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Compromissos são insuficientes para alcançar meta de 2 graus sobre o clima

Durante o verão no hemisfério norte, o calor movimenta e degela as águas do Ártico. De acordo com as observações realizadas em 2015, este será um ano de novo recorde na redução da extensão do gelo, como tem ocorrido há 10 anos - NASA/Jeff Schmaltz, MODIS Land Rapid Response Team, NASA GSFC
Durante o verão no hemisfério norte, o calor movimenta e degela as águas do Ártico. De acordo com as observações realizadas em 2015, este será um ano de novo recorde na redução da extensão do gelo, como tem ocorrido há 10 anos Imagem: NASA/Jeff Schmaltz, MODIS Land Rapid Response Team, NASA GSFC

02/09/2015 15h49

Os compromissos anunciados até o momento à ONU pelos países são insuficientes para manter o planeta abaixo da meta de dois graus de aquecimento, advertiram os especialistas reunidos nesta quarta-feira (2).

"As metas sobre mudança climática apresentadas até o momento à ONU pelos governos conduzem a emissões muito acima das necessárias para evitar que o aquecimento supere dois graus centígrados", advertiu o Climate Action Tracker (CAT).

O consórcio de quatro organizações de especialistas publicou sua análise no momento em que representantes de 195 países estão reunidos em Bonn (Alemanha) para preparar o caminho a um acordo global na conferência de dezembro em Paris.

Segundo o CAT, as medidas prometidas pelos países em termos de limitação dos gases do efeito estufa estão "muito abaixo" das necessárias para evitar as consequências desastrosas de um aquecimento global.

A ONU estabeleceu a meta de limitar o aumento da temperatura a dois graus, na comparação com o nível médio da era pré-industrial.

Segundo o CAT, o mundo se encaminha para um aumento global da temperatura média de entre 2,9 e 3,1 graus centígrados até 2100.

Até o momento, 56 países oficializaram os compromissos e planos nacionais (INDC, na sigla em inglês) que serão compilados no pacto global de dezembro.

Os compromissos incluem, entre outros, as potências mais poluentes - China e Estados Unidos - e os 28 membros da União Europeia (UE. As promessas cobrem 65% das emissões planetárias e 43% da população mundial.

Para respeitar a meta de 2ºC, as emissões de gases do efeito estufa devem cair das atuais 50 bilhões de toneladas anuais de equivalente de CO2 (GtCO2e) para entre 39 e 43 GtCO2e em 2025 e 36-45 GtCO2e em 2030, segundo os cálculos dos especialistas.

Limitar o aquecimento global à meta ainda mais ambiciosa de 1,5ºC exigiria limitar as emissões a 38 GtCO2e em 2025 e 32 GtCO2e em 2030. O aquecimento alcança atualmente 0,8ºC, quase metade do caminho para o temido limite de 2ºC.

"Os compromissos atuais conduzem a emissões que excedem o limite dos 2ºC em 12-15 GtCO2e até 2025, e 17-21 GtCO2e até 2030", adverte o CAT.

"Os limites para permanecer abaixo de 1,5ºC estão ainda mais superados, em 15-19 GtCO2e até 2025 e 23-27 GtCO2e até 2030".

O CAT examinou 15 compromissos, que representaram 64,5% das emissões globais em 2010 e 41% da população do planeta.

Estes níveis implicam que a meta global de 2ºC é "quase inalcançável".

A temperatura aumentaria "entre 2,9 e 3,1ºC em 2100", disse à AFP Bill Hare, do Climate Analytics, um dos quatro membros do consórcio CAT.

"Está claro que se a reunião de Paris se limitar aos atuais compromissos até 2030, manter o aumento da temperatura abaixo dos 2ºC pode se tornar uma meta inalcançável, sem falar no 1,5ºC".

Dos 15 INDC examinados, sete foram considerados "inadequados": Austrália, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Cingapura, Coreia do Sul e Rússia.

Seis foram considerados "intermediários": China, UE, México, Noruega, Suíça e Estados Unidos.

Apenas dois, apresentados por Etiópia e Marrocos, foram qualificados como "suficientes" e de acordo com a meta de 2ºC.

"Muitos governos que apresentaram seus INDC devem revisar as metas para o objetivo global e, na maioria dos casos, fortalecê-las", disse Niklas Hoehne, do NewClimate Institute, outro participante do consórcio CAT.

"Aqueles que estão preparando suas propostas devem garantir que o objetivo será o mais elevado possível", completou.

Os próximos países que devem apresentar os objetivos INDC são Índia, Brasil, Irã, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul, Tailândia, Turquia, Ucrânia e Paquistão, que totalizam 18% das emissões globais.