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Noz rara é alvo de cobiça na floresta Amazônica

 A noz de barinas (cacay nut, em inglês) se transformou em uma commodity de primeira linha que oferece o ingrediente básico para a produção de cremes faciais antirrugas que chegam a custar US$ 200 - Kahai SAS via Bloomberg
A noz de barinas (cacay nut, em inglês) se transformou em uma commodity de primeira linha que oferece o ingrediente básico para a produção de cremes faciais antirrugas que chegam a custar US$ 200 Imagem: Kahai SAS via Bloomberg

Christine Jenkins

14/04/2015 17h35

Durante décadas, senão séculos, os habitantes da região amazônica do sul da Colômbia não prestaram muita atenção na noz de barinas. Eles a usavam para alimentar o gado ou curar feridas e cortavam suas árvores para que servissem de lenha.

Foi então que, há alguns anos, socialites de todo o mundo descobriram o que o óleo amarelado dessa castanha rica em proteínas pode fazer pela pele delas. E de repente a noz de barinas (cacay nut, em inglês) se transformou em uma commodity de primeira linha que oferece o ingrediente básico para a produção de cremes faciais antirrugas que chegam a custar US$ 200 a onça (medida equivalente a 28 gramas) nas lojas de cosméticos de Los Angeles e Londres.

Embora a maior parte das nozes venha de árvores silvestres localizadas em áreas remotas, estão surgindo novas plantações em regiões pobres da Colômbia que eram mais conhecidas por abrigarem grupos rebeldes opositores ao governo que traficam cocaína. Vitaliano Ordóñez, um fazendeiro que costumava dar as nozes para suas vacas, vendeu oito animais para comprar 120 mudas da planta. Como apenas algumas já estão maduras para produzir frutos neste ano, ele está colhendo cada semente das duas árvores mais antigas de sua pequena fazenda leiteira em Puerto Rico, na Colômbia, a 300 quilômetros a sudeste de Bogotá.

'Sem desperdício'

"Eu não deixarei nem uma noz sequer ser desperdiçada", disse Ordóñez, 70. Cada fruto, do tamanho de uma maçã, contém três sementes, cada uma maior que uma amêndoa. Ele espera coletar cerca de 60 quilos de nozes de barinas neste ano. Isso poderá gerar até 300.000 pesos (US$ 198), ou o equivalente a metade, praticamente, do salário mínimo mensal do país.

A explosão se deve em parte ao trabalho de Alberto Jaramillo. Embora os cientistas tenham feito notar as virtudes da noz há mais de uma década, foi Jaramillo, diretor da Kahai SAS, com sede em Bogotá, que descobriu um mercado para o óleo após participar de feiras de negócios e contratar um estudo de avaliação do uso do óleo nos cuidados com a pele. A Kahai, que compra nozes de produtores e catadores, incluindo Ordóñez, espera dobrar as vendas neste ano.

Catadores de moto

A Kahai envia trabalhadores ao interior com motos e picapes e às vezes eles dirigem mais de 250 quilômetros procurando árvores e catando nozes. Durante a temporada de colheita, de fevereiro a abril, uma árvore madura pode render 400 quilos de nozes. A Kahai paga 1.000 pesos por quilo de nozes inteiras, ou seja, cerca de 400.000 pesos por árvore. Ela também está incentivando fazendeiros como Ordóñez a plantarem mais árvores.

Nativa de regiões da Colômbia, do Equador, do Peru e da Venezuela, a noz de barinas foi usada durante muito tempo pelos povos indígenas para tratar ferimentos e alimentar lampiões. À medida que esses usos diminuíram, as árvores de até 40 metros de altura se tornaram alvos atraentes para as madeireiras. Isso começou a mudar com o novo apelo para uso dos óleos naturais como tratamento de beleza.

Antioxidantes

O pequeno, porém crescente apelo da noz de barinas no mercado de cuidados pessoais, que movimenta US$ 465 bilhões, vem sendo impulsionado pela maior popularidade do óleo de argan, do Marrocos, utilizado por fabricantes de produtos para o cabelo como L'Oréal e Unilever NV, e que agora é incluído em 14 por cento dos novos tratamentos para o cabelo, segundo uma pesquisa mercadológica da empresa Mintel. A noz de barinas contém ingredientes-chave em produtos antienvelhecimento, como antioxidantes e retinoides, segundo a Kahai.

"Esta será a próxima nova onda", disse Jamie Sherrill, que usa a noz de barinas em alguns dos produtos para pele da marca Nurse Jamie que ela vende em seu spa em Santa Monica, nos EUA. "Eu sempre fui fã do retinol e do óleo de argan e nós inicialmente estávamos procurando formas de melhorar esses dois ingredientes".

A Kahai projeta a venda de 1,2 tonelada de óleo com a colheita deste ano, o dobro do ano passado, e estima que a produção aumentará quando os 100 hectares já plantados com árvores de noz de barinas começarem a produzir. São necessários 2 quilos de nozes para produzir um litro de óleo. A noz tem cerca de 53 por cento de óleo e Jaramillo diz que seu próximo plano é utilizar a farinha residual, rica em proteínas, como suplemento nutricional.