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Adaptação climática pode custar US$ 500 bi/ano ao mundo em desenvolvimento

Em Lima

05/12/2014 17h43

Os países em desenvolvimento poderão necessitar de até 500 bilhões de dólares ao ano em 2050 para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, segundo um estudo das Nações Unidas divulgado nesta sexta-feira (5).

Os custos de adaptação que deverão ser assumidos pelos países são muito mais elevados do que o calculado anteriormente, segundo informe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado em Lima, durante a conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP20).

Segundo as novas estimativas contidas no informe, segundo o qual os cálculos anteriores foram subestimados, "os custos de adaptação podem aumentar para US$ 150 bilhões em 2025/2030 e entre US$ 250 bilhões e US$ 500 bilhões no ano 2050", podendo haver "uma significativa falta de financiamento depois de 2020".

"Os impactos das mudanças climáticas começam a ser um fator nos orçamentos nacionais e locais", declarou Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma em um comunicado.

"Este estudo destaca a importância de incluir planos de adaptação integrais no acordo" sobre as mudanças climáticas que a ONU tenta alcançar, afirmou Steiner.

"As crescentes implicações de custos para comunidades, cidades, negócios, pagadores de impostos e orçamentos nacionais exigem uma atenção maior à medida que se traduzem em consequências econômicas reais", acrescentou.

De acordo com o relatório, entre 2012 e 2013, o volume de financiamento público global comprometido na adaptação variou de US$ 23 bilhões a US$ 26 bilhões. Deste montante, 90% foram para países em desenvolvimento.

O altíssimo custo que os países terão que pagar para fazer frente aos efeitos do clima aumentará mesmo se a ONU alcançar o objetivo de reduzir as emissões de carbono ao nível exigido para que a temperatura da Terra não suba mais de 2º C neste século, advertiu o informe.

Este primeiro relatório do Pnuma sobre o financiamento que falta fazer para enfrentar as mudanças climáticas, apresentado paralelamente à conferência COP20 da ONU sobre o clima, em Lima, serve para medir de que forma o mundo fará frente aos maiores custos futuros.

O apoio à adaptação é uma peça chave das negociações que as Nações Unidas auspiciam em Lima para delinear os termos gerais de um novo pacto mundial para conter o aquecimento global.

Os países pobres mais vulneráveis aos impactos das mudanças no clima - como eventos climáticos extremos, inundações, secas e elevação do nível do mar - exigem que um compromisso dos ricos com a adaptação e a ajuda financeira seja contemplado no texto.

Mas muitos países industrializados insistem em que o acordo, que deverá ser assinado em dezembro de 2015, em Paris, com entrada em vigor em 2020, deveria se concentrar na mitigação, ou seja, nos esforços para conter as emissões de gases de efeito estufa.

Este primeiro relatório do Pnuma sobre o financiamento que falta fazer para enfrentar as mudanças climáticas, apresentado paralelamente à conferência COP20 da ONU sobre o clima, em Lima, serve para medir de que forma o mundo fará frente aos maiores custos futuros.

Custo 'significativamente subestimado'

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o mais elevado órgão de cientistas especializados em clima chancelado pelas Nações Unidas, projetou que os custos da adaptação nos países em desenvolvimento alcançarão entre US$ 70 bilhões e US$ 100 bilhões ao ano em 2050, amplamente baseados em cifras de 2010 do Banco Mundial.

Mas o novo informe do Pnuma destaca que estes valores provavelmente estariam "significativamente subestimados", mesmo que que o aquecimento global seja limitado a 2º C neste século, o que muitos cientistas consideram improvável.

As novas informações reunidas por instituições de pesquisa, derivadas de bases de dados mais amplas e detalhadas, revelaram que "no mínimo, os custos de adaptação são provavelmente de duas a três vezes mais altos", acrescentou.

"O relatório é um lembrete poderoso de que custo potencial da inação tem um preço real. Os debates das bases econômicas da nossa resposta às mudanças climáticas precisam ser mais honestos", acrescentou Steiner.

"Nós devemos isto a nós mesmos, mas também à próxima geração, pois serão eles que terão que pagar a conta", prosseguiu.

Celebrada em Lima, a Conferência das Partes sobre a Convenção-quadro sobre as Mudanças Climáticas (COP20), reúne 195 países e a União Europeia em negociações que tem como uma de suas principais tarefas delinear as linhas gerais de um pacto climático que as partes assinarão em 2015, em Paris.

Não é uma tarefa simples, pois há anos, as negociações têm sido afetadas pelas imensas brechas entre ricos e pobres sobre quem deve carregar o maior fardo do corte das emissões, o que representa uma difícil migração, tanto política quanto econômica, do uso de energias fósseis, abundantes e baratas, para fontes mais limpas, que precisam de investimento.