Água ameaça as grandes cidades, mesmo se temperatura subir mínimo esperado
Grandes cidades costeiras como Rio de Janeiro, Xangai, Mumbai, Hong Kong ou Buenos Aires estão sob ameaça da alta do nível do mar, inclusive com um aumento limitado a 2 graus centígrados da temperatura global, segundo relatório publicado no domingo (8).
Com 2º graus de aumento, a alta cobriria territórios povoados atualmente por cerca de 200 milhões de pessoas, diz o relatório do instituto de pesquisa Climate Central, publicado a três semanas da conferência do clima de Paris (COP21).
"Um aquecimento de +2ºC [o grande objetivo da conferência de Paris] representa uma ameaça existencial a longo prazo para inúmeras cidades e regiões litorais", explica Ben Strauss, um dos autores do documento.
É possível conter o fenômeno reduzindo drasticamente a emissão de gases de efeito estufa, explica o cientista. "Mas ainda teremos muitas possibilidades" para atuar, ressaltou.
O estudo, que não leva em conta a evolução demográfica nem a eventual construção de infraestruturas como diques, aponta que é difícil determinar em qual velocidade o nível do mar aumentará, seja em 200 anos (o que é pouco provável) ou em 2.000.
Em qualquer caso, se as emissões continuarem ao ritmo e causarem aquecimento do planeta de 4°C, o nível dos oceanos subiria 8,9 metros em média, provocando a submersão de áreas onde 600 milhões de pessoas vivem atualmente.
Se o aumento for de 3°C (cenário resultante caso sejam cumpridas as promessas feitas pelos estados até agora para reduzir as emissões), o aumento do nível do mar será de 6,4 metros, cobrindo áreas onde 400 milhões de pessoas vivem hoje.
Com 2º de aumento, a alta seria de 4,7 metros em média (entre 3 e 6,3 metros) e afetaria menos da metade das pessoas. Caso o aumento seja limitado a 1,5°, como pedem os estados insulares, os mais vulneráveis, a água subiria 2,9 metros e afetaria 137 milhões de pessoas. Veja simulações em mapa interativo.
Brasil, entre os 20 primeiros
A China é um dos países que seriam mais atingidos porque com um aumento de 4°C, a alta do nível das águas afetaria um território habitado hoje por 145 milhões de pessoas, número que ficaria pela metade com um aumento de +2°C.
Entre os 20 países mais afetados, o estudo cita países como a Índia, Bangladesh, Vietnã, Indonésia, Japão, Estados Unidos, Filipinas ou Brasil, e cidades como Hong Kong, Calcutá, Daca, Jacarta, Xangai, Rio de Janeiro ou Buenos Aires.
No Brasil, a área de cerca de 16 milhões de pessoas seria afetada por um aumento de 4°C, enquanto um ajuste de +2°C significa uma redução de 7 milhões de afetados brasileiros (45%).
No primeiro caso, 24% da população do Rio de Janeiro e de 19% da população da capital da Argentina, Buenos Aires, sofreriam o impacto de uma subida do nível do mar, em comparação com 13% e 8% respectivamente, se o aquecimento ficar limitado em +2°C.
'Estudo sólido'
As projeções levam em conta a expansão do oceano quando aquecido, o derretimento das geleiras, mas também a degradação das calotas de gelo da Groenlândia e da Antártida, irreversíveis a partir de um determinado nível.
De região para região, a subida das águas não será igual. "Na maioria dos casos, pode levar até vários centímetros por século, mas os deltas e áreas urbanas" são mais vulneráveis, especialmente porque são menos protegidos por sedimentos.
Vários pesquisadores contatados pela AFP sublinharam a validade deste estudo, que se baseia principalmente em dados sobre o nível do mar fornecidos por satélites.
"Há alguns erros em determinadas áreas, mas foi o melhor que pode ser feito com os dados disponíveis publicamente", acredita Steven Nerem, da Universidade do Colorado, sobre a metodologia do estudo.
Jean- Pascal van Ypersele, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), evocou "um estudo sólido".
Para o oceanógrafo Ben Marzeion, da Universidade de Bremen (Alemanha), o estudo mostra que "o adiamento de medidas pode gerar um fardo muito grande para as gerações futuras".
Temperatura recorde
Desde a Revolução Industrial, a temperatura do planeta aumentou 0,8ºC, um nível inédito gerado pelo gás procedente principalmente das energias fósseis.
A comunidade internacional, que estabeleceu o objetivo de limitar a 2ºC o aumento da temperatura do planeta, relativos à época pré-industrial, vai se reunir em 30 de novembro em Paris para tentar alcançar um acordo universal sobre o assunto.
A poucas semanas deste encontro, a publicação de relatórios como este se multiplica. O Banco Mundial alertou em um estudo difundido no domingo que o planeta terá 100 milhões de pessoas a mais vivendo na pobreza extrema em 2030 caso o impacto do aquecimento global não seja limitado.
Ben Strauss, co-autor da pesquisa da Climate Central, estima que é "possível mudar, tanto a economia como a política". "Algumas reuniões históricas traçaram fronteiras territoriais. A COP de Paris afetará a fronteira global entre terra e mar".
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