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Crime organizado explora até 90% da madeira de florestas tropicais do mundo, diz ONU

Greenpeace denunciou extração ilegal de madeira para uso em carvoarias. Crime organizado lucra até US$ 100 bi por ano com atividade - Marizilda Cruppe e Rodrigo Baleia/Greenpeace
Greenpeace denunciou extração ilegal de madeira para uso em carvoarias. Crime organizado lucra até US$ 100 bi por ano com atividade Imagem: Marizilda Cruppe e Rodrigo Baleia/Greenpeace

Do UOL

Em São Paulo

27/09/2012 16h44

O crime organizado é responsável por até 90% da exploração madeireira nos principais países tropicais da Bacia Amazônica, da África Central e do Sudeste da Ásia. Isto ameaça os esforços para combater a mudança do clima, o desmatamento, a conservação da fauna e a erradicação da pobreza, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela ONU (Organização das Nações Unidas). 

A extração ilegal de madeira responde de 15% a 30% do comércio global, o que corresponde a um total entre US$ 30 bilhões e US$ 100 bilhões por ano (cerca de R$ 60 bilhões e R$ 200 bilhões, respectivamente), segundo novo relatório do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e da Interpol, apresentado na Conferência Mundial sobre Florestas, em Roma, na Itália.

O relatório Carbono Verde: Comércio Negro declara que o comércio ilegal dificulta a redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, chamada de iniciativa Redd, uma das principais ferramentas para catalisar a mudança ambiental positiva, o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e a redução de emissões de gases de efeito estufa, segundo o órgão.

As florestas do mundo capturam e armazenam dióxido de carbono e ajudam a diminuir os problemas da mudança climática. No entanto, o desmatamento, principalmente de florestas tropicais, é responsável por cerca de 17% de todas as emissões de gás carbônico causadas pelo ser humano - 50% maior do que a soma de emissões de navios, aviação e transporte terrestre. 

"Lavagem" de madeira

O relatório conclui que, sem esforço coordenado da comunidade internacional, madeireiros ilegais e cartéis vão continuar controlando operações de um porto a outro em busca de lucro, prejudicando o meio ambiente, as economias locais e, até mesmo, a vida dos povos indígenas. A Interpol apontou que os crimes estão associados ao aumento da atividade criminosa organizada, como a violência, assassinatos e atrocidades contra os habitantes das florestas indígenas.

Os grupos criminosos estão, segundo o documento, combinando táticas antiquadas (como subornos) com métodos tecnológicos (como hackear sites de governos). Operações ilegais também estão se tornando mais sofisticadas; madeireiros e comerciantes mudam suas atividades entre regiões e países para evitar esforços locais e internacionais de policiamento.

O relatório descreve 30 formas de aquisição e "lavagem" de madeira ilegal. Métodos primários incluem falsificação de licenças de corte e suborno para obter licenças (o documento pode custar em alguns países até US$ 50 mil, cerca de R$ 101 mil), mas também registra novos meios criminosos, como concessões e "hackeamento" de sites governamentais para obtenção ou alteração de licenças eletrônicas.

Uma nova forma de lavar milhões de metros cúbicos de madeira ilegal é misturá-la com madeira legalmente cortada por usinas de serra, celulose, papel e cartão. Outro truque comum é a alegação falsa de que a madeira de florestas selvagens que está sendo vendida é proveniente de florestas plantadas.