Topo

Robô pode evitar ataques de estrelas-do-mar na Grande Barreira de Corais

Recife de coral apresenta sinais de perda de coloração em Halfway Island, na Grande Barreira de Corais da Austrália, em imagem feita pelo Instituto Australiano de Ciências Marinhas, em 2014 - Ray Berkelmans/Instituto Australiano de Ciências Marinhas/AFP
Recife de coral apresenta sinais de perda de coloração em Halfway Island, na Grande Barreira de Corais da Austrália, em imagem feita pelo Instituto Australiano de Ciências Marinhas, em 2014 Imagem: Ray Berkelmans/Instituto Australiano de Ciências Marinhas/AFP

Cintia Baio

Colaboração para o UOL

08/10/2015 06h00

Um robô autônomo projetado para aplicar injeções letais é a nova aposta para exterminar uma espécie de estrela-do-mar, conhecida como coroa-de-espinhos (acanthaster planci), responsável, sozinha, pela destruição de 40% dos recifes da Grande Barreira de Corais, na Austrália.

A Grande Barreira australiana é a maior faixa de corais do mundo, composta por mais de dois mil recifes e quase três mil quilômetros de extensão. Ela está localizada entre as praias do nordeste da Austrália e a Papua Nova-Guiné e pode ser vista do espaço. Trata-se da maior estrutura do mundo feita exclusivamente por organismos vivos.

O assassino mecânico, que foi batizado de COTSbot, foi criado por dois pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, e a expectativa é que ele consiga vasculhar o recife por até oito horas em cada mergulho. Uma vez que ele detecta a coroa-de-espinhos, o robô usa um braço estendido para administrar uma dose letal de sais biliares na estrela-do-mar. Espera-se que ele consiga disparar mais de 200 tiros letais por mergulho.

Matt Dunbabin (à esq) e Feras Dayoub, criadores do robô COTSbot - Queensland University of Technology / Erika Fish - Queensland University of Technology / Erika Fish
Matt Cumbarim (à esq) e Feras Dayoub, criadores do robô COTSbot
Imagem: Queensland University of Technology / Erika Fish
Para treinar o robô, pesquisadores usaram milhares de imagens desse tipo de estrela feitas na própria Barreira de Corais e outras do Youtube. Segundo Matthew Dunbabin, um dos criadores do COTSbot, o treinamento garante que o robô consiga detectar o alvo em ambientes com diferentes visibilidades e alterações de cores, como acontece no fundo do mar, dependendo da profundidade.

Se o COTSbot não tiver certeza de seu alvo, levará uma foto do objeto para ser posteriormente verificada por um humano, que realimentará seu banco de memória. “Estamos 99% confiantes de sua precisão. E se ele tiver qualquer dúvida, tira uma foto e envia para que nós façamos a confirmação”, explicou Dunbabin.

Depois de seis meses de treinamento intensivo, o COTSbot passou em seu primeiro teste na Baía de Moreton. O próximo desafio é ver como ele navega em correntes mais fortes e em terrenos complexos em mar aberto. A expectativa é que ele esteja operando em sua total capacidade no recife no início de 2016.

A vantagem do robô em relação aos mergulhadores é que ele pode ficar no local por longos períodos de tempo e em todas as condições meteorológicas. Embora esse tipo de estrela-do-mar tenha alguns predadores naturais em várias partes do mundo, a intervenção humana é a única maneira de tentar conter o crescimento desenfreado dessa população na região da Grande Barreira de Corais.

Ameaças

Nos últimos 40 anos, três surtos de coroa-de-espinhos tiveram um grande impacto sobre os recifes que compõem a Grande Barreira de Corais. “Estima-se que há entre quatro e 12 milhões de estrelas-do-mar na Grande Barreira e cada fêmea produz cerca de 65 milhões de ovos em uma única gestação”, disse Lisa Bostrom-Einarsson, principal autora de um estudo sobre o tema feito pela James Cook University, em entrevista ao jornal inglês The Guardian.

Os pesquisadores da James Cook University também estão empenhados em acabar com a praga das coroas-de-espinho. Ensaios realizados na universidade mostraram que uma simples dose de 20ml de vinagre pode matar uma estrela-do-mar em 48 horas.

Atualmente, os mergulhadores (e o robô) precisam injetar de 10ml a 12 ml de bílis de boi em cada estrela-do-mar para matá-la. A bílis é cara, requer várias autorizações e necessita de correta concentração. Já o vinagre é facilmente encontrado nos supermercados e pode ser uma solução para o futuro.