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A difícil tarefa de cuidar da vida amorosa de pinguins em cativeiro

"Um dia esse pinguim gosta daquele e, no dia seguinte, eles não estão mais se falando. Eles flertam e tentam conseguir atenção ou fazem bullying e mexem com outro pinguim", diz uma ex-tratadora - Colby Katz/The New York Times
"Um dia esse pinguim gosta daquele e, no dia seguinte, eles não estão mais se falando. Eles flertam e tentam conseguir atenção ou fazem bullying e mexem com outro pinguim", diz uma ex-tratadora Imagem: Colby Katz/The New York Times

Christina Cooke

Em Greensboro, Carolina do Norte (EUA)

02/12/2015 09h18

Quando, em abril deste ano, os pinguins Derek e Geirfugl ganharam seu próprio espaço, os tratadores do Centro de Ciências Greensboro se perguntaram se eles gostavam um do outro o bastante para levar seu relacionamento adiante.

Derek estava mais interessada em interagir com seus tratadores humanos do que com outros pinguins. E quando começou a flertar com Geirfugl, inclinando-se na sua direção e balançando a cabeça para frente e para trás, o macho não demonstrou interesse.

No meio de setembro, no entanto, o relacionamento começou a ficar mais amoroso. Em uma tarde recente, eles se aninharam um ao lado do outro em um caixote de plástico -- um ninho contendo dois ovos.

"Geirfugl é na verdade um bom parceiro. Ele coletou tudo para o ninho. E está sendo muito protetor com ela", afirma Shannon Fletcher, tratadora do centro de ciências.

Na natureza, os pinguins africanos, que vivem nas costas da África do Sul e da Namíbia, escolhem seus parceiros de um grupo de milhares e se casam para a vida toda. No cativeiro, o número limitado de colônias -- e a necessidade de perpetuar uma espécie que seja geneticamente diversa -- torna a intervenção humana necessária.

A população de pinguins africanos diminuiu mais de 60 por cento nos últimos 30 anos, e a espécie hoje é considerada em perigo de extinção. A Associação de Zoológicos e Aquários administra um programa de "sobrevivência das espécies" entre as quase 50 instituições com colônias de pinguins africanos, incluindo este centro de ciências.

Os cientistas recolhem informações genéticas de mais de 800 aves em todo o país e fazem recomendações de cruzamento baseadas em quais são menos aparentados. As instituições mantêm "livros genealógicos" que rastreiam as informações e montam planos de transferências e cruzamentos.

Uma das mais novas instituições a entrar no programa, o centro Greensboro começou sua colônia de pinguins -- hoje com 17 aves --– há apenas dois anos. O que acontece, porém, é que a ciência que guia o plano é muito clara, mas as dinâmicas do grupo de pinguins não são.

"Um dia esse pinguim gosta daquele e, no dia seguinte, eles não estão mais se falando. Eles flertam e tentam conseguir atenção ou fazem bullying e mexem com outro pinguim", explica a ex-tratadora Carmen Murray.

Como é raro que as preferências dos pinguins correspondam exatamente ao que diz o plano de manejo da espécie, os tratadores são responsáveis por administrar a vida amorosa das aves, em geral tentando gentilmente convencer uma delas a se interessar por outra, enquanto mantêm vários parceiros em potencial distraídos.

Cruzar pinguins saudáveis é uma ciência e uma arte, afirma Steve Sarro, curador do Parque Zoológico Nacional Smithsonian e coordenador do programa da associação zoológica dos pinguins africanos.

"A ciência está nos remédios e na nutrição, e a arte está nos tratadores, nas instituições, em conhecer os animais. Você tem que conseguir refinar sua colônia para tirar o melhor deles", explica ele.

Terminado em junho de 2013, o recinto de vidro dos pinguins no centro de ciências de Greensboro contém uma piscina com 35 mil litros de água contra uma parede de pedras de granito falso. Os pinguins vivem uma vida de novela, segundo os tratadores.

Depois que Geirfugl se aproximou de uma fêmea chamada Kaapse, por exemplo, o casal levou a nidificação longe demais e começou a acumular em seu ninho pedras da exposição -- mais de 50 quilos --, esmagando alguns ovos. Depois que os tratadores os colocaram em outra sala com um ninho e algumas pedras simbólicas, eles se transformaram em ótimos pais.

Nesta temporada, Kaapse e Tux, duas fêmeas, resolveram se unir ao invés de se interessar por machos, porque seus antigos parceiros estavam em relacionamentos designados pelos tratadores com outras fêmeas. (Pouco se conhece sobre as preferências de gênero entre os pinguins; no entanto, é sabido que os albatrozes estabelecem casais do mesmo sexo.)

Quando o par de fêmeas começou a competir com Apollo, o antigo parceiro de Tux, e sua nova esposa por um ninho, os tratadores deram um novo às fêmeas, rezando para que isso impedisse Tux de sabotar o atual relacionamento do ex.

E há os amantes apaixonados Guinn, um macho com genes muito bons, e Jumoke, cuja genética não é tão boa. Mas Guinn não liga muito para isso.

"Mesmo quando Guinn e a parceira que lhe foi designada estão bem, ele sempre acaba voltando para a Jumoke", conta Carmen. Guinn seria melhor para a espécie se abandonasse Jumoke, claro, mas ele não consegue.

Glenn Dobrogosz, diretor executivo do centro de ciências, descreve a administração das aves como uma questão de priorizar o bem-estar de longo prazo da espécie sobre as preferências individuais dos pinguins.

"Algumas pessoas diriam que não é justo ou bacana, porque você está destruindo uma ligação que foi formada previamente, mas não estamos vendo repercussões negativas", afirma Dobrogosz.

"Os novos pares parecem felizes. Eles estão se dando bem, construindo ninhos juntos, cooperando, revezando-se na hora de chocar os ovos. No final, daqui a dez, 20, 30 anos, será melhor para a espécie."

Apesar dos desafios interpessoais, os pinguins têm tido muito sucesso como reprodutores. Todos os sete casais designados para cruzar no ano passado produziram filhotes saudáveis.

Na natureza, no entanto, os pinguins africanos continuam a enfrentar ameaças, a maioria vinda das pessoas. O uso de guano como fertilizante tirou dos pinguins o material com o qual eles fazem suas tocas. Vazamentos de óleo em 1994 e 2000 mataram 30 mil deles apesar dos esforços de reabilitação. E a pesca comercial excessiva força esses animais a nadar para muito mais longe para conseguir comida.

"Cento e cinquenta anos atrás, havia milhões na natureza. Agora temos cerca de 18 mil pares adultos", afirma Sarro, do Smithsonian.

Na primavera passada, a associação zoológica lançou uma campanha focada na restauração de populações de animais selvagens a níveis saudáveis. Por causa da sua vulnerabilidade, os pinguins africanos estão entre as quatro primeiras espécies escolhidas.

A associação espera que as colônias em cativeiro atuem como embaixadoras de seus correspondentes selvagens, conseguindo apoio público para os esforços de conservação.

De volta ao centro de ciências, Derek e Geirfugl esquentam seus ovos no fundo do recinto enquanto outros pares de adultos sentam em seus ninhos. Dois pinguins nascidos no ano passado, Jordy e Keuchly, estão parados juntos sobre uma pedra acima da piscina, limpando as penas da face um do outro.

"Os filhotes andam definitivamente praticando. Mas eles entraram nessa fase adolescente estranha. Ainda estão tentando entender as coisas", explica Shannon Fletcher, a tratadora.