transporte coletivo, infra-estrutura para bicicletas e pavimentação, segurança de estradas e carros movidos a energia limpa”, detalhou o vice-presidente do Banco de Desenvolvimento Asiático, Bindu Lohani.

Em número de participantes, o maior compromisso foi assumido por uma frente de mais de 200 universidades em 50 países diferentes, que vão rearranjar seus currículos para priorizar lições de sustentabilidade. “Não tem mais sentido ensinar administração sem ensinar ética sustentável, ou ensinar finanças sem falar em meio ambiente”, afirma Antônio Freitas, professor da Fundação Getúlio Vargas, que também assinou o acordo.

Entre os governos, o maior comprometimento de recursos veio do Japão (US$ 6 bilhões para economia verde e redução de desastres) e da Alemanha (U$ 3,3 bilhões em programas de acesso à energia em países em desenvolvimento). Os governos locais das maiores cidades do mundo também fecharam um acordo amplo com metas para a redução da emissão de gases prejudicais à atmosfera.

Estados X Empresas

Se os compromissos assumidos durante a Rio+20 realmente se concretizarem, talvez no futuro a conferência seja mais lembrada por seus protagonistas privados do que pelos atores públicos; segundo a ONU, enquanto governos apresentaram apenas 50 compromissos, no âmbito privado foram 226 empresas e 243 instituições de ensino.

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“O ambiente de negócios já mudou e as empresas estão respondendo a isso”, avalia o empresário brasileiro Ricardo Young, que também participou de atividades da sociedade civil durante a Rio+20. “Enquanto os governos evitam assumir compromissos na negociação multilateral, para as empresas migrar para matrizes de energia renovável ou manejar corretamente os resíduos sólidos é questão estratégica.”

A responsabilidade corporativa mereceu um parágrafo na declaração política aprovada pela cúpula da Rio+20. O texto elaborado por diplomatas de mais de 190 países convida empresas a prestarem contas à sociedade sobre seus padrões de sustentabilidade. “O que diferencia compromissos de boas intenções é o monitoramento, a prestação de contas”, admitiu o secretário-geral, Zukang.

As Nações Unidas pediram aos voluntários que entregassem também um cronograma estabelecendo metas intermediárias e avaliações periódicas do andamento dos projetos.

Com base nessas metas, uma plataforma criada pela Natural Resources Defense Council, ONG internacional baseada nos Estados Unidos, se dispôs a monitorar o desempenho de empresas, governos e instituições com os compromissos assumidos durante a Rio+20. Antes mesmo do final da conferência, a “Nuvem dos compromissos” já havia registrado mais de 200 dos 705 comunicados pela ONU.

“O trabalho duro vem agora. Fazer promessas é fácil, cumpri-las exige um esforço”, admite Zukang.