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Geoengenharia é aposta de "último recurso" para combater mudança climática

Camada de gelo mostra sinais de derretimento a oeste do Alasca, em imagem feita em 4 de fevereiro de 2014 - MODIS/Aqua/NASA
Camada de gelo mostra sinais de derretimento a oeste do Alasca, em imagem feita em 4 de fevereiro de 2014 Imagem: MODIS/Aqua/NASA

Louise Downing

09/06/2015 14h12

Enquanto as negociações para desacelerar o aquecimento global se arrastam, pesquisadores estão propondo novas ideias, que alguns consideram ser medidas desesperadas para evitar as piores consequências da mudança climática.

Algumas propostas são incontestáveis, como a utilização de carvão vegetal para fixar o dióxido de carbono no solo ou espalhar pedras preciosas que absorvem carvão. Richard Branson, o bilionário presidente da Virgin Group Ltd., ofereceu um prêmio de US$ 25 milhões para a melhor solução no campo conhecido como geoengenharia.

Outras ideias para resfriar o planeta fazem com que os cientistas se preocupem com as consequências imprevistas. Existem propostas, que ainda não foram testadas a grande escala e têm custos incertos, para bloquear os raios do sol com partículas atmosféricas ou semear ferro, que absorve carbono, nos oceanos. O simples fato de que essas propostas estejam sendo consideradas revela tanto a frustração com a inércia dos governos quanto o ceticismo de que as políticas públicas resolvam o problema.

"Durante os últimos vinte a trinta anos, os governos, sem muita consideração, supuseram que mitigar era o principal caminho para o futuro", disse Mark Maslin, membro da Sociedade Real de Geografia do Reino Unido. Agora, os pesquisadores estão percebendo que o planeta precisa de "outras formas urgentes de lidar com o CO2".

O interesse na geoengenharia surge depois de duas décadas de negociações nas Nações Unidos que ainda não produziram um acordo mundial sobre a mudança climática. Representantes de cerca de 200 países se reunirão em dezembro, em Paris, onde se espera que eles finalizem um pacto para diminuir as emissões de carbono.

Aumento

As temperaturas da superfície do planeta já subiram 0,85 graus Celsius desde 1880, segundo um relatório da ONU publicado em 2014. Os pesquisadores concluíram que, embora as consequências imprevistas de manipular o clima possam ser relevantes, "certa investigação básica de fato parece apropriada".

Um painel da Academia Nacional de Ciências dos EUA refletiu essas preocupações. Em um relatório publicado em fevereiro, encontrou-se poucas evidências de que os pesquisadores vão conseguir empregar a geoengenharia no futuro próximo. Também concluiu que os EUA deveriam estudar as tecnologias como ferramenta "de último recurso".

O Virgin Earth Challenge, o desafio proposto por Branson, começou em 2007 e anunciou onze finalistas em 2011. A solução vencedora deve conseguir remover 1 bilhão de toneladas de carbono da atmosfera por ano, durante dez anos, e ser economicamente viável, entre outros critérios. Branson não disse quando o prêmio será entregue, se é que isso realmente acontecerá.

"É improvável que ocorra uma redução de CO2 a uma escala suficiente no futuro próximo, considerando que as prioridades da China e da Índia são desenvolver suas economias e que ambos os países dispõem de enormes reservas de carvão", disse Olaf Schuiling, assessor científico da Smart Stones, uma das finalistas do Earth Challenge.

A Smart Stones, com sede na Holanda, está trabalhando com a olivina, um mineral verde-amarelo encontrado em abundância no manto da Terra. A olivina, que era a preferida dos joalheiros egípcios, absorve CO2 quando envelhece. A ideia é extraí-la, esmagá-la e espalhá-la pelo solo.

Outra finalista é a Climeworks AG, com sede em Zurique, que está desenvolvendo sistemas móveis para capturar CO2 em filtros. O gás é injetado em estufas para promover o crescimento das plantas ou utilizado em bebidas carbonadas.

Algumas ideias de geoengenharia preocupam os cientistas. A gestão da radiação solar, que visa reduzir o aquecimento global ao bloquear os raios do sol, poderia desencadear mudanças nos padrões regionais de precipitações e de temperatura que ainda não são bem compreendidas.

O efeito seria similar às consequências da erupção do Monte Pinatubo nas Filipinas em 1991, uma das maiores erupções vulcânicas do século 20. O vulcão chegou a expelir 20 milhões de toneladas de sulfuro na parte superior da atmosfera, o que formou um escudo entre a Terra e os raios do sol e provocou uma queda de quase meio grau Celsius nas temperaturas mundiais em apenas um ano.

A tecnologia "está à beira da ciência-ficção e poderia ser muito problemática", disse Maslin. "Talvez ela conserve a temperatura média um pouco abaixo do que deveria estar, mas ela prejudica o clima do mesmo jeito".